Metamorfose, a mutação não-evoluída

Por Aimée


Ela chegou voando e como é de seu costume, se instalou no canto que queria. Eu simplesmente fui me adaptando a ela. Primeiro, deixei de passar para o lado direito do meu quarto, que era o cantinho dela. Bem, até quando eu ainda desse conta de entrar no quarto, ainda rolava da gente conviver pacificamente.



Durante o dia, enquanto eu estava no trabalho, ela nem dava as caras ao mundo e muito menos a mim, o que me deixava numa inquietude estranha. Não saber onde ela estava me causava calafrios. "Meu Deus, por onde ela andará? Será que num belo dia vou chegar e encontrá-la mortinha da silva, em cima da minha cama, no tapete do banheiro, jogada num canto qualquer do chão??? Oh, céus!".



E seguimos essa rotina de só nos vermos a noite. Ela, sempre me causava susto quando adentrava o mesmo recinto que eu estava e por sua vez, eu morria de medo de denunciar que ela estava lá, escondida em meio as minhas coisas, ao meu quarto. Me contaram uma vez que, para o Budismo, as almas menos evoluídas voltam como insetos. Desde esse dia, tenho medo de matar formigas, abelhas e pernilongos. Valha-me Deus, já pensou o caos no Cosmo que eu causaria? Até hoje, olho para uma formiga carregando uma migalha qualquer e penso que esse é o meu futuro se eu não respeitar as bichinhas.



Pois bem, eu estava sem saída. Não tinha nem para quem contar que agora eu tinha hóspede, ou sei lá como eu poderia chamar aquela barata voadora que andava pelo meu quarto. No início, não passava de uma simples barata. Depois, saquei qual era a dela: voadora! Aquela merda de espírito não-evoluído encarnado numa barata queria planar vôo em meio ao meu ambiente de descanso. Um verdadeiro absurdo.



Teríamos que fazer um trato. O lado direito era dela, tudo bem. Essa podia ser uma cláusula nossa. Mas aí eu exigiria uma noite de sono tranqüila, sem que ela aparecesse do nada enquanto eu estivesse vendo tv. Será que aquele bicho não era nada do que eu pensava? De repente, na verdade, "ela" poderia ser "ele"... Ele, o Barato. Ele poderia ser uma pessoa que virou uma barata. Kafka! Sim, a tal Metamorfose de Kafka.



Pensei muito. Refleti profundamente sobre todas as causas dos insetos existirem e além do Franz (Kafka) lembrei também da Mira Sorvino. Como era mesmo o nome do filme? Hum... acho que Mutação ou algo assim. Sei que a pesquisadora de insetos interpretada pela loira caia numa arapuca das baratas, no esgoto de Nova Iorque. Não, você não leu mal. A arapuca era das baratas. Elas, simplesmente passaram por tantas mutações e devem ter comido muitos alimentos transgênicos, com agrotóxicos ou muito feijão quando crianças, que acabaram por crescer um bocado e cheias de vontade de (literalmente) dominar a tal Big Apple.



Metamorfose! Assim eu a chamei. O que faria eu com Metamorfose, a barata que tinha se tornado minha colega de quarto? O Budismo e o Kafka me fizeram ter medo de matá-la. E eu não via mais como conviver pacificamente com aquele ser. Eu já dormia sobressaltada. Virava na cama e ouvia o bater de suas frágeis asinhas pelo nosso quarto, mas não a enxergava. A danada era esperta. Provavelmente, Metamorfose enxergava o vidro sombrio de Raid que permanecia no nosso criado mudo. É difícil trazer paz para uma relação onde não há confiança mútua. Muito complicado mesmo.



Não posso dizer que não operei grandes mudanças na minha vida depois que Metamorfose e eu passamos a conviver. Eu simplesmente deixei de comer no quarto e sequer na cama. Nem pensar! Passei a não deixar copos d'água ao lado da cama para que a barata não morresse afogada. Era preferível que eu morresse de sede do que correr o risco de pegar um copo de água e sentir coceirinhas na boca, não é? Escovo sempre os dentes antes de dormir e lavo as mãos agora, afinal se me lembrei de Buda, Franz Kafka e Mira Sorvino, porque deixaria de lembrar dos conselhos que minha vózinha me dava sobre as baratas: "Escova os dentes e lava as mãos antes de dormir senão elas vêm te roer".



Bem, agora já tendo conseguido sugar da minha relação com Metamorfose tudo de bom que ela poderia me oferecer, enfim, chegou a hora do adeus. Tento não lembrar com tanto afinco desse dia, mas tenho quase certeza que eu estava de TPM e o pior, me dói saber que "Metax" – como carinhosamente a apelidei – não tinha nada a ver com meus hormônios. Mas enfim, a hora chegou: cheguei em casa, cansada, entrei no quarto e lá estava ela, ou ele. Na minha cama com uma outra barata, ou um outro barato. Não sei, não olhei direito. Agi totalmente por impulso e nem cogitei a possibilidade daquilo me acarretar problemas espirituais.



Que desplante aquele ser ínfimo, aliás, AQUELES seres ínfimos (no plural!) abusarem da minha cama. Não conseguia tirar da minha cabeça quantas inúmeras vezes aquilo possivelmente já deveria ter acontecido. Poxa, ela não estava satisfeita em tomar conta do meu espaço, do meu medo? Não estavam mais sendo suficientes as minhas migalhas a ela? Provavelmente, não.



Sem raciocinar, peguei o inseticida e vi a morte daqueles seres profanos chamados baratas voadoras. Até hoje, me dói pensar em quão sofrida foi a tortura, a morte lenta que Metamorfose teve. Ás vezes, me pego pensando se o que me aguarda é esse inferno dos seres não-evoluídos que ainda tiveram o desprazer – ou no meu caso, o impulso – de matar outros seres menos evoluídos ainda. Sabe Deus e talvez nem Ele saiba o que será de mim. Só sei que foi assim. Ponto final. Tchau, Metamorfose.

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A maçã boa de se comer.



Que isso?
1) É o tio João pegando a julieta no flagra?
2)Bem, mas ele é um anão?
3)Então é um cafetão e essa aí é a querida Neve escondendo o serviço debaixo da cama.
4)Ou é um Cartaz do novo filme da Wall Disney, com Catherine Zeta Jones, estreando em "Branca de neve e o Cabaré Afrodisíaco dos 7 anões" ?

Não não não, é a Campanha publicitária da Melissa do Primavera/ Verão 2008, para a nova linha de sapatos baseado em quatro contos de fadas: Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho.

Você agora está se perguntando, nossa...que sacanagem! O que é isso? A Branca de neve de lingerie e o príncipe encantado debaixo da cama? Que pouca vergonha! É, é isso mesmo que você está vendo e interpretando!

Que safadinhos! Eu sempre achei que a Branca de Neve era uma danadinha, por trás de toda aquela pele alva e aquela carinha de comportadinha.

