segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dia da verdade

Por Alice

Decidi que hoje é o dia da verdade. Institucionalizei, circulei no calendário com caneta marca texto e repeti três vezes em frente ao espelho. Hoje é dia da verdade. No dia primeiro de abril todo mundo sai por aí contando umas mentiras idiotas e porcas achando que é a coisa mais legal do mundo e pior, essas mesmas pessoas passam esse mesmo dia perguntando umas às outras se já "caíram" em alguma balela. Pois bem, hoje verei se esses mesmos espertões gostam da verdade, de verdade.


Vou começar dizendo para essa senhora aqui do trabalho que ela precisa parar de entrar na sala dez vezes por dia para usar o telefone, até mesmo porque esse telefone não é para que ela saiba se a filha dela já comprou o xampu e se vai ter carne assada com batatas para o almoço. O telefone, assim como o ambiente todo , é para fins comerciais. Chega de ligações, minha senhora, chega! Saia da minha sala e vá direto numa farmácia comprar uma tintura para esse seu cabelo medonho. Mas escolha uma cor e fique com ela até mês que vem, porque se apareceres aqui segunda-feira com o cabelo numa outra tonalidade como toda semana acontece, eu juro que perco a cabeça.


Quem aquele garoto pensa que é para passar ao meu lado e não falar comigo? Vem cá, moleque, tenho umas coisas para te contar. Primeiro que o sexo contigo era uma porcaria És um brocha. Ah, pensa que eu me esqueci disso foi? Não só não esqueci que és um brocha, como lembro direitinho quando me achaste a mais puta porque te pedi uns tapinhas na cama. Ah, fala sério, cara. Devias ter tido um súbito acesso de verdade como estou tendo agora e ter me contado que queres uma frígida sem sal na cama. Faz um favor para mim, faz? Não deixa só de falar comigo, não. Muda de lado quando me avistares, de rua, de cidade. Tenho medo de não me controlar e cuspir em ti quando passares ao meu lado.


Ainda descubro porque a cozinheira põe cenoura em tudo: macarrão, carne assada, carne cozida, frango guisado. Tudo, exatamente tudo, leva cenoura. Seja ralada, fatiada, em cubos. Porra, eu gosto de cenoura, tia. Só tô começando a achar que vou morrer de overdose de betacaroteno. Pega leve na cenoura, tá bom? Bem, agora vamos falar sobre o café. Cada um gosta de um jeito. A senhora não precisa derramar um quilo todo de açúcar na garrafa térmica. Eu sei que minto todo dia dizendo que tá ótimo, mas já virou um vício mentir para a senhora e para o meu paladar. Hoje eu exijo menos cenoura, menos açúcar e mais sabor. Minhas cáries agradecem. Obrigada.


O mesmo vale para a galera que gosta de reparar no visual dos outros. Sim, gente. Eu cortei o cabelo, sim. Ou vocês achavam que ele tinha caído? Ia ser o máximo, já pensou? Cair assim, de forma degradê? Um luxo só. Sim, eu engordei. Já entendi isso, galera. Pronto, agora podem voltar aos seus espelhos e reparar suas caras enrugadas, suas roupas cafonas, seus perfumes exagerados, sua forma cinzenta de ser e de viver e  deixar eu e meu cabelo, meu estilo, minha vida em paz porque já sou um inferno cheio de inseguranças e temores sobre eu mesma? Agradeço novamente.


Cansei de ser assim: meio extraterrestre ou autista. Dizem que eu sou estranha e eu me sinto assim. Fazem-me sentir assim.  Porque quando falo o que penso e isso agrada, eu tenho um jeito espontâneo. Se o que eu falo desagrada, sou impetuosa. Ninguém nunca se poupou de me criticar, de me apontar o dedo e de colocar em meu peito uma letra escarlate para me taxar como ovelha negra.


Pois saibam que a ovelha negra também sabe berrar e eu berro por isso, pelas verdades. Por um pacto com a verdade nua e crua. Tenho plena consciência que não posso sair por aí reclamando do pau pequeno do brocha, do cabelo e da tagarelice de uma senhora ou até mesmo da comida. Eu tenho consciência! Eu tenho fome de vida, de amor, de pôr-do-sol, de cerveja gelada final de tarde, de rock dos anos 80, de tatuagem e isso vale muito mais do que revelar aos outros o que eles deviam saber sobre si mesmos. 


O preço de ser tão fã da verdade é o rótulo. É como carregar consigo para todo canto, como um caracol carrega sua casinha nas costas, tudo que você pensa e mais o fardo do que os outros pensam de você. A maioria - talvez seja por isso que Maquiavel dizia que a unanimidade era estúpida ou burra, ou sei lá o que. Não sei qual o termo que ele usara - passa maior parte do tempo a olhar o rabo dos outros e esquece de limpar seu rabo e coloca-lo entre as pernas antes de reparar na vida dos outros.


Vamos viver com nossas verdades. Rir do que nos alegra é um direito. Pintar o cabelo uma vez por semana de uma cor também. Assim como o "laranjinha" da cenoura alegra a comida, engorda e faz crescer. Deve ser por isso que tô gordinha. Mas sou uma gordinha saudável e feliz. Se a Preta Gil é, porque eu também não posso ser? Eu sou. Claro que sou. E agora chega. Acabou o dia da verdade. Voltarei pro meu sorriso hipócrita porque nesse momento.... adivinha? Tem alguém de cabelo multi-colorido que me pergunta: 


- Oi, meu amor. Posso fazer uma "ligaçãozinha" rapidinho?


As verdades me exauriram tanto quanto substantivos e adjetivos no diminutivo.


 

7 comentários:

Bruno disse...

Espero que o ilustre "broxinha" não frequente o Ohvarios.

30 de setembro de 2008 às 02:21
moara disse...

huhuaehuaehuahehuaehueh!

30 de setembro de 2008 às 07:16
Vivi Ane disse...

uhuhauhauhuahuhauhauhauhauha


e espero que de nenhuma forma, minhas costas largas sirvam de suspeitas nesse texto...


porém quero dizer que achei demais o texto.

30 de setembro de 2008 às 08:41
Carol Barata disse...

Costa larga é, amiga? hahahahaha
Mas por que já? Estás sofrendo perseguição da Ditadura Militar?
Estás sendo proibida de escrever e te expressar livremente?

HAuHauHAuHAuhUAhAUh


brincadeirinha ;)

1 de outubro de 2008 às 05:39
Vivi Ane disse...

Mana, pelo andar da carruagem... tudo pode acontecer!

1 de outubro de 2008 às 10:59
moara disse...

"Pintar o cabelo uma vez por semana de uma cor também. "

a única que pintou o cabelo ate agora que eu me lembre foi tu

euauhaeeaheahhueaheaheahueuhea

eeeeeeeeeeeeeeeeee, náranánánáná ná

1 de outubro de 2008 às 11:50
Vivi Ane disse...

uhauhauhauhuahuahuhauhau

não tô falando?

querida, eu teria sido mais esperta e despintando...
não o cabelo, digo, o texto mesmo!

2 de outubro de 2008 às 12:54

Postar um comentário

 

©2009ohvarios | by TNB