Librianas sem ponderação

Eu não fui feita para ser entendida. Eu nem tento que me entendam, amiga.” Acho que essa foi a frase mais objetiva que já ouvi da Lorena, a mais certa. Poucas pessoas conseguem alcançar esse patamar de entendimento sobre si mesmo. E eis que a “bicha” numa caminhada na hora do almoço a caminho dos nossos respectivos trabalhos, se define, quer dizer, se define, não, se expande dessa forma.
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Eu demorei muito tempo e até hoje tenho essa dificuldade, de entender que nem sempre vou me fazer entender. A compreensão é dádiva. É muito bom você olhar nos olhos de quem ouve o que está sendo dito e sentir-se compreendido. É quase como um pedido de casamento, é um convite a compartilhamento de idéias, de memórias, de momentos. É sentimento de unidade, quer seja duradouro ou não.



Aceitação vem de si, tem que vir. Dentre as muitas coisas que quero ensinar a meu filho, essa é uma delas: aceitar a todos, aceitar as diferenças para que então, se aceitar.
Ser confiante é o primeiro requisito para defender seus ideais, mas daí sem humildade, sem o praticar a aceitação ao próximo, nada mais será que vaidade. Saber a hora de baixar a cabeça também é bom. O livre arbítrio é pleno: tirano ou cidadão do mundo? Você escolhe.

Essa amiga a anos me ajuda nas coisas mais variadas, nas coisas de amizade, nas coisas de vida, da minha e da dela. A vida dela me interessa por muitos motivos, mas o maior deles é porque cada caso é uma crônica, cada caso é mais bizarro que o anterior. Ela me conta tudo. Ou quase tudo. Não me importa na verdade o quanto ela conta, mas é como ela descreve e principalmente, como ela vive sua vida. Lorena é aceitação plena. Intensa e libriana, assim como eu.



Da amizade dela, eu sugo isso: entendimento. Ela me ensinou a me entender, a entender os outros, a aceitar o que me oferecerem. Minha mãe costuma dizer que cada um dá o que tem. Se te dão muito amor, é isso que a pessoa tem em si. Então, se me dão incompreensão, incompreendidos serão. Ela me dá amizade, me dá amor, me compreende tanto que eu sinto-me na obrigação de entendê-la.
Todo mundo merece ter alguém assim na vida, alguém de “alma livre”. Odeio gente frígida, que não sente prazer em viver e chegar ao orgasmo da vida, intensamente, todo dia.

[ Texto escrito em maio de 2007 ]

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Se perdeu por aí...

Por Moara Brasil

Como estás tão suja e abandonada por aí, querida Lucia Luma. Jogada e embriagada pelos cantos, esquecida por aqueles que você pensa que a amam. Estás sempre usando essa indumentária antiga, velha e rasgada. A mesma imagem, a imagem explícita do seu fracasso.

O que aconteceu contigo? O que aconteceu com aqueles planos?E essa vontade se ser mais, com elegância, escondeu-se em algum buraco pelo asfalto?

Estás passada, e todo mundo pisa em ti. Estás um lixo, e te esqueceram de colocar na porta de casa.
Ei...vestistes a camiseta do lado avesso outra vez, vou ter que repetir?

Estás se afundando numa rotina viciada, são as mesmas músicas...mude de disco, por favor.
E cada dia que você leva, quando te observo, as minhas percepções pioram em relação a essa tua imagem.

Você fede a fracasso, miséria, despudor e álcool, o odor contaminou as minhas narinas. Ah, mude esse disco!

Mas eu não consigo ver uma solução imediata, acho que você vai se perder por aí junto com todos esses embriagados. Eles não sabem nada, só vivem. Perderam a noção de tempo e desse espaço. Estão ficando velhos, cheio de olheiras, cabelos mal tratados, unhas sujas e dentes cariados. Cada vez mais ignorantes de sua condição lamentável. Ah, nem eles querem mais dançar contigo! Pois todos dançam pra si mesmo, sem ouvir a música. Apenas se movimentam e vivem freneticamente, mas estão todos cansados.

Tu estás doente, e não percebes. Não tem mais plano de saúde, nem dinheiro para comprar remédio. Você é fato, você é nóia. Apagaram as luzes e fecharam as portas. Vá embora minha querida, minha triste e amarga cidade.

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É dele

Por Lora Cirino

O maldito coloca aquela música, que é a cara dele, e que por meses se torna a tua cara e tu juras que é tua preferida. Coloca a música na hora que tu não sabes o que és ou o que é ele, que a diferença entre dor e prazer é ínfima. Sabe aquela hora que tens certeza que Deus é sublime? Porque pra encaixar tão certinho pêlo grosso com pêlo fino, só pode ser. Pra juntar pele áspera com pele sedosa, deixar as temperaturas perfeitas e encaixar tão bem as coisas, só pode ser sublime. E a música lá rolando.
Ele sabe que pode e gosta e tu também gostas, é bom ser dominado, até porque tu amas tanto ele quanto a dominação. O ruim é saber que a música não é tua, é dele. E que daqui a um tempo, nem sentido mais terá.
O que fica é só aquele cheiro, gosto e som, que mesmo ouvindo daqui a anos, na hora te levará de novo pra aquela cama, por segundos. Porque os sentidos entendem e não deixam esquecer, mesmo que tu disfarces pro mundo e todos eles acreditem. É mentira!

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Lembranças da querida velha

Por Moara Brasil

A lembrança mais antiga que tenho de ti, querida velha, é lá do Marex, quando eu cheguei de Santarém com a mamãe e meus dois irmãos.Devia ter uns 6 ou 5 anos, em 1989, faz muito tempo, lembro perfeitamente da mamãe carregando o Nelinho e segurando a mão do Pedro, e eu morrendo de medo de jatinhos. Papai era locutor de rádio, e não teve como voltar com a família para Belém. Lembro que deixei a minha boneca preferida, uma de borracha velha, a Julieta, e pedi por telefone que papai trouxesse de volta pra mim, mas espero até hoje por isso, ele nunca trouxe a Julieta. A boneca velha se perdeu por Alter-do-chão.