"E a História é baseada na clássica e tradicional, Branca de Neve e os 7 anões, a hitória de uma jovem branca como a neve, puta e não mais virginal, que não gosta mais de brincar com seus amiguinhos, os 7 anões, e prefere viver um mundo encantado com o belo Príncipe formoso, gato, e super atraente"

E é isso que a campanha pretende passar para o seu público feminino moderno. Esse pastishe na publicidade é uma caracteristica bem atual, recriar o que já foi criado, mas de forma original e inusitada. A criação preserva alguns elementos cruciais como referência a esse conto de fadas, a tiara, a cor vermelha da vestimenta da protagonista, o sapatinho da cor azul, que é da Melissa e a capa azul da personagem. O anão e o quarto dos 7 anões, com as camas pequenas, as maçãs no cantinho esquerdo (que Branca de Neve não quer mais comer, hum hum..) e finalmente o príncipe encantado, devasso, viril!

Mas o bacana mesmo, além da ótima idéia, foi como formalizaram tal. A harmonia da ilustração com a foto, as cores, e o jogo do claro e do escuro formalizam perfeitamente todo esse novo olhar do conto da Branca de Neve e os 7 anões. Gostaram? Eu gostei. Palmas para a agência BorghiErh/Lowe!
Depois eu posto os outros três anúncios da Campanha.

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Tua maior idade e meu medo.

Meu maior medo é te ver partir. Maior de idade e de malas prontas na porta de nossa casa, dizendo "tchau, velha" e eu consentindo tudo isso. Meu bebê largando a barra da minha saia e me chamando de velha. Meu maior medo logo depois será tornar-me velharia em tua vida.


Mas sei que vou superar esse medo e substituí-lo por outro, o medo de que não estejas tongspbcomendo bem, limpando as orelhas direitinho, separando a roupa colorida da roupa branca na hora de lavar e me preocuparei se usas camisinha. De nada vai adiantar os gastos que tivemos com Johnson & Johnson, o truque que eu tinha para limpar tuas orelhas sem te fazer chorar e as roupinhas tão fofas e bem lavadas se entrares nessa brincadeira de roleta-russa que é transar sem camisinha hoje em dia. Não dá. Vou perder noites e noites de sono pensando se compras preservativo e de que marca.


Não tenho medo que engravides uma moça – eu disse "moça"? Tô ficando velha, meu Deus... - ainda novo. Vieste a minha vida como uma bênção e assim, tão de surpresa quanto um dia de sol com chuva. Foste presente planejado não por mim, mas por um plano maior, algo mais superior que esse sentimento que nutro por ti. Vieste mais para que eu aprenda do que para que eu ensine. Portanto, não temo pela gravidez na juventude.


Temo sim por milhões de coisas que quero que faças: as viagens de mochilão, de carona, à praia, com garotas, com amigos, com dinheiro, sem dinheiro, para fora do país, para o interior do Brasil. Receio por não viajares em si próprio por meio da leitura, das músicas, dos romances complicados, das terapias, das fotografias, das imagens belas e sujas que a vida, a vivência em si, nos fornece. Quero-te como uma esponja, absorvendo tudo que o mundo pode te oferecer.


Aí me vem o medo de que sejas tão cidadão do mundo que não voltes para o Natal, para o Círio, para a Páscoa, para o aniversário dos teus avós, para o meu aniversário. Tenho medo do que o mundo venha a te oferecer possa te afastar do que é teu por completo, que é o amor que todos nós dedicamos a ti desde que soubemos de tua vinda.


Se aquela revista para gestantes estava certa, ouviste direitinho quando li para ti O Pequeno Príncipe. Eu estava grávida de cinco meses e mexias e remexias na minha barriga. E quero que lembres da parte que diz que somos responsáveis por aquilo que cativamos. Sim, somos mesmo. Portanto, cative o bem. E só. O resto será automático, será conseqüência.


Um dia eu vou te ver grande e isso vai me doer, eu sei. Eu vou reclamar por nada e de tudo, porque me faltará assunto e também me faltará jeito para dizer o quanto te amo. Vou fazer piadinhas sem graça na frente das tuas namoradas e dos teus amigos porque vai me incomodar te ver me afastando do que é legal para ti. Disso eu também sei.


Mas me guarde sempre contigo, mantenha-me como um porto seguro. Desfaço todos os planos, tudo que puder eu faço, só para te ver feliz. Teu sorriso é luz branca, violeta e azul. Os meus olhos conseguem enxergar um arco-íris todo ao te ver e sentem da mesma forma. És o mais singelo significado de vida e força.

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Um belo dia vou te odiar

Por Aimée

* Para ler ouvindo "Another girl" ...

Pensando aqui comigo no que pode ter dado errado, eu vejo que nada deu certo. Começou ruim e terminou pior. O problema é que ficou aqui no meu peito as músicas que dizias ser a minha cara... e eram. E eu sempre te dava um sorrisinho de canto de boca para dizer que enfim, eu amava cada uma delas. Sabias que eram minhas canções, só minhas, mesmo que eu não te dissesse uma só palavra. Tu sabias.

Um dia vou te proibir de existir, já que quero muito te odiar. Onde já se viu estragar Beatles? Não consigo mais ouvi-los sem lembrar das voltas e voltas rumando a lugar nenhum no teu carro – até mesmo porque este foi o único local para o qual me levaste – conversando sobre qualquer coisa bem idiota que me causava risos e gozo, para depois terminar em choro e sono.

Provavelmente essa ferida aberta cure um dia, em algumas sessões de terapia ou remédios controlados. Mas no momento, me dedico a te odiar porque meu mundo contigo foi imundo. Mas e daí? Eu não gosto mesmo de coisas perfeitas, de histórias com fadas e borboletas. Eu nem acredito nesse blá blá blá e essa coisa de seres um idiota, é real. É uma merda, mas é isso: é realidade.

Eu remo contra a maré para te esquecer e queria muito poder acreditar que a correnteza vai me ajudar, mas vira e mexe me vejo a deriva do meu objetivo. Um dia te esqueço e também vou esquecer do iê-iê do Fab Four, do cheiro amadeirado do teu perfume, da tua mão vadia subindo pelo meu pescoço e puxando meu cabelo pela nuca. Um belo dia vou te odiar.

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A Menina PB



Por Moa

A Menina PB contou algumas moedas do seu bolso, e comprou uma cerveja. Ela não queria mais tomar cerveja, a cevada não funcionava bem no seu organismo, nunca funcionou, e ela insistia sempre nos goles e bebedeiras. Ela olhou para aquele pub apertado e feio, e acompanhada de umas vinte pessoas, se sentia tão só que quase a solidão a engole como um monstro de filme de terror. E mesmo com os olhos fechados, naquele lugar que já foi um dia elegante, e com uma energia boa, tentou sentir a música e acreditar que existe um mundo novo em que não se aprende em nenhum livro, é só ter coragem, se libertar, viver e amar, como aquela letra legal, que ela nunca mais ouviu.

