segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Daniel you're a star in the face of the sky. E.John.

“E deve-se também pensar que os filhos podem morrer. É preciso se preparar para isso, tentando deixar o mais claro possível o diálogo que temos com eles. A perda de um ser amado é tanto mais irreparável quanto menos fomos longe no diálogo com ele. Isso não se trata de preceitos ou valores morais, de ética. A lógica do amor não é lógica da moral. Trata-se de uma sabedoria do amor, e não de uma ética moralizadora ou de direitos humanos.” LUC  FERRY


Perdi um amigo, e ver o corpo dele no caixão não foi uma imagem que eu gostaria de ter visto. Mas quando olhei para o rosto dele, eu sorri, e lembrei que o Dan me fez gargalhar a maioria das vezes que eu estive ao lado dele. Quando eu estava triste, chorando pelo irmão do Dan, o qual foi meu primeiro namorado, o Dan falava “Deixa disso, sorria”, e contava uma piada para me alegrar.


Mas a realidade é que ele estava morto, e tive um pouco de raiva do destino. Um rapaz tão jovem, cheio de sonhos para realizar, simplesmente morreu porque o coração dele não agüentava mais a vida. A vida que o fez ser pai tão cedo, que o levou a trabalhar para dar comida ao filho. Mas o coração dele era jovem, ele sonhava como todo o jovem, e isso eu não consigo aceitar.


Há 10 anos, quando conheci o Dan,  ele representava para mim a formação da minha juventude, quando eu queria sonhar e não querer saber de coisas chatas de adulto. Eu, o irmão dele, o Dan e os nossos amigos. A maioria meninos, todos se reuniam depois do colégio lá na pracinha da Pedro Miranda.  A gente não gostava de internet, nem coisas de ir para encontros de internautas em shoppings, gostávamos era da rua e de reunir com os amigos. Jogávamos RPG na casa do Drezinho, e praticávamos esporte. O Dan não gostava de esporte, mas ele gostava de estar com a gente. É tão viva a memória dessa minha época, de quando a gente se metia na praça da república, cada um com a camisa de sua banda predileta, e íamos fazer roda de violão, o Dan tocava para gente. Todos querendo ser rebeldes e roqueiros.


Então escrevo para ti, se tivesses vivo, gostaria que tivesses lido esse meu texto. Mas acredito que a vida é muito mais, e que sentias isso. Então lembrei dos momentos especiais que tive quando convivi contigo. Da primeira vez que a gente se conheceu, foi naquela festa na tua casa que só tinha homem, o dia em que eu resolvi te admirar. Nós éramos bem mais jovens, e gostávamos de Nirvana. Você e seus amigos faziam a barulheira que irritava a mãe dos irmãos Alcântara, a tua mãe que te achava um rebelde sem causa, lembra? Ela é mãe, eu dizia. Eu lembro muito bem, parece que estou vendo você falar comigo. Então escolhi namorar o teu irmão, e você ser o meu cunhado. O único cunhado de verdade que eu tive.


Lembrei que eu odiava ouvir Gun´s Roses, e ainda mais quando tu resolvestes montar uma banda com o meu irmão para ensaiar no porão da Bernal do Couto, na minha casa. Mas eu ria toda vez que o Junior cantava e meu gato siames miava com ele. É, meu caro, o Axl devia ter treinado miados com gatos quando ele resolveu sair cantando por aí...Eu não gostava da voz do Axl, e ainda mais da voz do Junior. Tudo bem, era uma banda cover perfeita do Gun´s. E tudo isso veio na minha memória como um filme, ao ouvir “patience” no seu velório, com o Junior chorando no caixão. E com o forte abraço da sua mãe.