Mas o assunto é a senhora, querida velha Elba. Morei tanto tempo ao seu lado, e odiava ter que acordar sete horas da manhã todos os dias para ir a única Igreja do bairro, rezar com um bando de velhos enjoados todo o “Pai Nosso”. E depois, ainda ter que ajudá-la nas coisas da casa, brincar com os primos e dormir cedo, bem cedo. Na minha infância, a senhora foi inevitável, e marcou bastante. É porque eu a achava muito chata e rabugenta. Falava mal de sua personalidade forte e de velha, esse gênio intragável. E de reclamar sempre de algo, e de coisas que meninas naquela minha idade normalmente deixam de fazer, como escovar sempre os dentes ou assistir a programas impróprios pra mim e tomar banho nas horas erradas, segundo a senhora.

Na sua casa, querida avó, lembro de um cheiro de casa antiga e de mato muito forte, o jardim era bem florido, e naquela época, ele parecia enorme, gigante, quase uma floresta, eu e meus irmãos brincávamos naquela jardim e nos realizávamos terrivelmente. Morar no Marex era quase morar no interior, era muito longe do centro de Belém. Mas o mais legal era sentar naquele banco de madeira que ficava no portão da casa, sentar quando o sol estava indo embora e a lua dava boas vindas. E olhar para o asfalto que ficava pink com as flores de jambos e aquelas sementes vermelhas.

Da cozinha, recordo perfeitamente da canja de galinha e de uma sopa de mocotó que a senhora cozinhava muito bem. Talvez seja por isso que eu não resisto a uma canja até hoje. Eu amava. Nossa....também lembro de uma feijoada com ovo frito e carne assada, mais alface e arroz. Hoje, também meus pratos prediletos. Uma delícia.

Quando acordava cedo para ir na padaria comprar pão quentinho, a melhor parte era tomar café contigo sempre reclamando com voz de velha “não fura toda a margarina com a fáaaca menina”, “não coloca tudo isso de chocoláaate”, “ta pensando que nasceu em berço de ouro?”, “não quero ninguéeeeem comendo meu cream cracker ein”. E eu comia o cream cracker, escondido da senhora como vingança, e tu nem percebias, hahá.

O seu quarto era bem misterioso, sempre achei que por ali atrás daqueles armários barrocos escondiam-se espíritos sacanas. E quando olhava para o espelho do banheiro, mais o meu medo aumentava ao adentrar no seu quarto toda vez que tu pedias um maldito analgésico. Cheguei a ver alguns seres de branco por ali.

Eu recordo também daquele quadro imenso, acho que era peruano, de pano, com uns desenhos de cidade, não lembro direito. Cadê ele? Sei que marcou, pois ficava pensando “nossa, como alguém podia desenhar tudo isso com linha de crochê?”. Com medo de fazer qualquer pergunta pra senhora, fiquei na curiosidade e até hoje não sei a origem desse quadro.

Mas, a melhor parte de morar na sua casa era o Natal. Eu amava o Natal, não só pelos presentes, mas pela reunião com todos os primos, todos ainda muito crianças, rezávamos juntos e comíamos a melhor comida feita com amor de cada mãe, filhas da senhora.

Estou lembrando de tudo isso, querida vó, porque apesar da minha ausência na sua vida neste momento em que arrumamos desculpa para qualquer compromisso familiar, quero lembrar o quanto a senhora é importante. E que eu irei na fisioterapia contigo por essas semanas.

E, mesmo com essa sua cabeça de velha e teimosa, que eu tentei mudar e critiquei por muito tempo, quando a primeira frase que a senhora falava ao abrir a porta de sua casa era “tu aqui?Olha, eu não tenho comida ein!”, eu te amo e sinto orgulho de ser sua neta. Uma mulher que teve quantos filhos? Sabe que sempre me perco. É porque sou lesa mesmo. Dez? Para ter tudo isso só podias ser uma fortaleza. Criou-os de acordo com a educação que a senhora herdou de outras gerações, e criou-os na marra, na palmatória, e com uma caixinha cheia de tabus, chatices e dogmas religiosos de velhos. É, eu te amo.

Saiba que eu não admito essa doença quase “cancerígena” a qual se entregas. Essa tosse de velha que virou rotina que nos amedontra. Que não suporto o seu medo da velhice e da morte, e me pergunto, onde ficam os dogmas em que você tanto acreditava e tentou colocar na cabeça de todos nós, seus queridos netos? A velhice chega, a pele se acaba, o sangue definha, mas a mente não. A mente é eterna enquanto dure, queria que percebesses isso. E, desse um belo sorriso para a sua vida e à tudo que a senhora construiu nesses 80 anos. Porra velha, é muita vida! Conta aí. A senhora nasceu em plena Crise de 29 e ainda passou por guerras mundiais!Enfrentou ditaduras e a era digital. Não se entregue antes do tempo, sua família toda te ama e agradece por seres o ponto de união de todos nós. A querida vó do Marex, do natal, do café com pão careca e as rezas do dia-a-dia.

Por favor, volte a ser pelo menos aquela rabugenta que seus netos tanto temiam.

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Seu veneno não é cruel, pobre vampiro (a)!

Por Carol Barata

A inveja é magra e pálida porque morde e não come. Nem sei de quem é essa frase, mas para não perder o fio da meada da vontade de escrever, da vontade de falar de algo, não me darei ao trabalho de procurar no Google. E só para te deixar com mais inveja, é uma delícia sentir-se c0894289694bf42e1f1224e6726614921caaee07_massim como estou agora, com muita vontade de escrever, de viver e continuar assim, incomodando os outros.


Nunca vi tristeza incomodar. Pessoas são capazes de comer grandes e fartos pratos caros, nos restaurantes da moda, tendo como expectador uma criança que não come há alguns dias e ainda sim, serem incapazes de perder a fome ou se sentirem tocados por pouco mais que quinze minutos. Talvez a cesta básica com produtos de 5ª categoria que esse tipo de gente dá aos seus empregados no final de ano os faça ter a sensação de dever cumprido com as desigualdades sociais.


O que machuca e fere os de “alma bem pequena” é a felicidade e a melhor delas, a dos seres que conseguem passear por esse sentimento de forma leve. A meu ver, ser feliz, ser alegre é saber que não há A Felicidade e sim que há é um milhão de momentos, de pessoas, de acontecimentos, de chuvas, de conquistas, de palavras que te causam uma alegria forte, uma alegria tão singular que aquela sensação só pode ser chamada de felicidade.