Mas a menina de repente se toca, que ainda não é aquilo. Lembra da casa que não é dela, é alugada e a mãe dela que paga. Lembra que mais uma vez está gastando o seu dinheiro, o dinheiro que ela não tem, em diversões momentâneas. É o remédio dela, que faz esquecer a sua condição de ser muitas vezes covarde. Ela sente uma vontade de chorar de raiva, de arrepender-se de algumas coisas. De tantas besteiras que já fez, e podia não ter pensado em começar. Ela se pergunta “e seu eu não tivesse feito aquilo?”. Pouco interessa, ela nunca iria saber, de repente, as coisas poderiam ter ficado melhores, ou de repente, poderiam estar piores.

A Menina do vestido PB olha ao seu redor, vê um casal lindo e feliz. São tão lindos de dar inveja, pois além de beleza física existe a beleza humana, que eles têm de sobra. Em seguida, ela olha para os rapazes, aqueles mesmos de uns anos atrás, todos estão se tornando homens, sem saber disso, eles procuram se esquecer, cantando, dançando. Mesmo que a barba insista em aparecer. Vê aqueles moços que andavam de skate com ela há uns 10 anos, lá em Icoaraci, e percebe que eles mudaram pouca coisa, mas continuam firme nos seus ideais, nunca desistiram. Ela tenta achar alguém que prenda a sua vontade de apenas admirar, paquerar. E até enxerga um rapaz de rosto fino, de óculos, quem será aquele moço? Não interessa, não vai acontecer nada mesmo...

Ela lembra o quanto deixou de fazer muitas coisas na vida, desde abandonar o orgulho que sempre teve, desde dizer “desculpa” para quem merecia ouvir, ou lutar por tudo o que ela sempre quis – aquela paixão que ela desistiu no meio do caminho – e de não enxergar os próprios erros, manias e vícios. Ela não era assim, a menina de preto e branco sempre foi atenciosa, determinada, disciplinada, sonhadora...

E o que a Menina PB se tornara? Uma garota que está no limiar da loucura, de desistir de seus próprios sonhos. Mas Deus quis que as coisas fossem assim, difíceis de alcançar. E disse que ela ia sofrer se em algum momento a cabeça dela pensasse em desistir de tudo e recomeçar de novo do zero, que ia doer como engolir cacos de vidro. Que é para ela aprender que na vida se perde muitas coisas, para depois beijar tudo que se ganha. E a menina tenta todos os dias, na casa, no quarto ou naquele pub qualquer, conviver com isso, mesmo que dias melhores ainda estejam bem distantes.

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À minha melhor metade

Escrevo essa carta, pra te contar que hoje nós vamos fazer uma festa surpresa pra ti, esquecemos o bolo mesmo, então pronto, a gente encomenda uns salgadinhos de pedra, que achas? De lá nós vamos dar uma passadinha no solamar e vai ser perfeito. Não! Acho que talvez seja melhor a gente juntar todo mundo na tua casa, inclusive a “maninha” vai estar lá, a Moara vai estar de rasta, e depois, como são teus 18 anos, vamos tirar fotos fingindo que você está consumindo substancias ilícitas na sua identidade e fumando cigarros, vou até pintar meu cabelo de pink para a ocasião. Como é teu aniversário, tu podes até contar para seres semelhantes ao boneco de Marituba que eles, sim...são semelhantes, aí nós enfiamos nossa cara no buraco e pronto, tudo certo! Mas, se você preferir, podemos ir beber tequila na frente da Unama, chorar e cantar músicas sertanejas, mas peço logo que leves uma grana extra, pois o táxi vai custar uns 60, 70 reais...Se achares que o “campus 3” tá muito ralé, podemos ir no strike beber tequila também, mas por favor, dessa vez não vai arrancar a unha do pé com aquele incrível passo na cadeira, ir ao hospital e voltar com tequila escrito na receita, pode ser?
E se tu preferir viver tudo isso, mas não der, fecha o olho e deixa rolar esse filme que já dura tantos anos, pra sempre.
Ainda bem que existe computador, ou a carta estaria toda molhada de lágrimas.
Te amo, feliz aniversário, metade.

Dedicada à pessoa que me fez verdadeiramente entender o que significa: ”to aqui pra tudo, sempre”. Só não digo que é a ohvariana mais linda de todas, porque a disputa é ferrada.

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Dois anos e dois meses

Por Lunna

Eles conversavam e riam na volta para a casa. O tempo tinha passado e apagado qualquer vestígio do que foi um dia aquecido pelo fogo e pela loucura que tinham quando se juntavam. Fazia dois meses. Dois meses que ela se fechou pro mundo, se guardou pra ela e esqueceu até como era um simples aperto de mão. Andava de saco cheio. Da vida, das pessoas ao redor, dos acontecimentos que não aconteciam nunca.

Mas eles se encontraram, era ele, aquele cara que há dois anos lhe provocara tantos arrepios e noites mal dormidas. Hoje? Eram amigos, bons e velhos amigos, daqueles pra vida toda. E eles riam no carro, bêbados e leves como uma pipa.

Na despedida, o beijo. Um beijo esperado e desesperado, não de quem ama, mas de quem passou dois meses trancafiada no próprio mundinho, aprisionada pela própria vida sem graça e sem o menor sentido. Ela precisava sair e voar, nem que fosse para quebrar as asas novamente.

E voaram, como nos velhos tempos, dois meses e dois anos depois. Confundiram pernas, braços e roçaram os pés um no outro, costume antigo. Puderam ver novamente os seus corpos e as mudanças que neles tinham. Chegaram juntos ao céu e padeceram do mesmo pecado. “Existem coisas que nem o tempo consegue apagar”, ele sussurrou ao pé do ouvido dela.

Mentira. Ela não concordava. O tempo conseguiu mitigar. Os meses passados sopraram todo aquele frio na barriga gostoso, aquela coisa de pele que na verdade não era bem coisa de pele, era paixão. Pura e pesada. E gostosa. Tudo ali tinha se transformado, ela tinha entrado em mutação e já não se importava coisíssima nenhuma com aquela cama fria, que antes lhe parecia tão quente. Ela não conseguia mais sentir. Nada. Absolutamente nada.

Vestiu-se e foi embora. Sorriu com a ironia de quem gostou de terminar um livro, mas sentiu saudade de continuar lendo a história. Tinha acabado. Ela talvez já soubesse, mas precisava confirmar. Antes de fechar a porta, deu nele um último e demorado beijo. Andou até o carro.

Era hora de voar em outra direção.

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Socorro eu não estou sentindo nada...

Socorro!
Ilustração de Moara

Por Vivi

Até que isso tudo começou engraçado, mesa do Cosanostra, red bulls depois de algumas várias cervejas no zeronãoaguentomaisvinteum e uma canção que dizia tudo a respeito desse grupo de meninas contemporâneas. “Socorro alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha...”.E bem que elas riam, demais, afinal, pra quem já sofreu tanto por amor, pra quem viveu uma adolescência e um começo de juventude chorando e ouvindo coisas que vão do Roxette a Chico Buarque, respectivamente, era até uma ótima emancipação não sofrer tão cedo. Mas, o contraponto é que: já não sentiam nada, “não vai dar mais pra chorar, nem pra rir”.

