terça-feira, 23 de setembro de 2008

É difícil falar de você

Por Lunna



 


É difícil falar de você. Mentira. É tão fácil que costumo fazer um esforço desumano para não contar pra tia da copa que ontem fomos ao cinema ver um filme “pão com ovo” e devoramos um saco de meio metro de pipoca. Quando a minha chefa me pergunta como foi aquela reunião, tenho vontade de dizer a ela que eu nem entendi direito o que se passava, mas que mais tarde você irá passar lá em casa e assistiremos a reprise do programa do Silvio Santos. E depois iremos derramar um pouco de pimenta no sofá quando você resolver traçar as suas pernas com as minhas bem na hora de comer coxinha. É tão complicado esconder o seu nome em cada meio metro de frases banais que eu falo que já me acostumei a me policiar o tempo todo. É por isso que quando estou assim, livre pra falar de você, é realmente complicado. É o que eu quero. Ainda tenho um certo medo de fazer o que me dá na telha.


 


 


Já faz quase um ano e eu ainda não consigo identificar a marca do seu carro. Eu tenho que saber. Todas as vezes que você passa pra me pegar eu não consigo desviar o olhar para a bunda do carro. Foco-me em você e esqueço de averiguar que diabos de carro que é. Quando eu chego em casa lembro que esqueci de saber. É um tormento, sabe? Todos os carros prata que eu vejo no trajeto casa-trabalho-casa me parecem com o seu. Toda esquina o coração parece sair pela boca. Umas putas náuseas, sabe?


 


 


Pois bem. Você é impressionantemente tão igual ao que eu sempre fantasiei que em cada trago soltado para a escuridão de fora da minha janela eu me questiono se não estou de fato tendo um colapso imaginativo. Vai ver eu finalmente fugi do mundo dos homens e com a minha atual formação em PHD em devaneios, já consigo bolar fatos e vidas irreais. E é justamente nessa hora que você me liga pra desejar uma boa noite e dizer que vai sonhar comigo. Sonho ou não, eu prefiro ser piegas: não quero acordar.


 


 


Aí eu me encho de medo e de tudo o que afeta o estômago mais do que macarronada de atum azeda e tenho vontade de gritar para o brother da padaria que quando eu vejo aquele leitão eu quero muito que você prove essa iguaria comigo. Aí eu lembro que nós já temos uma agenda gastronômica tão cheia para os últimos meses que devo marcar a minha lipo para o fim do ano.


 


 


E mais uma vez não consegui escrever sequer um adjetivo seu. E mais uma vez não deu pra te definir pra mim e pro mundo, e pra nos definirmos juntos. E juntos nos definirmos separadamente. É difícil falar de você. Ah, se é.

1 comentários:

moara disse...

né difícil não, falastes tudo.
=]

24 de setembro de 2008 às 15:54

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