Zuenir Ventura - jornalista que escreveu o livro (da coleção sobre os sete pecados capitais) “Inveja” – cita que inveja não é querer o que o outro tem. Isso se chamaria cobiça. Inveja é quando a pessoa passa a querer que o outro não tenha aquilo que você não pode ter. Em suma, quem é incapaz de ver o lado bom de cada derrota, de ver um recomeço para cada fim que há na vida se incomoda que você consiga. Esses pobres de espírito jamais passarão de magros e pálidos.


O que (ainda) assusta é que esse povinho é assim por opção. Eles optam por sempre terem comentários maldosos para os famigerados pseudo-bem-sucedidos, optam por apontarem o dedo para os outros e gastam preciosos minutos cultivando rancores desnecessários por terceiros que mal e parcamente conseguem sequer lembrar de sua existência. E sabe por quê? Porque os felizes, os que incomodam, são uns ferrados na verdade.


Isso mesmo! Como já diz o dito popular os coitados e incluo-me nessa lista, são ferrados e mal pagos. Estão cheios de contas a pagar, de problemas a resolver, com crises existenciais, de dilemas amorosos e algumas vezes até com problemas de saúde e continuam ali, vivendo. Preocupando-se com um dia de cada vez, matando um leão por dia e conseguindo colocar a cabeça no travesseiro lindamente.


Juro que tento puxar na memória um só dia que eu tenha desejado algo ou alguém ou alguma coisa a ponto de desejar que mais ninguém possua o meu objeto de desejo. Pode ser que tenha acontecido, pode ser que ainda aconteça até, mas até então, não me vem nada à mente. Talvez seja porque estou deveras preocupada com questões reais (de realidade e de reai$$ também) para alimentar sentimentos pequenos que não passam de frutos das mentes mais ociosas.


Eu sou publicitária, comunicóloga e por conseqüência, não só disso, é claro, falo muuuito. Adoro falar tanto quanto amo conseguir alcançar o tal silêncio, o meu silêncio interno. E aprendi nessa lida diária que quem fala demais, dá bom dia a cavalo. Quem fala demais, acaba fazendo propaganda. E propaganda, meu amor, é coisa séria. Deve ter briefing*, atendimento, brainstorm*, direção de arte*, redator, mídia* e produção envolvidas. Ou seja, propaganda é coisa de gente grande e deve ser paga.


Agora, se você opta por fazer propaganda de graça, se você é adeptA do velho boca a boca, tente pelo menos fazer bem feito. Crie uma fofoca das boas que tenha 10 % de verdade e deixe aquilo correr pela cidade que já é pequena. Envolva mais alguém que endoce suas doenças psicológicas, que goste dessas causas sem por que e dedique-se de corpo e alma a fazer isso dar certo. Mas faça direito, meu amor. Não jogue suas palavras ao vento porque geralmente, o tiro sai pela culatra.


Vai ser difícil ser como eu, mas ao invés de se limitar a tentar me intimidar com comentários maldosos sem sentido por que você não tenta só me superar? Prometo a você que não é difícil, benzinho. Mas comece agora, seja numa benzedeira, num psicólogo ou somente correndo atrás do seu objeto de desejo. Faça isso enquanto eu me ocupo com a vida, com a MINHA vida, ok?


BEIJOS CALOROSOS E ESPECIAIS PARA O (A) MEU (MINHA) FÃ, PORQUE AQUI TAMBÉM VALE A MÁXIMA QUE É SUA INVEJA QUE FAZ A MINHA FAMA.


MUAAAAAAH =o**********


* Joga no Google!

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Confidências do cego Narciso

Por Anna Carla Ribeiro

Ela me disse “sim senhor”. Saiu por aquela porta com serenidade. Esperei cinco minutos contados no relógio e não ouvi o som. Nada do barulho de gasolina velha em contato com o motor que o seu carro fazia ao dobrar a minha esquina, nem o som estridente do meu interfone que acordava a casa inteira mais a do vizinho, muito menos o meu antigo toque de celular. Ela sempre voltava.

Eu morria de rir das fraquezas dela. Entrava no quarto feito um tufão, me olhava com os olhos de uma criança somaliana e me perguntava por quê. Fingia uma superioridade que ninguém, além de mim, duvidaria ser natural. Então, de pirraça, eu a atacava. Eu sabia que ela era a vítima. Mas também sabia que era eu o juiz.

Quando saía levava consigo todo o ar. O ambiente passava imediatamente a sofrer as conseqüências da baixa pressão atmosférica. Mas ela sempre voltava, estarrecida e envergonhada pelo fim do seu teatro. Me olhava pelo canto do ombro com olhos de artifício e me absolvia dos crimes que eu nunca pedia perdão.

Ela tinha aqueles olhos de quem precisa ver o mundo sempre fulgurante. Sempre, sabe? Sempre faiscantes, como se as cores e as formas do mundo fossem se apagar e por isso queimavam. E eu tentava transmitir a paz que aqueles olhos tentavam por si só decifrar.

Ela falava sobre o futuro, o nosso futuro, e transpirava a poeira. E planejava tantas viagens, mas tantas viagens, que seus olhos reluzentes viajavam sozinhos para a tal da outra dimensão. E eu achava graça dela, sempre tão linda para os meus olhos, e sempre tão distante para os olhos de outrem. Eu sabia. Os olhos dela flamejavam só pra mim, só pra mim. E por isso me sentia o último rei dos Noldor na Terra-média.

Sempre se rendiam aos meus desejos. Era vício químico, físico e incorpóreo, daqueles de fazer o estômago pensar mais que o cérebro. Tanto brilhavam que ofuscavam o meu próprio brilho. E me faziam sentir inveja dos desejos que me provocavam, das delícias que me proporcionavam. Roubavam-me do meu próprio espelho.

Foi então que eu olhei pros lados e dei aquele sorrisinho denunciador. Era uma graça. Precisava colecionar globos oculares porque estava cego de tanto egocentrismo. Mesquinharia. Esqueci que por debaixo dos olhos dela moravam medos, anseios, seios. Malandro é malandro, né? Eu a olhava, e mesmo cabisbaixa, ela trançava seus braços nos meus e retribuía o olhar.