Uma espécie de cristalização entorno de todos os sentimentos. Mulheres, do mesmo grupo social, mesmo costumes, mesma bagaças, mesmo gatinhos muitas vezes, não sentem mais nada. Parou, parou, parou. E isso não é gostoso. Se por um lado sofrer dói, amar é sofrer também, já dizia o mestre de assuntos emocionais, Vinícius de Moraes. Logo, não sentir nada, significa também, não amar.

E não estar aberta ao amor significa algo mais escroto ainda de admitir, alguns desses últimos rapazes com quem ela se relacionou e não deu certo ultimamente, talvez nem tenham tido tanta culpa de não ter dado certo. Já pensou de quem pode ter sido?


Ela percebeu isso assim que ouviu todas as frases dirigidas a ela no último domingo. Pós bagaça, depois de uma semana inteira com um gatinho inteligente, legal, engraçado, romântico, entre outros adjetivos, eis que resolveu fugir, fugiu rápido, de um sábado à tarde a um domingo de manhã. Mas foi tempo suficiente pro gatinho legal, inteligente e blá blá blá entender que não, ela não serve pra ele, afinal, ela é tão calada, tão distante que não pode estar dando tanto valor quanto ele. E ele desistiu.
Desistiu e fez com que ela sentisse alguma coisa. Percebeu que de todas as falhas que já tivera antes dessa ruptura emocional nenhuma a deixava tão frustrada quanto essas “tocas” dessa nova fase. As pessoas agora desistiam dela, porque ela agora se fazia por desistir.

Ela nunca tinha sido assim, tinha passado por namoros que vão desde a paixão avassaladora com cartas quilométricas até um pseudocasamento que não suportou as verdadeiras estruturas do mesmo. E ela sofreu, sofreu, chorou, passou noites conversando com as amigas, os amigos dos namorados, os garçons, com quem pudesse esclarecer pelo menos um pouquinho por que amar dói tanto.

Ela percebeu entre muitas coisas que essa dor era tão aguda, que por muitas vezes chorando ela jurou nunca mais querer amar, sim, ela queria virar uma doida, sem rumo “mulher folhetim”. Mas de nada serve todo esse discurso se no fundo, no fundo, tudo que ela mais gosta é de se apaixonar. De conhecer as pessoas e de deixá-las entrar no seu mundo.

Assim ela percebeu que de uma maneira ou outra, os traumas aparecem primeiro pros outros que pra nós mesmos. E que sim, dor traumatiza, independente da origem ou razão. O novo segredo pra ela agora não é sentir ou não sentir. E sim, saber voltar a sentir, voltar a amar sem ter medo da dor, que por mais amarga que já tenha sentido, nada é mais sem gosto, que nada sentir... “Nem medo, nem calor, nem fogo. Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir”

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Eu e a menina tola

Hoje eu levantei e a deixei lá, sentada no canto do quarto, como tem sido regularmente. Ela acorda comigo e me olha de soslaio, como quem pedisse para me fazer companhia no resto do meu dia. Mas atualmente, finjo que não a vejo.

0a4d6d7c72dd9fdc525cfacde8252ccecd874a64_mTomo meu banho ouvindo música alta. Saio sempre com pressa e nem sempre com um sorriso nos lábios. Enquanto ela acorda mal humorada e permanece assim o resto do dia, distribuindo coices e patadas a todos, sem muito critério. Mas eu tenho feito questão de deixá-la lá, bem trancada no quarto.

Ela buzina no meu ouvido dizendo que não é para eu comer muito porque o crescimento do meu manequim semi-obeso é tão proporcional quanto ao da inflação no Brasil. Aí eu dou a ela um foda-se bem alto, assim como o Banco Central dá aos brasileiros desesperados com medo de surtos econômicos. Ah, eu quero mais é me esbaldar em bife, arroz, feijão, bata frita e coca-cola. Peço para ela me deixar ser uma gordinha feliz.

Acho que ela se incomoda com o meu bem estar num modelito 42 ou com a minha falta de organização com a minha bolsa. Na verdade, ela se incomoda com todas as coisas pequenas e isso a cega para coisas grandiosas, entende? Ela fica de nhem-nhem-nhem atrás de mim dizendo: cuidado com a balança, com a moda, com a chuva, com o cabelo desgrenhado, com as sardas, com o palavreado, com a aparência. Pois ela me enche tanto, mas tanto, que simplesmente tenho que ceder.

Entro em paranóia e fico me analisando em frente ao espelho: a pele não é como eu queria, mas dá pro gasto. Nada que um corretivo não resolva. A silhueta não é mais a mesma? Negativo! As roupas é que ficaram pequenas. Nada que roupas novas não resolvam. Então, repito o ritual matutino: vou tomar O Banho escutando música mais alta ainda e grito, berro e desespero a pobre menina paranóica no canto do meu quarto.

Aí, ela se arrepende amargamente porque saio mais revigorada do que nunca, a fim de pegar um cinema, uma chuva, ver um arco-íris, tomar água de coco. Sei lá, saio com todo gás e ela continua andando atrás de mim, sem saber o que falar, me lembrando que o ex-namorado me traiu com uma “amiga”, que tem muito mês para pouco salário, que eu preciso fazer uma hidratação nos cabelos, que já estou mais para os 30 anos do que para os 20, que fumar mata e por aí em diante...

Então, ela apela, com os olhos amargurados e cheios de lágrimas que não mais vai me avisar. Mas não consegue calar a boca. Ela pede para eu ficar em casa vendo e revendo fotos de outros tempos com ela, porque é só aquilo que ela gosta de fazer, remoer o passado. Deve ser por isso que ela sempre, mas sempre mesmo, tem dores de estômago, enxaquecas, crises de choro ou de consumismo. Acho que essa carência absurda a deixa sempre dodói e ela até gosta porque é um jeitinho que tem de conseguir mais atenção.

A insistência dela me dá um nó na garganta e eu cedo, não tem jeito. Eu sento e fico lá, remoendo cada lembrança que ela puxa do fundo do baú. Mas sabe qual é o problema? Eu, aos poucos, estou conseguindo enterrar meus fantasmas. Enquanto ela os desencava de túmulos profundos e quase os torna múmias vivas. Coitadinha... ela faz isso pensando que eu vou leva-las para passear junto comigo. No way, baby!

O que essa menina tola e mimada, com medo de tentar, de arriscar, não percebe é que eu mudei. Tive que mudar. Eu precisei enfiar o dedo na tomada uma, duas, dez vezes e tomar choques terapêuticos deveras chocantes para saber que precisava me mudar de mim. E me mudei. Deixei essa minha parte no canto, junto com as roupas que não me cabem mais, com os amores que não deram frutos, com as falsas amizades, com a velha vida.

Eu troquei de pele nessa nova estação, me adaptei ao meio assim como um réptil. Minha energia que antes era alimentada a pilhas, agora é abastecida pela energia solar. Saio de manhã respirando fundo e soltando o ar devagar. E vejo as coisas darem certo para mim mesmo quando tudo tende a piorar.

Precisei ouvir que tenho medo de ser feliz, quer dizer, tinha. Por isso que hoje, ao sair, deixo essa minha parte amargurada das antigas relações trancada no quarto, de castigo, ajoelhada no milho. Não tenho mais paciência para a tristeza, não tenho vaga para depressão. A solidão não me anima mais.

