terça-feira, 9 de setembro de 2008

O reset interno.



"Minha alma tem o peso da luz.

Tem o peso da música.

Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita.

Tem o peso de uma lembrança.

Tem o peso de uma saudade.

Tem o peso de um olhar.

Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou.

Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector

 

Tudo na vida cansa. Quer saber? Cansei! Durante muito tempo achei que ser essa esponja sentimental era meu carma. Absorver todas as dores que eu consigo, como se fizesse parte de uma trajetória quase implícita. Ai eu sofri, sofri e sofri.

Sempre achei extremamente normal chorar. Isso significa dizer que já chorei em igrejas, festas, casamentos, hospitais, ônibus, praias e como não poderia deixar de ser, em quase todos os bares e festas da cidade. Isso era uma válvula de escape pra mim. Me sentia mal, refletia e me largava no choro. "Pronto! Agora sim, tô leve. Posso enfim abstrair o peso que sentia ainda a pouco".

O que entra em questão agora não é o comportamento que sempre tive. E sim, o porquê dele. E as suas consequências. Porra! Se eu sou assim tão legal, tão madura, tão forte para os problemas dos outros, já está mais do que na hora de eu passar a ser assim por mim também.

Então fica decidido. Acabo aqui meus fantasmas antigos. Quero reciclar até mesmo eles. Chega de me aprisionar em passados que eu não pude entender o que aconteceu. E esperar desses mesmos fantasmas, solução para isso. Como disse Caio Fernando de Abreu, em seu texto"Carta a Zézim" ‘O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.’

A mente humana é tão estranha a esse ponto. A solução, a resposta é "in". Mas estamos sempre olhando ao nosso redor, perguntando a terceiros o que deveríamos fazer. O pior de tudo é saber que se fosse tão simples, se as respostas aparecessem assim tão claras, perderiam uma boa parte do prazer e da satisfação de resolver algo que não mais irá atormentar.

Tenho batido minha cabeça na quina do criado mudo para tentar entender sentimentos que tenho por algumas pessoas. E isso extrapola os limites sexuais. Me refiro a tudo. Família, amigos, entre outros personagens.

O que eu percebo é que as vezes eu engradeço o que não deveria ser grande, subestimo coisas que no fundo sei a força que podem chegar a ter. E sempre, eu disse sempre, coloco um ciclo vicioso nos amores que tenho. Como se fosse possível carregá-los dentro mim. Constantemente e involuntariamente em minha vida. A consequência disso é que me torno pesada. Absorvo, idealizo e tento proteger o que não tem mais nem motivos para tal.

Com isso esqueço de mim. Saio do meu espaço físico e psicológico e passo a ter uma preocupação que não deveria ser minha, e sim do receptor desse sentimento. Quer saber?! Danem-se todos! Vou resetar tudo, recomeçar, terminar o que está inacabado, inclusive cada texto que tenho guardado e que quase ordinariamente escrevo mais uma parte. Agora não. Vou terminá-los e exterminá-los de mim. Eu não tenho que me cuidar sozinha? Por que tenho que fazer isso pelos outros também? Isso, sem ninguém me pedir que o faça. Eu sei das vezes que agi de maneira equivocada e perdi muitas coisas por isso. Não sou eu que tenho que sofrer também pelas pessoas que fizeram o mesmo. Resolvi acabar com esse misto de medo, preocupação e piedade pelos que não sabem o que irão ganhar ou perder com suas escolhas. Isso tem que partir de seus autores, não de mim. Já não basta as minhas dores, as minhas cruzes que tenho para carregar.

Isso é auto flagelação da minha parte. Sofrer por mim e pelos outros?! Chega! A partir de agora, serei leve. Não quero mais brincar de ser Tereza*, quero ser Sabrina* quem sabe. Cada um deve saber o que é melhor pra si. Eu estarei aqui, disposta a tentar ajudar quem resolver em um belo momento entender que sim, precisa de alguma ajuda da minha parte. Mas, sofrer pelos outros, basta! Falo tudo isso porque sei que metade das minhas crises, dos meus prantos e de mais qualquer ação que cometo por estar mal vem dessa minha eterna mania de sofrer por mim e pelos outros. Sofrer ao quadrado. Duplico os problemas e não tenho com quem dividir as soluções.

Enfim, nem sei se ao menos consegui me fazer entender nesse texto. Mas ele antes de mais nada é um registro de uma evolução particular. Da vontade infinita de ser uma pessoa melhor. Só que dessa vez, antes de mais nada, quero ser melhor pra mim.

 

*Teresa e Sabrina são personagens do filme "A insustentável leveza do ser".

4 comentários:

moara disse...

Acreditas que ainda não assisti a esse filme?Poisé..

Seja leve, já basta os nossos problemas, que não são muitos, mas são, e não deixam de ser problemas para gente. Sofra e resolva apenas os seus problemas, o mundo é egoísta, baby.
Se é para chorar pelos outros , que o outro valha muito a pena. Seja o melhor para si.

muah!

beaxo me liaga e meaxuta!

9 de setembro de 2008 às 12:24
carolinabarata disse...

Pois é, né...
Morreu? Morreu. Antes ele do que eu.
Já fui muito, muito, muito esponja. Hoje não sei mais pedir ajuda. Fico remoendo meus problemas, pensando: ema, ema, ema. Cada um com seu "pobrema".




PS: Não tô nem pra Teresa, nem pra Sabrina. Acho que tô mais é pra Costinha! HAUhAUhUHuahU

love you, chuchu.

18 de setembro de 2008 às 07:16
carolinabarata disse...

Esqueci de te dizer o quanto amo esse texto do Caio F.
Na verdade, foi o primeiro texto dele que li na íntegra. Logo depois de ter visto o curta "Avenca" no festival de curtas da Petrobrás, ano passado.
O curta é uma adapatação de "Para uma avenca partindo" e eu fiquei embasbacada com a linguagem do Caio. No outro dia, já estava eu catita de google, encontrando esse texto no site Releituras.
Sou apaixonada por "Carta ao Zézim". Até coloquei um trecho dele no meu e mail-depedida da Mayra Castro.

O caminho sempre é in. Nunca off.

18 de setembro de 2008 às 07:21
Leila disse...

é, minha amiga... e lá venho eu com a minha filosofia de boteco e repito: "a rapadura é doce, mas não é mole não"... não mesmo!
o importante, é que pelo menos nós, já descobrimos que a força vem de dentro, de nós mesmos... e que a ajuda mais válida é a auto-ajuda.

obrigada, Vivi - tu sabes pelo quê.

25 de setembro de 2008 às 11:01

Postar um comentário

 

©2009ohvarios | by TNB