De tanto procurar, a perdi. Não só os seus olhos, como os seus mimos antes de dormir, o seu jeito de menina ao me dar bom dia, a sua preocupação com a minha demora. Eu perdi. Perdi os olhos de uma mãe, irmã, melhor amiga. Perdi a melhor amante e as suas brincadeiras de dentro do carro. Perdi o enroscar dos meus pés com os dela naquelas noites de chuva. Perdi porque sou um embusteiro bem nascido.

E agora vejo os seus olhos refletindo a leveza de uma pena. Que pena! Cintilam pra todos, pra tudo e pro nada, como se estivesse apaixonada por qualquer reprodução visual. E eu sinto a falta dos nossos finais de tarde felizes, do caminho que percorremos juntos, das praias, das ruínas. Sinto necessidade do mau humor que ela fica quando bate a fome e da minha falta de sensibilidade que sempre a faziam chorar.

Como me dói ver sorrisos brandos e olhares indecifráveis olhando o seu diamante, a sua leveza, o seu sorriso antes mesmo de dar aquele seu sorriso, de tirar o chapéu. Me dói porque a perdi pro mundo, pra tudo e qualquer coisa que possa vir a acontecer. E me deu tanta azia quando finalmente seus olhos cansaram e me disseram “adeus”, que os meus começaram a brilhar. De lágrimas, meu caro, de lágrimas.

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You´ve got a gift, baby!

Por Aimée.

Cresci ouvindo que cada um dá o que tem e foi assim que para mim, isso sempre me pareceu muito óbvio. Claro que cada um dá só o que tem, não é? E quando a gente quer mais, quer tanto, quer por demais que acaba pensando que a pessoa realmente tem algo a mais para dar e a vê dando um pouquinho de nada do que há em si para gente? Ainda não aprendi a lidar com essa situação. Nem quero.

Tenho o costume de entregar para os outros as verdades, de dá-las de presente em belas caixas finas com laços feitos por aquelas experts em embalagem, de balcão de loja de departamento. Eu remôo com carinho, com todo meu carinho, na minha imensa cabeça de amendoim qual a melhor forma d’eu dizer aquilo, a minha verdade, e pior, de que forma vou entregar de presente a minha verdade que espera a sua verdade.

Decido me adiantar e decido que é hoje, é agora e vou falar de qualquer jeito. Se estiver decidido, está decidido. Minhas verdades não voltam atrás... quer dizer, mais ou menos.

Chego perto tão pesada, mas tão pesada carregando tudo isso de verdades verdadeiras, absolutas em sentimentos puros, profundos, fulgazes e claro, profanos – porque é de carne vermelha e sangue quente e corrente nas veias que sou feita – que repouso no meio dos sorrisos falsos e da falta de assunto.

Meu presentinho foi te ver me tirando uma parte do fardo de carregar as minhas verdades. Tiraste de cima do monte aquela embalagem que embora menor, é a que tem mais efeito no todo de “presentes” que tenho para te dar: o início da conversa, a partir dali dependi de mim. Nem isso conseguiste aliviar.

Fui te dando uma por uma das minhas verdades, sentindo o vento tocar no meu rosto e gelar a minha alma. Eu sentia frio. E me deu vontade de ser aquele vento que também tocava o teu rosto, mas não te gelava. Deixava-te mais seguro, mais forte, inteiro, com olhar penetrante.

São poucas as vezes que falas sem olhar nos olhos, que mexes no cabelo sem que eu saiba que é exatamente aquilo que farás naquele segundo, que teus gestos não combinam com tua palavra e teu pensamento, e que ainda sim, seja tudo tão desconcertado, mas tão desconcertado do que deveria ser, assim como as tuas roupas, teu cabelo, teu palavreado, que é tudo tão desconcertante que combina, que tem unidade.

Só sei que ao tempo recorde de uma carteira de carlton red, uma coca-cola, duas águas e as cervejas que pediste para ti, a gente resolveu o que nem tinha solução. Expliquei-te por A + B que te quero, que já não me basta a insegurança de esperar tua ligação ou que já não quero mais fingir que meu cargo em tua vida é amiguinha.

Pedi-te em outras palavras que não me iludas, que não me deixes iludir, que não me cegues com essa tua unidade, com tua amizade, com as músicas perfeitas de bandas novas que eu já amo desde que ouvi a primeira vez e que estarei limitada a ouvi-las só contigo, só naquele carro.

Eu te dei todas essas minhas verdades ao vivo – e como me recriminaram quando eu disse que o faria assim, ao vivo – porque queria sentir o impacto que elas teriam em ti. Foi bom ver que causou apenas um leve desconcerto, que parecias já saber o que ouvirias o que falarias e o que sentias.

Para alguém que é tão dona das verdades e está acostumada a brincar com elas, como eu, foi como ficar pelada na frente de um bando de estranhos. Foi ver-te destrinchando cada passo que eu tomei, cada palavra que eu escolhi deferir para aquele momento.

Ao final da conversa, ao final do pagamento da conta, ao levantar-se de cadeias e no decorrer do caminho para o carro, para o “tchau, até logo, see you, so long” eu pensava que quando as minhas verdades não são cruéis para mim, não servem. As minhas palavras só me tocam se quem as escutar estiver com um para-raio bem em frente, porque daí elas vão... e vem. Com certeza, vem.

Então, só posso admitir que meus presentes foram feitos para mim. São eles que me trazem para o mundo real, que me dão esse tratamento de choque de te olhar hoje e em tão pouco tempo sentir-te um, sei lá, um meio que justificou o fim, uma curva, um atalho tortuoso, morno. Eu te olhei há alguns dias e assim te senti: morno. Nem frio, nem quente. Morno, assim como vômito. Acho que eu te vomitei de mim.

Aquela conversa nada mais foi que eu colocando o dedo na garganta e deixando a minha diarréia mental de mulher que tem cabeça de amendoim e provavelmente estava na TPM verbalizar tudo na mesma velocidade, intensidade e tempo que eu pensava. E porra, não é que funcionou?

O fora disfarçado de “foi só o momento errado que fez com que não déssemos certo” me rendeu um dia deprê, vários cafezinhos, um choro sem sentido, um porre, mais um choro de porre, um sapato esquecido no carro de um pseudo-amigo que tentava me beijar enquanto eu emitia um dialeto que traduzido seria “mas eu o quero pra miiiiim” e uma manhã seguinte de ressaca. E de muita risada. E de muuuuita liberdade porque te vomitei de mim.