Enterrei meu passado e só volto a vê-lo no dia de finados. Levo a menina tola para passear nesse dia, devidamente munida com um bouquet de flores do campo. Rezo para que ela fique lá, com meus demônios e assombrações. Um dia ela me deixa de vez e enxerga o quanto eu sou feliz.

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Bolsa Freud

Por Thiago Quintas

Inédito. Governo planeja ajudar – com recursos da saúde pública - desajustados sociais identificados como estorvos em qualquer sociedade ou ambiente de trabalho.O objetivo do auxílio oficial é minimizar o problema de pessoas que, sem nenhum talento para o oficio, se acreditam predestinadas à carreira política.

Gente que, pensando em acabar com seus dias de solidão e tédio, resolveu fazer do exercício da democracia um combate às carências afetivas permitindo a eclosão da revolta guardada "dentro deste peito".

O patrono espiritual desta iniciativa é o teatrólogo (intelectual?!) Nelson Rodrigues, que dizia para os filhos, nos tumultuados anos 60:

"Vocês conseguem reunir 100 mil na Candelária e o líder (Wladimir Palmeira – n.a.), pendurado num poste de luz, pede a todos para sentarem-se. E nem cadeira havia, apenas o desconforto. Vocês perderam a melhor oportunidade para iniciar a revolução."

Isso é coisa do passado.

A partir de agora, com a Bolsa Freud, qualquer brasileiro com sentimento de revolta contra progenitores, reitores, professores, enteadas, fazendeiros, arrozeiros, síndicos (no caso de reunião de condomínio), monumentos históricos (no caso de pichadores de parede) ou apenas vivendo dias e noites vazias, sonhando com uma Albânia colorida pode ganhar sessões de psicanálise (terapia) gratuitas.

Pesquisas recentes revelam que, nos últimos 30 anos, quem era de direita, no Brasil, agora está militando na esquerda e vice-versa. Este movimento de vira-casaca trouxe instabilidade emocional para muitos cidadãos que não reconhecem mais o seu papel na história e nem na sociedade. Muitos puristas de outrora agora vivem na promiscuidade.

Se você ainda não entendeu o que aconteceu com a sua ideologia, Freud explica. As mesmas pesquisas garantem que 80% das pessoas envolvidas em associações de moradores de bairros são carentes emocionalmente. Quase sempre com vida pessoal insatisfatória, necessitam ocupar seu tempo vazio com discussões (aparentemente) úteis à coletividade, porém intermináveis enquanto procedimento burocrático.

A Bolsa Freud vai oferecer interlocutores treinados a permitir que o paciente vocifere sem culpa e danos contra a integridade alheia ou mesmo pontifique opiniões sobre o MST – seja contra ou a favor. Como na Bolsa Ditadura, o cidadão tem que provar que merece o benefício.

Alguns exemplos clássicos de pacientes que se reportam mais a Freud do que a Marx:

George W. Bush (a figura do pai, neste caso, é clássica);

Renan Calheiros (você lembra? com problemas pessoais até o pescoço, ainda queria tocar flauta);

Clodovil (dispensa comentários);

Lula (Freud explica as posturas contraditórias de esquerda e direita)

Rafael Grecca de Macedo (Poucas pessoas se punem com tal cerimônia)

Ronaldo Fenômeno (Ainda em fase oral. É sério candidato ao troféu Divã de Ouro)

100 mil da passeata da Candelária (A revolução fica pra quando?)

Juiz Nicolau, Paulo Maluf, Pita, Severino, Jerominho, Paulinho do Sindicato e outros incógnitos(o objetivo deles é um só: fazer sexo anal com o País)


Rá! :)

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Uma porta entreaberta

Por Aimée

- Só quis dizer o que disse: não se afaste de mim.

Ela ouviu isso poucas semanas antes dele sair pela porta da frente. No entanto, apesar de todo descuido com ela e com seu sentimento, era só isso que ela gravara: não se afaste.

Ela recuou com pesar no peito, com choro engatado na garganta e sem refletir, achava bem no fundo que ele voltaria atrás, que ele a procuraria e a pouparia de dizer o que sentia. Passou a pensar maior por conta das quedas e dos baques que elas causam. Teve que aprender que muitas vezes é necessário dar passos para trás para poder avançar. E assim foi recuando da vida dele. Cortou-o como assunto, sumiu dos olhos dos amigos em comum, sumiu dos mesmos bares, dos mesmos horários, da mania de traçar sua rota com intuito de colidir com a dele.

Sentia-se avançando em diversos momentos. Mas era só ele chegar que retrocedia mil léguas e ouvia, bem ao longe, como o último suspiro de um moribundo: “não se afaste de mim”. Com o tempo passou a não evitar, precisou enfrentar esse querer como quem sai na chuva para se molhar.

Ficava sabendo dele pelos outros, sempre notícias sujas e feias. Quase sempre envolvendo mentira e mágoa. Ela pensava, angustiada, “te afasta de mim”. E na verdade, ela nem precisava pensar. Ele estava longe e essa tinha sido sua única atitude de hombridade: a distância.

Mas não tinha jeito. Sentia ele nos lugares, pressentia quando ia encontrá-lo. Sonhava com ele e pensava muito tranquilamente, que um dia aquela raiva ia passar e temia por isso, porque tinha certeza que no dia que isso acontecesse, iria ao encontro dele dizer que tudo bem, que passado era passado e provavelmente cairia em alguma mentira de olhos verdes, em alguma mesa de bar barato com pessoas idiotas porque fora somente isso que ele proporcionara. Por isso tinha medo de se esquecer. Temia por deixar o tempo passar, mas não tem como pará-lo, até porque ela sabia que os ponteiros não andam. Eles correm.

E sussurrava:
- Por favor, te afasta de mim...

***

Ele olhava com despeito e se arrependia de ter conhecido-a. Arrependia-se dos olhares, das ligações, de ter alimentado cada surto de menina mimada e tola. Mas sabia que já não dava mais para voltar atrás. E então dava graças a todos os santos por terem se afastado.

Quando a encontrava, fingia não a ver. Levantava a cabeça com soberba e arrogância e a transformava num fantasma, pensava para si mesmo:

- Puta mimada...

Era grosseiro com seus pensamentos mesmo sabendo que era ele o errado, que ela errara por culpa dele. Por suas obras e atitudes egoístas, ela tinha sido sim, uma puta. Mas como não cogitava a possibilidade de mudar de gênio, era bem mais fácil colocar a culpa nela.

Vira e mexe a encontrava com o outro cara, o novo namorado. Cara gente boa, ele pensava. Imediatamente a visualizava como uma bruxa feiticeira, que devia entorpecer o cara com suas estórias, com o perfume da pele dela, com aquela cara que ela fazia quando estava aborrecida que dizimava uma população toda só num olhar.

E quando a via com o namorado, nos bares por aí, pensava nos mil motivos que tinha para odiá-la, para querer derretê-la da humanidade, dessas bandas da terra, para nunca mais ver nada nessa vida tão narcisa quanto ela. Para nunca, nunca, nunca mais vê-la tão segura de mão dada com outro homem.

