sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Os sinos

Meio dia de dezembro. Não acho que o clima seja natalino, mas um clima existe, é fato, é bom. O calor me sufocaria se eu não estivesse saído do ar condicionado. É só um quarteirão até meu carro, não cansa, não faz calor. Pelo contrário, faz-me um agrado, tira o frio, faz voltar à vida. O mesmo guardador de carros, parado na mesma esquina. O céu azul, o sino agitado da igreja da mesma esquina do flanelinha. Sempre toca ao meio dia, meio querendo avisar que existem demônios no chão quando estamos nas nuvens. Quando não estamos, nos faz olhar pro céu. Os sinos sempre nos levam a algum lugar.


 


Coloco os meus óculos escuros assim que saio porque tenho mania de achar que estou sendo filmada. Vai saber? Que nem em Hollywood, naquelas cenas de comédia romântica onde tudo pode acontecer durante as míseras duas horas do almoço. Eu reflito sobre o meu absurdo, “Como assim, filme, cara?”, duas horas mal dá pra colocar um prato médio de salada na barriga e um banho de português, isso porque eu moro a cinco minutos do trabalho.


 


Mesmo assim eu gosto de imaginar que em algum lugar do Universo alguém filma meus passos, nem que seja mentalmente. Alguém deve nos acompanhar, não é possível. Algum ser superior, espiritual, alienígena ou microscópico deve anotar tudo o que fazemos. Será que ele sabe das minhas canções trancadas no quarto? Das perseguições silenciosas em minha cama? Parou. Não gostei desses pensamentos, constrangedor.


 


Meu coração está tranqüilo. Não sei se é porque todo toque de sinos nos transmite certas vibrações, sol de meio dia, clima de sexta-feira. Alguma felicidade sem explicação. Eu me sinto feliz. Uma alegria que se tivesse algum nexo talvez não fosse tão grande. Será de mentirinha? O que me importa? Eu a sinto e a suplico permanência. Pego-me sorrindo pro nada pelo vidro peliculado do carro. Daria uma cena e tanto.


 


A verdade é que eu amo. Amo você, o céu azul, o trajeto das coisas, as minhas antigas frustrações, os frutos que plantei, as glórias que colhi, as guerras contra mim, contra todos, tudo, eu amo. Eu nunca pareci fazer tanto sentido. Não existem explicações, existe só o sentido certo do caminho que eu não sei onde vai dar. O tal do coração aquece tanto que eu tenho vontade de chorar, de ligar e dizer para as minhas pessoas especiais que elas são as minhas pessoas especiais.


 


Eu amo, cara. Do que tenho que reclamar? Amar dói pra caralho, magoa pra porra, me faz perder o que mais tenho medo: o tal do meu orgulho e o meu alto patamar imaginário. Quanta bobagem, necessidade de auto-afirmação. Mesmo assim eu tenho medo, fala sério, não quero sair de lesa pra ninguém. Amar é foda porque eu passo horas rezando pra que todas as pessoas que eu amo continuem vivas. E eu sempre me esqueço de um e acho que cometi uma injustiça. E rezo dobrado pro excluído para compensar. E mesmo assim eu tenho um medo da porra de ficar longe. Admito: sou dependente.


 


O tal do amor me transforma em piegas, cara, o sol ta mais azul que o normal. É porque amo. E eu vejo um passarinho em cima de um parapeito pichado e acho isso o máximo. Sou babacona mesmo. Dessas de cartinha, declarações em momentos inoportunos, surpresinhas. Faço um bando de coisa tosca. Besta pra caramba. Meio fantoche, complicado de dizer não. Mas prefiro dizer nada, fingir que não sou nada disso. É meu grande segredo.


 


Quer saber? Eu amo mesmo é ser assim.



2 comentários:

moa disse...

ebaaaa, amei essa volta!

5 de dezembro de 2008 às 13:59
Carol disse...

Depois de dar as caras aqui pelo blog, falta dar as caras pessoalmente, néam??
Bom texto!
Acho digno da sua parte assumir que curte coisas toscas! hahahaha

12 de dezembro de 2008 às 03:37

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