Quem disse que não valia a pena eu embalar tão bem as minhas verdades para dar-te de presente? Primeiro pensei que me darias de volta algo que te sobrava, que era indiferença. Mas agora eu entendi esse quebra-cabeça. Eu sei, eu sei... sofro de LER: de ler-de-za.

Me deste foi esse todo que me faltava durante o tempo que te escolhi para mim, que decidi enrolar um pouco do meu corpo e da minha’lma na tua. Me deste o que me faltava, o que eu não encontrava no meu estoque de sentimentos. Obrigada. Me deste liberdade, baby.

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Como ficou difícil ser "pós-moderno", agora serei eterno

Por Moara Brasil

Como ficou difícil ser pós-moderno, definir tal palavra é complexo. Nem comunicólogos se entendem. Uns falam em hipermodernidade, outros falam em pós-modernidade. Como ficou tão estranho ser "pós" e não ser mais o tal moderno. Digital. Globalizado. Neotribos, novas modas, novas nóias.

Minha família uma vez estava em crise, descobri isso quando abri a caixa do meu e-mail no yahoo, havia uma discussão sobre as obrigações de casa que a mãe cobrava de nós, filhos. A conversa acabou com uma pergunta do caçula "Por que não estamos conversando pessoalmente? Isso me envergonha."

Casais brigam conversando em celular, e no mesmo espaço. Errado? Estranho. Pós-moderno. Complexo.

A criança solitária com seus jogos em rede, o vazio da jovem e a apatia social. Suícidio pela internet.

Como ficou difícil para todos nós aceitarmos essa transição, e transição é assim, dificil de compreender, dificil de engolir. Nunca vi uma transição tranquila, transições são complicadas, e geralmente explodem no seu ápice. Depois que a gente entende, depois que tudo fica tão claro. Essa fase que estamos passando, em que não aceitamos o que enxergamos, as gerações futuras irão compreender e darão um nome a essa nossa fase, qual seria? Futuroneidade? Não sei, eu não entendo dessa tal pós-modernidade. Só sei que é "pós" porque ainda não tem um nome, porque não é medieval, porque não é modernidade.

Como ficou difícil achar algo novo, o que ainda não foi criado. Hoje tudo é copiado? Ou apenas inspirado no passado. Se ficou melhor ser nostálgico? Se ficou melhor amar o passado? O que é mais gostoso? Somos o que somos pelas nossas referências, somos transformados pelo tudo já criado, hoje tudo recriado.

Deus está morto? Alegria geral? I-pod e tudo pode. Desfonfiança total! E mais o aquecimento global!

Calma.Não se desespere, não se tranque no quarto! Não invente depressões! Não fique preso na telinha, não se isole da sociedade! Não tenha medo, relaxa...é apenas a conteporaneidade.

Inspirada na aula da professora de Teorias da Comunicação.