Por um segundo, escondia seu orgulho na embriaguez e imaginava-se perto dela, tocando seu ombro e via, como se fosse real, ela virando devagar e olhando por cima do ombro com olhar espantado.

Então, ele sussurrava:

- Não se afaste de mim.

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10 pecados capitais do homem que quer conquistar uma mulher moderna.

1. No momento da cópula, ele salta um grito e dá um tapão na tua bunda "Goza minha safadinha!". A gente fica pensando que ele vai cantar aquela música "dói, um tapinha não dói, um tapinha não dói". Opaaa!! No mínimo ela vai soltar uma gargalhada.

2. Te ligar de madrugada para falar "oi, o que você está fazendo?", na hora em que você está dormindo e sonhando com o gostoso do Brad Pitt, e de quebra, com a boca da Angelina Jolie.

3. Homem que não tem um mínimo conhecimento de moda e bom senso. Por exemplo, aparecer com aquelas cuecas que a mãe dele comprava quando a sua cria era ainda um pirralho, se não sabes, vale uma dica, boxer é mais legal,baby. Ou então, nem use-as.

4.Ter dificuldades em compreender o sinônimos de mulheres modernas, e achar que é só ir chegando. Meu querido, você acaba de entrar numa barca furada! Tens que ter num mínimo um bom rostinho, mas no geral elas sempre prezam por um bom papinho antes que você resolva convidá-la para aquele motel barato...

5. E por falar em MOTEL BARATO, não invente em levá-la para qualquer com nomes do tipo "Love´s in the motel", de 10 contos, setor onde o perfume é "bom ar", a cama é de cimento, e o lençol é tão encardido quanto aquela cueca velha que a tua mãe comprou na sua adolescência. Por que ela não te ligou mais? É, filho. Melhor você começar a rever alguns comportamentos...

6. Homem que chama pra dançar junto e fica duro. Bem, não é como você está pensando, é duro no corpo mesmo. Ninguem merece dançar com alguém que não consegue se movimentar direito e não tem aquele gingaaado! Parece gringo, você sabe muito bem como um gringo dança né? Imagina aquele alemão tentando sambar, poisé. Só vai passar vergonha!Fica na tua querido.

7. Bote* que resolve agarrar uma pipira* na tua frente, para mostrar que está bem resolvido na relação. Primeiro, a garota vai levar um baita susto e vai pensar "credo, como ele pode beijar isso?". Segundo, ela vai ficar com tanto nojo e vai ficar falando que homem mesmo achou o p. deles no lixo. Ela pode até te pegar de novo, mas nem espero mais que alguns beijinhos.


*Bote: Paquera, flerte, rolo.
*Pipira: Qualquer mulher que goste de usar as calças da Absoluta com top de lycra.


8. Homem eternamente liso ou homem que não trabalha. Só se o cara for muito bom de cama, ela até investe, ou se for parecido com o Johnny Depp, ela até diminui as despesas com o cabelo. Mas, com certeza, ela um dia ficará de saco cheio de você ser desse jeito, e vai te trocar por aquele baixinho de óculos,o Thiaguinho, que era o primeiro da turma do colégio.

9. Homem burro, e em todos os sentidos. Não precisa ser um nerd,um intelectual, nem muito menos um cientista maluco. Basta ter alguns assuntos para conversar, para depois do beijo não ficar naquele clima "é, poisé, e aí gatinha?".

10. Homem lindo que se acha. Você pode até se achar, mesmo porque tens motivo para isso. Mas não venha com aquele olhar 43 já chegando e passando a mão na menina achando que foi o dia de sorte dela, quando você resolveu dar bola pra ela. Olha, eu já vi muitos sarados saírem com a mão abanando por aí... Por isso, se Deus te deu apenas Beleza, use um pouco de humildade. Pense nisso!

E aí? Você tem mais alguma coisa para falar! Conteste!

Ah....Olha o que eu achei no youtube, para vocês compreenderem melhor o universo feminino acho melhor assisterem toda a série dos Confissões de Adolescente, alguém lembra?Então vai esse episódio "Uma mulher moderna", com a atuação maravilhosa de Debora Secco:

[youtube=http://br.youtube.com/watch?v=jcrclwwuAIE]

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Vero (...). Verídico.

da convidada Becky Braga

Sempre tinha tentado imaginar como eram aquelas salas. Costumava vê-las compartimentadas com estruturas típicas de escritórios, quase sempre na cor cinza, divisórias superiores em vidro. Mesas com computadores. Várias mesas, vários computadores.

A única coisa de que realmente tinha certeza é de que havia mais mulheres do que homens. Não agradava a cabeça ciumenta dela, e nem a pervertida dele. Mas os sonhos sempre são meio malucos e sem sentido, ela via vários homens, inclusive homens bonitos.

Caminhou despercebida por entre as mesas, ninguém notou sua presença. Ela achou estranho, mas continuou procurando a mesa dele. No canto mais iluminado ele estava com os olhos fixos na tela do computador, parecia concentrado em algo realmente importante. Pensou em voltar. Não queria ser inconveniente.

Pensou que já estava ali, tinha vindo de tão longe e não havia porque voltar do ponto mais próximo que pudera chegar dele. Recuou um pouco, mas prosseguiu até a mesa dele.

-Oi...

Ele levantou a cabeça, olhou pros lados, pra trás, olhou por cima da divisória de vidro e viu que a mesa da frente estava vazia. Balançou a cabeça e voltou a fazer o que estava fazendo.

Ela ficou desconcertada e disse de novo pigarreando.

-Oi.

Ele parou dessa vez um tanto assustado, percorreu todo o espaço com os olhos e não viu nada. Foi até a copa e serviu-se de café. Há tempos não ouvia, mas podia reconhecer aquela voz em qualquer lugar. Sabia que era a voz dela.

Ela não entendia porque ele não podia vê-la. Chegou perto dele e falou-lhe ao ouvido:

-Sou eu. Você pode me ver?

Ele deixou a xícara de café cair. Saiu da sala, procurou um lugar onde pudesse respirar e onde o barulho dos carros fosse alto o suficiente pra tirar-lhe da cabeça a idéia completamente descabida de que ela estava ali.

“-Eu só posso estar ficando louco! Acorda... caia na real...”

Ficou um tempo ainda ali, sentiu uma sensação de alívio. Quando voltou ela estava sentada na sua mesa, serena, esperando. Sentou-se no computador. Ela soprou de leve nos ouvidos. Ele sentiu um arrepio. Colocou os fones de ouvido e foi escutar a faixa seis.

Era menos assustador do que achar que estava realmente ouvindo a voz dela.

***

Ela acordou com alguém chamando na porta.

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"Domingo, quero te encontrar e desabafar todo o meu sofrer"

Por Lorena Cirino

Domingo passado teve uma “Festa do Navio” aqui por Belém, a proposta parecia ótima: Um barco, vários e corpos e ...axé, pagode. Daí já me deu medo! Além do que eu odeio a idéia de me aventurar em lugares nos quais eu não posso sair (fugir) se quiser.

