Sofia Brunetta


Idade: 20 e poucos anos
Atividades: Publicitária e levantadora de copos d´agua.

Eu sou branca, muita branca. Na próxima encarnação venho preta e vou sambar na Portela.
Já desfiz nós que nunca imaginei criar pra mim mesma. Resolvidos. Pronta para os próximos.
Já nutri amores secretos, platônicos, quis o Jaspion, o Chico, apesar de sua preferência por morenas.Um menino com nome de novela mexicana que preferiu minha melhor amiga, quis casar com o Rafael do Polegar (antes que ele desenvolvesse a habilidade de engolir pilhas). Preciso reaprender a encontrar comigo.
Já quis ser sereia, mas nunca nadei muito bem. Em minha fase heróica tentei ser a Change Marmaid, mas tenho uma irmã mais velha e medo de galinha. Desisti.
Um dia serei uma estrela, mas será cansativo e eu ligarei pra umas das meninas-“Vamos tomar uma cerveja?”-a primeira até ficarmos de última.
Nas próximas vidas verei muita gente que foi desta meio rápido. Encontrarei Frida e mostrarei uns rabiscos meus, pedirei um autógrafo do John para o meu pai, entregarei um isqueiro para o Raul, e com Joana Dar’c falarei sobre tendências em cabelos para o próximo verão. Contarei as últimas da família para meus primos, minha avó. Nunca conversamos de fato, ela é uma lembrança de um sofá marrom com almofada de cachorro (meu gosto pelo Kitsch vem do berço).
Sou filha de nômades, uma cigana. Mudei de lugar e estou as voltas com a compra de coisas úteis, como um fogão. Mas meu sofá pink é lindo, apesar de não esquentar a comida. Tento ser diferente, mas sou igual à maioria mesmo assim.Tento não me deixar influnciar pelos meios de comunicação, mas guardo a mais de seis meses uma pilha na bolsa porque não sei como me desfazer dela sem que a natureza acabe antes de ter filhos ou netos e acabo sempre sabendo mais sobre a vida sexual dos artistas do que a das minhas amigas.
Sou publicitária com habilitação em arrumar dívidas. Vivo honestamente, mas nem sempre falo a verdade. Exercito minha simpatia atualmente. Mais do que eu mesma gostaria. Gosto de escrever, mas não gosto de vírgulas ou parágrafos.
Tenho amigos o tempo inteiro. Poucos são de verdade. Nestas minhas confusões, em meio a um turbilhão de novas pessoas, eu ainda posso descrever detalhes a respeito dos meus velhos e grandes amigos. As sardas na cara da Lora, o jeito insano da Moa, a risada da Tay, os cachinhos da Carol, o humor nonsense e ácido da Barata, os cabelos da Deda, as estranhezas da Emili,os ataques de asmas e barulhos estranhos que a Júlia faz enquanto dorme, as piadinhas óbvias e adoráveis do Pedro, as confusões das guerreiras,do bonde, das fuleiras(todas parte de minha pós adolescência feliz),os exemplos do Kaká, as descobertas da Karina, as histórias da Débora e da Bia...tenho grandes amores e muitas pessoas com as quais quero viver pra sempre . Elas estão indo embora, umas pra longe, outras jamais voltarão. Um dia eu irei também. Antes disso ainda preciso aprender muito: a dirigir, sobre o segredo da vida, o que fazer para não deixar sentar um bolo, dar estrela ( nunca passei das cambalhotas), dançar tango, cortar o cabelo igual ao de Uma Thurman em Pulp Fiction. Zerar o Mario, Aprender a falar espanhol de verdade, ter um filho, curtir uma fossa, dividir segredos, segurar uma galinha viva, viajar pelo mundo, encontrar as meninas, colocar peitos e sentir o tempo passar para eles. Preciso chegar aos quarenta e entender minha mãe. Bater mais papos com meu pai e agarrar meus irmãos. Preciso ver o Davi se formar ou enfrentar suas inúmeras barreiras com paz de espírito. Preciso aprender o momento certo de puxar os aplausos e não ter vergonha de cantar os parabéns até o final. Cantar e tocar violão com meus amigos reunidos. Sentir que a vida passou com serenidade e aceitar que um dia seremos lembranças nas fotografias de família. Nos álbuns. Perdidos no fundo do sofá da minha avó. Marrom. Ou azul?

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