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Procura-se amigo homem

Por Anna Carla Ribeiro

Sabe, acho que eu preciso de um amigo homem. Não que eu não tenha, muito pelo contrário, meus amigos são tão presentes na minha vida quanto as minhas fantásticas idéias geniais de adquirir novas amizades. É que eu preciso de alguém do sexo oposto novinho em folha pra contar o que os meus velhos amigos já estão carecas de saber: que eu odeio azeitona, que eu comia adoçante debaixo da mesa da vovó, que o meu nome tinha que ter sido Ágatha. Preciso de alguém para divulgar toda a saga desastrosa e irônica que é a minha vida amorosa. Preciso ouvir o som das gargalhadas dele ao saber que eu já namorei um “cabelo de samambaia” com cara de artesão de durepox e que ia me buscar de patins e moletom ao meio dia de uma segunda-feira em pleno sol escaldante de Belém do Pará. Preciso ouvir um “que idiota!” quando eu contar que aquele egocêntrico, baixinho, que me fazia querer ter a fórmula do desaparecimento quando dançava reggae, resolveu dar em cima de uma amiga (minha!) na frente de todos os meus colegas de trabalho. Preciso de ouvidos másculos para ouvir as minhas velhas piadas, as minhas novas crenças e o meu CD novo do Ludov.
Não, eu não estou com problemas. A cada dia que passa me sinto mais inspirada para dar aquele salto da cama quando acordo, mesmo sendo uma maníaca mal-humorada às 7 da manhã. Muito bem resolvida. Acho que pela primeira vez na vida estou bem comigo, com o meu começo de carreira bem-sucedido, com as minhas adoráveis companhias diárias, com os meus finais de semana, com o primeiro “eu te amo e tenho orgulho de ti” que pude ouvir do meu pai, com a minha barriga e meu cabelo. Eu realmente estou me sentindo foda por ter conseguido enterrar uma semente de velhas mágoas naquele quintal de fitas de cetim. E, sabe-se lá Deus porque, pude colher uma auto-estima forte e renovada, com aquele cheiro de eucalipto que surge pela manhã. Pela primeira vez eu não pretendo socar uma paixão na outra, como se a minha companhia me assombrasse mais que a própria solidão. Não, nada disso. Cresci, amadureci. Não tenho planos, nem amores, nem discussões, nem assuntos mal resolvidos. Não devo nada a ninguém e ninguém me deve nada. Quer dizer, me devem alguns trocados, mas deixa pra lá.
Preciso de um novo amigo justamente pra compartilhar este momento de pura alegria, porque me sinto feliz mesmo quando não tenho motivos. Preciso contar as minhas histórias, devaneios e ironias para ele anotar tudo mentalmente e me lembrar depois. Quero um amigo que seja só amigo, como os meus amigos. E então, surge a pergunta: porque Diabos eu quero um amigo e não um grande amor de contos de fadas?
Bom, primeiramente eu quero deixar claro que a cada dia que passa acredito mais no amor. Não estou passando por nenhuma fase traumática que tenha me feito desacreditar que existe, em algum cantinho escondido, o tal do homem da minha vida. Mas de tanta ansiedade, procurei-o em muitos outros, que nem de longe poderiam ocupar tal papel. Coloquei a carroça na frente dos bois e acabei me atropelando. O fato é que eu tenho 22 anos e cinco dias, uma tonelada de sonhos nas minhas costas e nem todos são destinados a tal criatura divina que irá me suportar pelo resto dos seus dias.
Confesso que tenho medo. Minha alma anda tão serena que estou fechada pra balanço. Me coloquei dentro de um baú e o lacrei com ferro fundido. Quero me curtir assim, pelo menos por um tempo, e uma nova grande paixão poderia estragar tudo outra vez, e me fazer roer as unhas que já estão até crescidinhas!
Tudo isso até eu encontrar alguém que faça valer a pena. Mas quem?!
Ando cansada dos malucos e de suas maluquices e bizarrices que em um primeiro momento me soam como engraçadinhas. É tudo uma questão de profundidade, ou melhor, de intimidade mesmo. Não agüento mais anarquistas frustrados, parentes do Che Guevara e todas as suas revoluções verbais entre um baseado e outro no quartinho dos fundos da casa da avó. Ora, cale-se! Quer combater o sistema? Então primeiro pare de ficar parado só dando um balão pela cidade feito o canguru da Radiolux e saia por aí mostrando o seu potencial e ganhando espaço neste mundo capitalista para expressar as suas opiniões. Esqueça o saco que não pára de ser coçado e vá procurar um emprego. Que o mundo é injusto e cruel, todos estamos carecas de saber. Mas eu é que não vou ficar careca de tanto arrancar os meus cabelos todas as vezes que algum ser utópico resolver passar a tarde inteira falando mal dos Estados Unidos, mesmo nem sabendo o que é CPMF. Sou muito pé no chão pra eles.
Se dos malucos, que já sou craque em lidar, eu tenho medo, dos boyzinhos eu tenho pavor. Antes eu era ruiva, com um ar de coadjuvante de filme Cult, que estagiava numa rádio alternativa. Nenhum deles me olhava. Hoje eu continuo tendo as mesmas atitudes, só mudei de emprego e pintei o cabelo de loiro. E então, eles foram se aproximando com seus uísques importados, suas baladas em boates com outras fêmeas clones do meu cabelo. E é justamente assim que eu me sinto perto deles, mais uma fêmea oxigenada parecida com outras milhares de fêmeas oxigenadas que passam a noite inteira sentadas numa mesa de bar sem qualquer expressão. São seres desconhecidos, indecifráveis pra mim. Duvido que eles me aprovariam bebendo um Johnny Black na boca da garrafa e dançando freneticamente em cima da cadeira junto com as minhas amigas frenéticas. Não, definitivamente sou muito doida pra eles.
Ainda tenho medo dos mais novos porque não tenho paciência pra ser mãe de ninguém. Os mais velhos, por sua vez, estão sempre com aquela expressão de que sabem de tudo e me enchem de medo. Tenho medo dos sem grana porque é um saco ter que pagar tudo sozinha, e pânico dos com grana pelo constrangimento de não pagar nada. Tenho medo dos artistas, fotógrafos e todos aqueles que conseguem passar três dias se alimentando de luz solar e ficam a noite inteira em postura de lótus contemplando a lua porque a lua é linda, a natureza é linda, viva Jah, os cosmos, os alimentos orgânicos e as práticas orientais.
E os críticos sabe-tudo, que não vão ao cinema porque falam mal de todos os filmes que não são do Almodóvar, discutem a madrugada em bares pré-históricos sobre a guerra da Bósnia e preferem a bunda da Hebe Camargo a da Juliana Paes? Eles criticam tanto tudo o que aparece diante de suas fuças carregadas de um espírito suíno que eu não consigo parar de criticá-los. São uns chatos de galocha, uns chutes no culhão, pés no saco. Ah, odeio críticas. Desses eu não tenho medo não, eu tenho é raiva mesmo!
Tenho medo de rapazes que marcam um primeiro encontro no cinema. Eu sempre fico sem graça, tropeço no lixeiro, me engasgo com a pipoca, vou ao banheiro no meio do filme retocar a maquilagem e quando volto, fico meia hora procurando a cadeira onde estava sentada. Eu travo demais. Já nos primeiros encontros naquele barzinho ultra desembaraçado, entre um chope e outro, me bate aquele medo de ir embora todos os meus medos e eu fico com pânico de começar a falar todas as asneiras que passam pela minha cabeça. Eu destravo demais.
Sobram então aqueles seres indefinidos que querem te conhecer no meio da festa e te olham nos olhos (do cu) porque acham que só porque você está se divertindo numa noite de sexta-feira depois de uma semana cheia de trabalho pesado, você está afim de onda ou deve estar na seca (nem preciso dizer o que sinto por eles). Tem também aqueles seres legais que já te conhecem, sabem dos teus gostos, defeitos e qualidades, e por isso mesmo dão aquele medo de encará-los de outra forma e acabar perdendo uma boa amizade.
Por último, tem os homens armários que sempre se esbarram em mim em algumas festas que eu vou pra reafirmar que não tenho preconceito. Eu tenho mais medo das fotos sem camisa e gel no cabelo que eles colocam no Orkut do que propriamente deles. Dos jornalistas, escritores, e todos aqueles seres charmosos envolvidos de alguma forma com a literatura, que bebem um chopinho, tiram graça do próprio intelecto e possuem uma lábia poderosa, ah, desses eu tenho medo. Medo de mim quando estou perto deles. Medo de esquecer todos esses medos que se multiplicam em outros milhares de medos e me tornar medonhamente apaixonada.
Ah não, não quero mais tantas náuseas enrustidas de novo. Procura-se um amigo homem, por obséquio.