Já de noite, Anna Carla me liga pra um lanche maroto, escolhemos um delicioso X-calabresa do Biga’s. Erro! Um dos maiores da semana. Erro maior do que todos que cometemos no sábado, e não foram poucos, nem discretos.

Pois bem, toda a população do tal barco encontrava-se lanchando, bêbados, no mesmo lugar que nós, pessoas coloridas, de franjinha e intenções que vão do rock ao chorinho.

Depois da visão infernal, angústia, medo, pena da atendente e um misto de sentimentos nunca antes degustados, partimos com algumas perguntas pairando em nossas cabeças rock-regueiras:

- As pessoas perderam a camisa na festa?
- Era proibido ir de camisa pra festa?
- Era obrigatório ir de boné pra festa?
- Se você não estivesse de boné e fosse do sexo masculino, era obrigatório ter luzes nos cabelos?
- Por qual motivo homens fazem luzes e/ou alisam os cabelos?
- “Bomba” é barato?
- Era obrigatório ir de shortinho, salto de acrílico e blusas de viscolight?
- Quem inventou o salto de acrílico?
- Quem inventou a blusa de viscolight com estampa prateado-dourada?

Aqui fica a dúvida e o meu singelo protesto.
Obrigada!

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A merda da minha impureza.

Por Lora Cirino

Eu sei que tu nunca vai ler isso, nem mesmo saber que existe, mas de alguma forma preciso te falar que te amo e tenho um orgulho absurdo de ti. Se nós não damos certo, paciência! Não somos as primeiras nem seremos as últimas.
Feliz ou infelizmente, eu virei tudo que tu não foste e isso acaba nos afastando, paralelo a isso eu sou o cúmulo da ‘tolerância zero’, da ironia e do orgulho e tu és dramática, o que me irrita profundamente, eu sou prática e ponto.
Além disso eu não sou uma pessoa boa de se comprar briga, porque se tem uma coisa que eu sei fazer bem, é ofender e não me orgulho desse “dom”, nadinha.
Mas o que tu precisas saber é que eu te amo que se eu tenho força nessa vida é pelo teu exemplo, se eu sou vendedora nata e trabalhadora absurda é por tua causa, pelo teu exemplo, pelo que és. Tu és o maior exemplo de luta e vitória que eu tenho, não “tem pra botar”, se hoje eu e ele somos tão unidos, mesmo tão diferentes, é porque tu eras sacoleira, e nós ficávamos na repartição juntos, almoçávamos juntos, éramos amigos. Se eu sou próxima de Deus, mesmo tendo estudado - e com isso aprendido a pensar e duvidar de tudo, de todos, de dogmas e “verdades absolutas” -, gostando de farra e tudo que me afastaria dele, é por causa de ti, pelo que me mostrastes, pelo que és. Tu és linda, és legal, todo mundo te ama. Só preciso te dizer que apesar de todas as merdas que a gente se fala e se faz, eu te amo. Te amo muito, me orgulho muito.
Quero te pedir desculpa por tudo que sou, que faço, que te machuco, mesmo sabendo que eu sou um dos grandes orgulhos da tua vida e que hoje os papéis se inverteram, só que eu ainda não consegui, com todo o meu egoísmo, a me acostumar com isso. Porque eu sou assim, sou ruim! E é difícil, como é difícil.
Por favor, não esquece por merda nenhuma que saia da minha boca que eu te amo, que eu te amo pra caralho , que tu és a minha menina e a minha mãe.

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O vício

Por Anna Carla Ribeiro

Olãããããã! Tudo bem?! Bom, gente, eu sei, eu sei. Não tá porra de merda nenhuma boa. Você continua com aquela pira no mindinho, aquele carro com a buzina quebrada e tendo que aturar aquela vizinha com hálito de estrume no elevador. Beleza, normal... Como já dizia Chico: “Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça. E a gente vai tomando e também sem a cachaça. Ninguém segura esse rojão”. É, eu também sei. Você levou a sério demais esse refrão e anda bebendo todo o seu salário. Afinal, o que te resta? Uma boa noite de sono com aquela maldita sensação de que falta alguma coisa? Algo se perdeu, e não foi o seu controle remoto. Se fosse, já seria o fim do mundo. Haja saco pra aturar o caos do mundo e ainda ter que levantar para assistir “Zorra Total”. O fim.

E então você pensa em todos os coitadinhos do mundo. Os desabrigados do Maranhão, os indonésios fugindo do vulcão, os pedófilos em potencial soltos por Roraima, enfim, uma desordem total. E fica pensando na pacata da sua vida. Sem problemas, pelo menos não desta magnitude. Seu acordar as oito da matina, seu café com leite e açúcar, a sua ida tranqüila ao trabalho, o seu despertador estomacal que grita de fome quando dá meio dia, os seus livros, a sua ginástica. Uma puta de uma vida tediosa. Chata pra caralho. E então você pede confusão, você precisa de ventos fortes que despenteiem todo aquele seu habitual cabelinho liso e sem graça.

E o destino, legal pra caralho esse bicho, te trás logo uma avalanche. Isso, acabou com o seu projeto de vida, exatamente como foi pedido. E você gosta. Fica até animado pelas sensações estranhas no estômago, pela expectativa, a novidade, a espera da bomba estourar. E ela estoura e destrói com tudo. Tudo de bom e de ruim. E o que te sobra? Uma vida pacata, que com o tempo volta a ser tediosa e necessita de mais paciência ainda, pra reconstruir aquela sua vidinha insossa de antes.

Você sabe que está exagerando. Você sempre faz isso, é mania, nasceu pra Hollywood, para a dramatização. Sua mãe te diz isso desde que você descobriu que ela é a sua mãe, todos os seus namorados também disseram. Mas a opinião deles não vale, eles sempre quiseram minimizar as merdas que faziam enquanto você maximizava até demais. Então você pensa, pensa, pensa. “Porque diabos eu sou assim?”. Será que a sua mãe comeu muita coxinha na gravidez e a sua retenção de sal é maior do que toda a população brasileira e por isso é tão difícil fazer da sua vida uma água com açúcar?

Não dá pra entender. Tem gente que tem seus vinte e poucos anos, nunca fez questão de ter um relacionamento sério e nunca se apaixonou. Não se sente sozinho nem se estivesse perdido na ilha de Lost. E aquela galera do “Pega mas não se apega”? Como assim não se apega, minha gente?! Já imaginou passar a vida só pegando? Sem nunca sentir ânsias de vômito ou quebrar a cama de pulos felizes só porque ele te mandou a mensagem: “Oi. Tenha um bom dia”? Será você sensível demais ao mundo ou até os golfinhos estão virando assassinos?

Viciada. Isso mesmo. Você é viciada. Não em drogas, talvez em cerveja, mas a sua compulsão mesmo é por paixão. Talvez amor, mas nunca é amor. É falta de amor próprio, é carência, é dependência, é egoísmo, é amizade, é desejo, é falta do que fazer, é paixão, é um bando de parafernalhas que tinham uma puta cara de amor. Você jurava que era, botava a mão no fogo e já virou carvão. E você então decide ir em busca desse tal de amor. É vício, a abstinência te leva à loucura e então você parte em busca dele em qualquer lugar. Nos olhos do loirinho frio, no sorriso do altão safado, na pegação do final da festa. Você sabe que não é amor, mas aposta todas as suas fichas que, quem sabe? Pode virar.

