Senhorita Mariana

Por Moara Brasil

Eu tenho medo, tenho medo de ser assim...que nem aquelas importantes senhoras que se tornaram grandes escritoras, ou que se transformaram grandes pessoas no ramo do trabalho delas, e que por terem sido reconhecidas pelo seu talento esqueceram do coração, ou qualquer coisa tão humana que sentir a vida.A mulher que acorda ao lado do marido e não o sente, ele é apenas um estranho ao seu lado. A mulher que sente desejos por outros homens, homens que ela desejava ter sempre ao seu lado. E não aquele marido intelectual, de óculos, interessante, mas que só é interessante pelas palavras. Problema... não são apenas as palavras inteligentes que sustentam um casamento. Sexo também. Desejo também. Sexo e desejo tão importantes quanto o leite que se toma todos os dias. Aquela vontade de chegar no quarto e ficar logo peladona pro teu marido. Na verdade, acho que tenho medo do casamento. Essas coisas oficializadas...esses contratos. Contratos me assustam...quando fazemos um contrato com um empregado, as consequências de uma demissão podem ser catástróficas.

Eu tenho medo de ficar que nem aquela mulher, que a 24 anos está ao meu lado. Uma mulher que eu admiro muito...mas é infeliz. Ela tem um homem, um homem que nem ela mesma sabe se ainda quer. Ela diz que não quer, ela não quer mesmo, disso não tenho dúvidas...Porque uma mulher iria querer ainda o primeiro e único marido?Eles são separados, mas ele é pai dos filhos dela. E o pai que vive no teto dela. O que ela quer mesmo é o vizinho, o vizinho bonitão que tem namorada...Ele quer ela também.

São amigos, mas se prendem nos seus desejos carnais por medo de algo.Se vêem todos os dias, mas até os olhares mais íntimos são tímidos. Ela sonha com ele, ela sonha com sexo. Mas ela só sonha, e ele também. A mesma mulher que eu observo tem outros amigos, ela só tem amigos praticamente. Um deles telefona pra ela, dele eu gostava muito, apesar de ser muito malucão...mas ele sabia fanaticamente tudo de Beatles, tudo de Pink, tudo e um pouco mais. Outro homem, amigo dela de tempos, vem visita-la..Eles saem juntos, e ainda não voltaram até a hora em que estou redigindo esse parágrafo. Essa mulher é linda, se eu fosse homem me apaixonaria. Começando pelos cabelos “woodstockianos”.

Eu tenho medo de me tornar essa mulher, muito medo.

Mas também, tenho medo de me tornar uma cega. Ou, melhor dizendo, uma com bons olhos para a visão, mas sem amor por si mesma. Aquela que só fica feliz na presença do outro, e que prefere chorar pelo marido, triste e fudida, ao voltar a ser sozinha como antes. Não sei qual a menos torturante.

Talvez esse medo de ser qualquer uma delas é que me faz mais ter medo de ser eu mesma, uma covarde. Pois o medo é covardia, e ele pode fazer com que eu não viva nada dos meus verdadeiros sentimentos.

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