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Uma boa velinha

Por Lora Cirino

Às vezes parece que em seis meses as coisas ficam iguais, estagnadas e até regridem. E às vezes parece que em seis meses você envelhece uns quatro anos, ou seria, amadurece quatro anos?
Eu me vejo hoje, uma mistura das minhas grandes amigas e da minha mãe, com certeza eu seria, pensaria, vestiria e teria outro cabelo se não fosse por elas e pelo liquidificador que nós sempre fomos.
Agora eu me vejo uma mulher que tenta lembrar quando parou de se chamar de menina nos textos e na vida, tem uma hora que fica meio ridículo e ilógico, como diria meu curso de memorização. Parece que também cansei de ter visual de maluca e cansei dos malucos, de gírias inventadas - de pá, de mano, de veio, de meu- de gente que não quer crescer, de tribos, de rótulos. Ai, como eu odeio rótulos.
De uma hora pra outra virei velha, chata, comecei a odiar festinhas que eu adorava, com pistas e banheiros sempre lotados e que sempre saem duas ou mais pessoas, fumaça, cansaço, como eu gostava disso? É um saco!
Me apaixonei por restaurantes, cafés, barzinhos charmosos, pessoas charmosas, que dividem uma conta e que valem cada centavo de conversa, companhia, beijo e cérebro.
Que chatice boa essa que me abraçou.
Ontem eu escutei do meu amigo/hair stylist. “é, mas naquela época ela se preocupava porque tinha barriguinha, tu não”. Eu disse a ele que hoje em dia eu tenho, mas nem por isso me preocupo tanto assim (veja bem, “tanto assim”, bucho safado), aí ele respondeu:”é, Lorena, mas agora tu és uma mulher e vê essas coisas de modo diferente”, engraçado, ele é uma das poucas pessoas que me chama de Lorena sem o peso de algum problema, pra grande maioria, é Lora. Mas isso não vem ao caso. O caso é que é verdade, comecei a perceber que hoje eu me aceito e até gosto. O fato de ser magra a vida toda, deixou de ser um problema, na infância e adolescência, eu era a magrela que ninguém olhava, sempre tinha uma pirralha torneada muito mais interessante, tive péssimos apelidos, tinha sardas, era branquela, hoje isso virou um ‘graças a deus’, porque eu como o que me der na telha e não faço idéia do que significam os números atrás das embalagens, me acostumei com as sardas e tem até gente que acha lindo, como pode? Continuo me achando uma mulher normal, mas aprendi que se eu gosto de beber cerveja, meu buchinho vai estar lá, e daí, não é mesmo? Aprendi que se meu cabelo nasceu castanho-sem-graça, minha (pouca) grana pode transforma-lo em loiro lindo. E aprendi principalmente que sempre vai ter alguém pra me achar muito gata, principalmente se eu tiver achando antes, sem me achar.
Como é bom se gostar, mesmo querendo mais todo dia, não entendendo sentimentos, mas amando pra caramba tudo que tem.

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Felinos

Por Moa

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Neste exato momento meu querido Frajola deve está na faca. Foi ontem, de madrugada, em que ele vomitou e caiu no próprio vômito sem mais nem menos, sem aviso prévio, sem dar um sequer miado. Foi levado para a veterinária, e lá eu soube que ele poderia estar com uma massa no rim que obstruia a passagem da urina para a uretra.

No exame de ultra-som, o Frajola não movia-se. Totalmente estático, apenas levantava seus olhos e dava miados tímidos. Eu sentia a sua dor só de olhar para aqueles olhos castanhos felinos. Doeu meu coração de uma forma meio estranha, meio fria, meio triste, meio angustiante. Segurei nas patinhas dele como resposta ao seus miados. Frajola é uma mistura de siames com persa, nasceu impuro, e herdou malditas impurezas. Essa doença é normal em felinos, ainda mais quando trata-se de um felino macho vira-lata.

Fico pensando o quando deve ser terrível ser um gato, ou um cachorro, ou qualquer espécie que não seja ser humano, ainda mais quando eles dependem tanto da gente. O Frajola poderia não estar passando por essa cirurgia se ele pudesse falar, pois a massa já se formou a dias, mas, infelizmente, apenas agora ele reagiu com sintomas. Apesar de que, ele conversa muito com a minha família. É isso mesmo, quando alguém chega da rua, lá vem o Frajola correndo como um cão e miando como se falasse "oi que bom que você chegou". Ou, quando a fome bate, ele se esfrega em nossas pernas, miando irritadamente. E se deseja apenas um cafuné, mia olhando pra gente e estendendo a cabeça, um miado meio dengoso, bastante carente.

Como é pequeno um rim de um gato, como delicada deve ser essa cirurgia. Quanto talento alguém que entenda disso deve ter no manuseio de pequenos aparelhos. O veterinário disse que vai ter que raspar a massa lá por dentro, e se não der certo, talvez castre o pobre do gatinho.

Eu já perdi um cãozinho uma vez, e foi tão rápido. O Luan adoeceu, foi pra clínica e de manhã faleceu. Fiquei revoltada, não acreditava, achei que aquela clínica havia matado-o. Chorei dias, fiquei em depressão, era apenas uma garotinha de 8 anos que amava aquele pequeno filhote de "Rasque Siberiano".

Não sei o que poderá acontecer, não sei o final dessa história, apenas sei que a minha outra gata, a Garfilda, está calada e triste, ela me olha esperando uma explicação minha pelo Frajola não está ali ao lado dela, e eu não sei o que falar. Ainda mais que é de sua prole e grande companheiro de sua vida, a gatinha sente saudades. Sentiu do Mac quando ele foi embora, e agora pergunta "Cadê meu Frajola?". Mas acho que não preciso dizer nada, pois só pelo silêncio ela já deve ter entendido toda a história.

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Cego demais para ver (-me).

Por Aimée.

Sabe o que me irrita mais do que não te ter? Viver com essa sensação de que não devo. É... não devo te ligar, não devo te encontrar, não devo querer saber de ti, não devo saber com quem estás ou o que fizeste. Não, não e não. E todos os deveres são negativos. Odeio me sentir negativa e se tem algo que me irrita mais do que não poder te ter é essa sensação horrível de limitação.

Vem-me uma vontade louca de saber se está tudo bem no teu trabalho ou se aquela avalanche de problemas pelas quais te vi passar melhorou ou piorou. E aí, eu sofro por longuíssimos cinco minutos porque quero ser forte. Ora merda, eu sou forte. Quem disse que não sou?

Ninguém me viu rezar baixinho, apertando os olhos e pedindo para que o teu anjinho da guarda te guarde, te ilumine e te faça sumir dos meus sonhos, dos meus desejos, dos meus anseios. Ninguém sabe. Então, eu sou forte.

Eu que sou bem durona arrisco e pergunto por ti. Mas é só porque eu sou cool, descolada, moderninha e ah, nada demais. Quem ousaria pensar o contrário? Afinal, eu consigo ser impessoal e a gente... quer dizer, você, não passou de um lance, um flerte, um rolo, um cacho... Eu sou durona e só quero saber como estás, se está tudo bem. Enfim, é “só” falta de assunto mesmo.

Aí eles pensam que eu sou eu e boi não lambe. Sou essa descolada que pega e não se apega, que “vivo a vida”, que “curto o momento” ou qualquer outro clichezão desses de escrotona que sou . Ah, se fosse assim....