Mas não vira. Então você se atropela, perde metade dos seus cabelos, envelhece uns 37 anos, faz greve de depilação e economiza todas as cifras destinadas às lingeries. Diz que se curou da doença, que quer viver sozinha para sempre, ter uma casa com a bandeira do Payssandu de fachada e um cachorro chamado “Trovão”. Tudo papo furado. Não existe ex-gay, ex-frangueiro, ex-namorado amigão e, principalmente, ex-viciado em amor.

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Encontrei Betty Boop num boteco da esquina.

Por Moara Brasil

Num desses meus sábados a noite, sentada e sozinha num bar, adivinha quem eu encontrei? A Betty Boop em carne e osso! Carne e osso!E não na sua forma mais conhecida que é em desenho, mas era a tal. Eu podia jurar para todos os Santos! Ela estava com um vestido preto colado, um scarpin lindo e os cabelinhos bem arrumados. Por um instante fiquei sem reação, bebi mais um copo de cerveja e fiquei olhando para Betty Boop, eu não acreditava. Mas porque diabos ela estaria num mesmo boteco que eu, aqui, em Belém do Pará, e sozinha, bebendo uma Cerpinha?

Bem, não era a mesma Betty Boop que conhecemos, jovem e com pele impecável. Ela Devia estar com uns 78 anos, aproximadamente, mas Betty estava bem enxuta. Os olhos graúdos dela não me enganavam!

Enquanto ela ficava sentada bem ali, no canto, olhando pro nada, de repente Betty gritou, com a mesma voz melosa que ela tinha nos desenhos em que atuou, mas um pouco bêbada:

- Tira esse Cab Calloway! Eu não quero mais ouvir essa merda! Isso me mata cacete! Cof cof. (Ela tossia)

E os garçons, nervosos, foram acalmar Betty e colocaram um disco do Vinícius. "Assim está melhor", ela disse. Betty Boop estava muito bêbada, e vi que a maquiagem dela estava toda borrada. De quinze em quinze minutos Betty ia no banheiro. O que será que ela fazia? Toda vez que essa mulher se levantava, as pessoas cochichavam ao redor, “olha a Betty como está velha!”. "Velhos são vocês!" . Gritava bem alto. É claro, ela era da década de 30.

Foi então que criei coragem, e pedi para o garçom levar um drink para Betty como cortesia minha. Afinal, eu era fã dela, e não poderia ficar apenas observando aquela grande mulher da minha mesa de madeira, eu tinha que chamar a atenção dela de qualquer jeito. Então o garçom foi lá e disse educadamente:

-Excuse me, Betty Boop!
-Excuse me o que porra? Não tá vendo que eu falo português, meu bem?
-Ok, esse drink é para a senhora, veio daquela mesa. Com licença.

Nesse momento fiquei meio sem jeito, Betty Boop olhou na minha direção com uma cara desconfiada, mas, como eu não esperava, ela sorriu e me chamou "vem cá querida!". E eu fui até a mesa dela, toda sem graça, mas sorrindo sempre.

-Obrigada pelo drink, menina! Mas por que tanta gentileza da sua parte minha jovem?
-Eu sou sua fã, de vez em quando assisto a seus desenhos. Mas o que mais gosto é, apesar de você ter pedido para tirar ainda há pouco, a sua atuação no musical em que Cab Calloway canta.
-Tudo bem, tudo bem. (ela suspirou e deu uma tragada do seu malboro light). É que eu não gosto de viver passado, quem vive de passado é museu. Sabe, isso me lembra tantas coisas, estou velha, e acabada, às vezes acho que todo aquele meu passado é uma grande piada mesmo.

-Que isso dona Betty!
-Não me chame de dona, não sou dona de ninguém!
-Desculpe-me...Mas você é formidável. Aposto que todo mundo te ama.
- Menos um, menos um! Esse foi o grande problema, sempre mostrei pra todo mundo aquele meu rostinho lindo e minhas pernas exuberantes. Sempre fui um sonho de consumo dos homens, todos me desejavam. E apenas o meu corpo e a minha fama, apenas. Mas, incrivelmente, quando me conheciam todos os homens se trasformavam. E hoje eu sou essa coisa velha, feia, cabeçuda e olhuda. Quem vai me querer?

-Ah, eu não acho não! Mas Betty, e o Bimbo, o seu namoradinho?
-Ah, querida!Ele era um cachorro, apenas uma outra curtição mesmo. Vai querer?

Fiquei envergonhada quando a Betty me mostrou o que tinha na bolsa dela, era um saquinho de pó e um cartão Visa. Mas, tentei mostrar pra ela que eu era descolada, mas que eu estava muito gripada, "não, não estou bem, não quero". E ela se dirigiu, toda elegante, ao banheiro. A Betty tinha se tornado uma velha viciada em pó, cigarro e álcool. Mas a minha admiração por ela era a mesma. Ela voltou do banheiro com os olhos mais arregalados que antes (Será que os olhos dela são grandes por causa disso?).

-Poisé, minha querida, nessa vida eu tive de tudo e vivi um pouco mais que muitas pessoas daquela década em que nasci. Eu vivi numa época de muita hipocrisia, imagina. Seu eu usasse um vestido muito mais decotado, era encrenca na certa. Povo hipócrita daquela cultura americana de merda! O problema era que todo mundo queria me comer! E eu comi todo mundo mesmo, para provar para aquelas mulheres que nem um homem as valorizava. E sabe de uma coisa, aproveita menina! Aproveita que vida é só essa mesmo, é escrota, mas é essa.

- Credo Betty, mas você se arrepende de tudo isso?
- Só me arrependo é de ter dado moral para homens que não mereciam, mas no todo, não me arrependo não. Fui e ainda sou celebridade, minha carinha está em todos os cantos, como você deve perceber. Me cansei da fama, me cansei de tudo, estou velha e acabada. Mas não me arrependo de nada não. Bem, vou embora, daqui a pouco tenho que ver minha filha.

- Filha?
- É, tive uma filha, hoje ela tem 35 anos. Bem, vou indo.

E Betty Boop foi cantando bem alto "Chega de saudade..a realidade é que sem ela não há paz, não há beleza, é só tristeza e a melancolia, que não sai de mim,não sai de mim,não sai". E foi embora sem pagar a conta. Tive que pagar todos os whiskies que ela havia bebido. Que prejuízo! Mas, quando olhei para o banco do lado, vi uma cartola, acho que deve ser uma daquelas que ela usava, e escrito "para você,aproveite, dance e cante muito, que a vida é para boemios. Betty Boop". Fui para a minha casa, feliz por essa noite um pouco inusitada.

+++ Betty:
http://ohvarios.wordpress.com/2008/01/25/betty-em-minnie-the-moocher1932

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