terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Menina Mãe

A morte. Fiquei íntima dela com 12 anos no dia em que ela decidiu levar a minha mãe. Essa fatalidade do destino apertou o meu coração quando eu soube pelo rosto da enfermeira que mamãe havia ido embora (ninguém tinha me explicado o que era exatamente a morte), mas mamãe deixava o seu sétimo filho para a sorte no mundo.


 


A querida mãe estava mais branca e pálida do que nunca no seu leito. Morreu bem ali debaixo do meu nariz, sem avisar os filhos, sem uma última despedida, sem um último beijo no rosto. A ultima voz que ouvi da mãezinha foi um grito, nada mais.


 


Restara o meu pai, vi as lágrimas e o desespero dele correrem as veias. O suor angustiado da testa e o calor dominar o seu corpo todo. A raiva possuir a alma do velho. O que o meu pai ia fazer sem a mamãe com sete filhos para criar? Ele correu e arrumou as malas, olhou nos meus olhos e disse “espera filha, eu volto”.


 


Naquele momento senti que ele não voltaria nunca. Desde então prefiro acreditar que ele foi assassinado. Agora eu teria que dirigir a pergunta para mim “o que eu vou fazer com 5 crianças e um bebê para criar?”. Eu só tinha 12 anos, será que o pai não sabia disso? Então mais uma vez a morte ficou íntima da minha vida: o meu pai faleceu, e ponto final. Eu assumiria a paternidade e maternidade dos meus irmãos, seria a menina mãe.


 


Neste momento me apoiei ao Pai maior, ele não me deixaria só. Qualquer pessoa que não tivesse forças não conseguiria ter razão para pensar em solucionar essa tragédia. Mas eu estava viva, eu e meus irmãos. Nós, e sem nenhum familiar para amparar a gente. Os pais dos meus pais já tinham falecido. Eu era orfã aos 12 anos, em 1932, no município de Capanema, no Pará.


 


É claro que as autoridades da lei em Capanema não queriam deixar eu criar minhas crianças, mais uma fatalidade que eu não deveria engolir.


 


Eu não deixaria de jeito nenhum estas pessoas estranhas roubarem a minha família. Isso não era justiça, faltava-lhes piedade no coração. Será que eles não sentiam a dor daquela menina? Será que eles não pensavam que era cruel demais afastar os únicos laços de família que lhe restara?


 


Mas o prefeito da cidade conhecia minha mãe, o Coronel Matias. A minha força de mãe precoce, as minhas palavras de adulta o comoveram. O Coronel Matias pediu que as autoridades não me pertubassem mais, e prometeu que daria pão e tudo o que as minhas crianças necessitassem. Ajoelhei, beijei as suas mãos, agradeci e chorei. Era uma mensagem divina, eu nunca mais estaria só.

1 comentários:

douglas D. disse...

eu tinha 13 anos qdo minha mãe morreu.

2 de dezembro de 2008 às 21:45

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