Mal eles sabem que rezo para o teu anjinho da guarda em silêncio, que guardo na memória o jeito desajeitado do nosso primeiro beijo e que sufoco todo dia essa vontade de saber de ti repetindo o mantra “Vontade dá e passa. Lembre-se: você é descolada, é durona e é cool”.

E aí guardo minhas confissões para o meu travesseiro e acabo contando para ele que putz... eu queria mesmo era arrombar a tua porta e chegar mais perto de ti, te matar de susto e dizer aos gritos que não. E esse seria o último não que eu me permitiria. Eu diria bem alto que nãaao!

Não, eu não sou tão descolada assim, não. Eu tive ciúmes do teu sono quando dormiste antes de mim porque ele me privou de alguns minutos a mais contigo. E não, não gostei quando demoraste para me pegar em casa porque eu fiquei ali, sentindo o tempo se arrastar como se nunca fosse chegar a hora d’eu te ver e meu coração ficou na boca e meu estômago doeu de tanta ansiedade.

Não, não e não. Eu não permito mais que não me ligues, que não te importes, que sumas... porque te quero. Simples assim. Não é justo abafar tudo isso. Não é justo ser tão doce e tão amargo comigo. Não tens autoridade para sequer não saber o que sinto.

Eu tentei engolir aquele choro, mas desceu rasgando na minha garganta e imediatamente, mas imediatamente eu senti o salgado de uma lágrima e agradeci. Não pelo choro, mas por não estares lá naquele momento. Doeu-me ouvir de alguém amigo que agias assim porque não me conhecias de verdade. Doeu só um pouquinho saber que é verdade.

Sigo explorando a mesma química fajuta que usas comigo, mentira amarga e mentira doce. Injeto-me esse veneno que me faz delirar e pensar que em algum momento vais me ver como eu te vejo, vais me enxergar como te enxergo e eu vou poder dizer de verdade, pela primeira e última vez:
- Não. Não solto mais, nunca mais a tua mão... Vem aqui comigo que eu tenho tanta coisa que não sabes para te contar....

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Você não tem culpa de nada

Por Moara Brasil


(Lucia Luma)
Olhei para os quatro cantos daquelas paredes imundas, e senti enjôo.
Senti enjôo do cheiro doce de motel barato, dos rapazes que abriram a cortina e receberam a tua esmola ridícula no fim daquela madrugada. Ah que nojo! Do teu fisico magro e branco, esquálido, do teu rosto de safado e desse desejo teu desesperado pelo meu corpo nu deitada nessa cama suja, cheia de passado, cheia de sexo descompromissado. Ai, cansada! O que estou fazendo neste quarto mal amado? Sem nada, sem decoração, sem graça. Sem aquelas cores vermelhas bregas, parece até aquele hospital público da esquina. Esse motel perdido em qualquer bairro, número 67 sem placa e sobrenome. Sem aquela trilha sonora básica, sem tv de plasma e frigobar a la vontè.
Esqueça! Não me ligue nas terças-feiras, não sou mais a tua meretriz, apague o meu telefone, desista de mim. Você não tem culpa de nada.

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Pescar

Por Mayra Castro

Pescar é um esporte que exige paciência, coisa que eu nunca tive muito.Ficar horas esperando algum peixe fisgar uma isca, não me parece nada atrativo.Acho que em toda minha vida só pesquei um mísero peixinho.Mas pode ser história de pescador,não tenho foto como registro.

Mas uma vez eu realmente saí pra pescar e me perdi nas "ruas" do rio negro.Até que um ribeirinho,montado na sua embarcação cheia de mercadoria, me conduziu até a "esquina" do hotel onde eu estava.Eu não levei nenhum peixinho pro hotel,mas também não cheguei de mão vazia, ganhei um milho do ribeirinho.

Dessa última vez foi melhor,e lá fui eu pescar com um amigo. Eu não tinha nada,nem anzol e nem linha.Pelo menos não precisava de isca.E achar a linha foi mais fácil,mas o anzol foi fabricado com resto de metal achado na rua.E lá fomos nós pro rio.
Meu alvo estava lá paradinho,como se a me esperar.Na primeira tentativa minha linha arrebentou e lá fiquei sem anzol.E como deu trabalho pra achar outro na rua!Novo anzol, nova tentativa.E dessa vez foi a linha que desamarrou...e o que eu queria nem se mexia!Mais uma tentativa e quando eu pensei que ia dar certo,falhou de novo. Eu já estava impaciente de tanto ter que arrumar anzol na rua.Mas finalmente ela se mexeu um pouco a meu favor "agora vem, tenho certeza!".Veio só pra mais perto.Eu já não aguentava mais inventar anzol pra essa minha pescaria, já tava pra jogar alguém no rio!Mas depois de umas 5 tentativas,metros de linha quebrada e vários anzóis improvisados,minha esperança aumentou "agora tu não me escapas".

Ufa,quase escapa!Até que com muito esforço e ajuda incondicional do meu amigo,conseguimos puxá-la pra fora.Limpamos, enxugamos,batemos foto pra não dizerem que era história de pescador e comemoramos,claro.

Depois de uma manhã inteira de trabalho árduo de pescaria, sem nenhum peixinho,mas com quilômetros de estrada pra ganhar,voltei pra casa alegre e satisfeita com o fruto da minha pescaria: uma bicicleta azul novinha.E mais essa história pra contar...

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CARÊNCIA DE DEPOIMENTO

Por Jaime Brasil ( advogado, músico, escritor e aquele tio legal da família que todo mundo gosta)

Meu pobre orkut:
só fake de fuck
nenhum scrap, ninguém me add,
e duas visitas em toda a semana:
da mana e da Ana.

Até já sou outro no “quem sou eu”:
estilo alternativo, menti que não bebo,
leio Paulo Coelho e que não sou feio,
gosto do Potter, que até assisto o Jô.

Namoro mulheres, estilo alternativo,
Ainda assim, ninguém se interessa se escuto Jobim,
que será de mim, que amo viagens mas nunca parti,
com este perfil,que nada aprendeu,
com relacionamentos anteriores....
com todos aqueles amores....
com todas aquelas dores....


Não penso em suicídio talvez genocídio,
se ninguém acessa, um cara acessível,
casual, contemporâneo, aberto pra relacionamento....
e sem nenhum depoimento.

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