E a gente vai levando..
Por Selene RIlke
Hoje, aqui sentada na minha cama, ao lado de quatro pessoas dormindo no mesmo quarto que eu percebo que realmente se nada der certo aqui nessa SELVA DE PEDRA pelo menos ando aprendendo muitas coisas curiosas.
Descobri que sou uma chorona, ainda mais quando estou com tensão pré-menstrual. De repente começo a chorar que nem uma louca. Uma bipolar. Mudo de opinião fácil, quero desistir de tudo..,acho o mundo uma falta de vergonha tão grande para eu tolerar. Porém, tudo passa. E começo a sorrir de novo quando o namorado pede um beijo e um cafuné.
Descobri que eu sou tão chata e cara de cu com cãimbra quanto a minha querida mãe. Tudo o que eu odiava nela eu reproduzo em carne e osso aqui em São Paulo. Não tenho paciência com as pessoas pequenas. Não tenho paciência com nada, praticamente, nem com ninguém. Tornei-me a figura da senhora baixinha e chata, que responde curta e grossa "Não enche!", fazendo uma cara de reprovação para tudo. Cansei!
São Paulo me deixou um pouco mais caseira (por mais incrível que pareça!). Talvez seja a falta de grana, mas isso não é desculpa. Afinal, aqui tem muita coisa boa de graça. Uma delas é ouvir chorinho no Sesc em plena Avenida Paulista, avistando lá de cima todos os enormes prédios. Ou assistir Cordel do Fogo Encantado em Anhangabaú. Ou morar do lado da Augusta e com vários gays e gente da moda, sempre rola uns Vips para tudo.
A grande merda é que arrumei um namorado que mora na mesma república que eu, ou seja, minha vida agora é acordar ao lado dele, dormir ao lado dele sair também com ele. Nesse friozinho a preguiça aumenta mais ainda, é desculpa para eu não sair algumas vezes. Mas sempre rola uma saídinha, nem que seja só para andar pelos bares pé sujos da Augusta, que sempre tem uma boa música.
Descobri que até sou organizada. Morar longe dos pais nos faz cobrar de nós mesmos uma organização para as coisas fluírem melhor. Faço minhas compras com uma calculadora na mão, economizo sempre. Descobri que algumas marcas baratas são melhores pro bolso do que as caras, e acaba sendo tudo a mesma sensação.
Se antes eu já cozinhava, aqui eu cozinho mais. E talvez até melhor, qualquer coisa posso abrir um restaurante por aqui mesmo com sabores exóticos da Amazônia...os paulistanos estão adorando todo o segredo dos meus temperos (muito alho queridos!).
É, entre lágrimas e gargalhadas, a gente vai levando e se acostumando, nem tudo é tão difícil quanto parece.