Eu sempre acreditei em ti, Daniel Jam. Acho que comecei a ouvir Pearl Jam por tua causa, tu eras um viciado no Veder, era  a tua droga. Quando foi isso? 1998? Minha memória para anos é péssima.  Vi um rapaz cabeludo, alto e sorridente, com uma camisa do Pearl Jam e uma guitarra, um rapaz cheio de sonhos, ali no corredor do colégio. Às vezes também usavas, mesmo com o calor dessa cidade, uma camisa de manga comprida preta por dentro e por fora uma camisa xadrez, como um grunge. Eu achava legal, e entrei também na tua onda de sonhar com a música, fui tua tiete até quando eu não gostava do Gun´s. Frequentei alguns shows só para apoiar você, ainda bem que era rock meu amigo!


Era tão bom ser da tua família, o outro irmão que eu amava. O Dudu com veia jornalística e você com o talento para a música e a vontade de ser uma estrela do rock. Os dois se completavam, a dupla que entrava em conflito, mas que era perfeita: cada um com um gênio forte.


Eu falava "Toca aí Dan", e tu tocavas qualquer rock, fazia uma piada no meio, sorria para mim. Parece que estou ouvindo a sua voz e seu sorriso, é o que vai ficar pra sempre nas minhas boas lembranças. Os teus abraços de conselho quando eu chorava. Eu ainda não consegui cair na realidade, parece que estou sonhando, ou que estão contando uma piada sem graça. Queria ter vivido mais tempo ao seu lado, e tu estavas tão bonito e adulto desde a última vez que eu te vi. Mas tu morrestes, e bem ali vi teu corpo sendo velado pelos que te amam. Pensei que eu nunca ia chorar por alguém que só me fazia rir. Mas você pode ir em paz, pois todos os seus gestos vão ser lembrados pelos os que acreditavam nos seus sonhos, e sempre lembraremos que  davas valor a vida e a todos que tu amavas.


 


Os jovens nunca deviam morrer, Deus errou nisso quando criou a vida. Ainda mais se os filhos morrerem antes dos pais, isso dói demais. Porque a lógica seria os filhos enterrarem os pais. Mas a vida não tem muita lógica. Eu ainda não consegui aceitar com a minha razão essa realidade. Porém, penso que o sentido da vida é sempre amarmos os nossos amados, e sempre resolvermos nossos conflitos com os familiares. Penso que o pai que não perdoa o filho irá conviver com uma dor intensa para o resto da sua vida, se caso a prole venha a falecer antes dele, o mesmo acontece se for o contrário. É uma sabedoria para aqueles que não acreditam em algum preceito divino, penso que o rancor, orgulho, raiva, são sentimentos baixos e que devem ser eliminados enquanto se tem vida. Os nossos amados sempre devem ser homenageados vivos, com um gesto de carinho, com um gesto de respeito. Com uma demonstração de amor. Só assim talvez conseguiremos dar sentido às nossas vidas. E viver sem temores.


Moara Brasil

3 comentários:

douglas D. disse...

Que toda a vida esteja fadada à finitude, à mudança, à impermanência, é algo que diz respeito à sua essência e não poderia ser ignorado. Mais uma razão para dedicar à vida ´a própria, a dos outros - todos os cuidados que ela exige. Existe algo mais frágil? Existe algo mais precioso?Existe algo mais insubstituível?
Desconfiemos dos profetas do nada, que, pela certeza da morte, gostariam de tirar-nos o gosto pela vida. O fato de uma viagem dever ter um fim não é a razão para não a empreender.
(André Comte-Sponville)

20 de outubro de 2008 às 22:05
Bruno disse...

A impotência que a perda de alguém causa é uma merda. Espero que nossos textos cheguem ao destino...
http://brunorossi.com.br/things/2008/07/os-bons-morrem-cedo/

21 de outubro de 2008 às 03:26
Madame Poison disse...

Ele não leu mas eu li. E as lágrimas não exitaram em cair. As lembranças nos torturam tanto né?
Eu consigo lembrar exatamente daquele dia, da dor que senti e que podia vislumbrar no olhar de todos que ali lhe prestavam uma última homenagem a Daniel Jam.

Ps: Quem vos fala é Aline, mãe da Daniela.
Desculpe a invasão tá?
Mil beijos em ti e na tua família.

9 de agosto de 2009 às 13:33

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