quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Teoria dos Gigantes



Por Moara Brasil

Joana não consegue entender esse mundo. Ela sempre achou, desde criança, que era de outro planeta. Quando Joana tinha 5 anos, não sabia nada sobre a morte, a origem do mundo, e outras coisas mais. Acreditava que todos os humanos cresciam até ficar gigantes, e lá no alto, bem distante, encontrávamos Deus e tomávamos  uma Coca-Cola com o dito cujo. E assim viveríamos felizes para sempre, fazendo churrasco de picanha aos domingos com toda a imensa família. Mas a sua prima, Letícia, um dia contou para ela que isso era loucura da cabeça dela, e que o fim de todo mundo era a própria terra, tudo virava cinzas, pó. Joana, decepcionada, chorou uma semana inteira. Ela se perguntava "Como podíamos  ficar do tamanho desses adultos e depois virarmos cinzas?". Ela achou isso mais absurdo do que a sua Teoria dos Gigantes.

Revoltada, cresceu meio amarga. Se nosso fim é a própria Terra, então nada melhor do que aproveitar tudo o que ela proporciona nessa vida. Resolveu plantar algumas sementes e subir em árvores na rua da casa dela. Sempre firme e forte junto a tal terra, para onde ela iria um dia, lá para baixo junto com as futuras amigas minhocas.

Porém, ela queria acreditar em algo: foi fazer uma tal de 1º Comunhão. Até que um dia, a freira Dora Alice chamou a sua atenção. Joana foi escolhida para ser uma daquelas meninas que lêem a Bíblia lá no altar, no dia da Comunhão (coroinha?). E, uma vez, quando ela estava indo ensaiar, a irmã Dora Alice disse:

- Menina, você não pode mostrar as suas pernas dentro da minha Igreja!

Joana perguntou o porquê, porém todas as colegas daquele ambiente riram da cara da magrela. A menina de 9 anos voltou para a casa, e mais uma vez chorando. Queria saber se Igreja por acaso tem dono, e se havia alguma lei na Bíblia ( o tal livro mais sagrado ) que proibisse meninas magrelas de entrar de saia na Igreja da irmã Dora Alice. Ela chorou mais uma vez! Realmente era melhor que tudo acabasse em cinzas. Bem que a mãe de Joana já havia dito para a filha não se meter nesse papo furado dessas irmãs.

Se agora o futuro de Joana era as Cinzas, e a Terra. Parou nesse momento em acreditar na Igreja. Preferia rezar para um Deus que ela havia inventado: o Deus dela mesma.

Joana insistia, ela não era dessa Terra, de jeito nenhum! A Tia Cristina disse para a garota que ela crescia, e que já era hora de criar paixões e amigas, para poder viver por aí a fora. Mas Joana não tinha uma grande amiga, nem uma grande paixão. Ela gostava do quarto dela, do Diário e aquela caneta bic, e do Livro das Virtudes, que a sua mãe havia dado  de presente de aniversãrio (e ela nem tinha dado tanta bola para aquele livro imenso do William Bennett ) . De vez em quando, nas reuniões de familia, ela brincava de "Comandos em Ação" com seus numerosos primos. Não queria brincar com as meninas, achava-as muito chatas com aqueles papos de bonecas, de casamentos, de família e tudo mais.

Mas ela resolveu ouvir a tia Cristina, e foi enfim tentar ter duas amigas. Uma era a própria irmã, que ela não conhecia direito, a outra seria a Betinha, amiga da Vila. Pediu para que a mãe dela  deixasse a irmã passar uns tempos na casa da sua família.

Depois de umas semanas, veio enfim a decepção. A sua irmã implicava com tudo, dizia que Joana era magra, muito magra, que era feio para a cara dela. Que as suas roupas eram bregas e que seu cabelo era demodé. Foi então que a irmã dela teve que ir, e para não voltar mais, pois havia roubado todas as roupas e os sentimentos de Joana. É, Joana não tinha muito sorte para conviver com outras pessoas nesse planeta.

Uns dias depois decidiu que ia ter uma grande paixão, e já com 10 anos escolheu o Ric Loro. O Ric Loro era o gatinho rico de 14 anos lá da Vila onde ela morava, loiro, dos olhos castanhos, um rapaz bonito. Joana olhou para vários garotos e apontou para ele, e se fosse para se apaixonar, que ao menos fosse belo. E decidiu também escolher uma amiga, apontou para a Betinha e a selecionou como a sua grande confidente.

Passou 1 ano, e Ricardo não dava bola, não queria nada. A coitada sentiu a  sua primeira desilusão, escrevia tudo no seu Diário e chorava pelo amor não correspondido. Betinha, sua grande amiga, a consolava e tentava dar dicas para ela não desistir nunca e falava "menina, come mais um pouco". Porém, Ric não a queria.E ainda disse que não a namoraria porque ela era muito "magrinha" para ele.

Joana chorou mais uma vez, e por que magra não podia ter paixões? Nessa hora ela lembrou da Igreja, e não compreendia o porquê da irmã Dora Alice ter visto tanta falta de pudor naquele corpo magro, das pernas finas e bunda seca. Sim, magreza não deve ser um bom exemplo para se viver bem nesse mundo. E não demorou muito para outra decepção, a Betinha começou a namorar com o Ric. E ignorou a existência de Joana por alguns dias, até Ric deixá-la sem explicação. Joana sabia disso e, como amiga, foi consolá-la.

Era difícil compreender esse mundo, tentou ter uma paixão, mas não podia porque era "magra". Tentou ter uma irmã, mas não podia porque ela era "magra".Tentou ter uma grande amiga, mas também não rolou, talvez porque a amiga era gordinha, ou porque a Betinha gostava de meninos que não gostavam de magras (que confusão!). E Joana pirou. 

Realmente tudo deveria terminar em cinzas, era tanta loucura, tanta incompreensão que era melhor ela abandonar aquela Teoria dos Gigantes e preferir que tudo acabasse em pó, pois não aguentaria viver muito tempo ao lado de gigantes, ainda mais para quem fosse magra.

10 comentários:

cruela cruel disse...

viu? não tem vantagem nenhuma ser magra..

rs

4 de setembro de 2008 às 17:50
moara disse...

eu tb acho, não tem mesmo!

4 de setembro de 2008 às 20:07
moara disse...

eu adorei esse emoticon da tua carinha!
esse Wordpress é muito estranho, eu tenho medo dele.

4 de setembro de 2008 às 20:09
Cássio Marins disse...

Um gigante magro vai parecer um poste :)

5 de setembro de 2008 às 16:37
Bruno disse...

O chato de virar adulto é descobrir que um monte de coisa que engrenava sua felicidade pode ser explicada com meia dúzia de palavras.
Legal o texto... see

8 de setembro de 2008 às 07:24
moa disse...

Cássio Marins // Sexta-Feira, Setembro 5, 2008 às

Um gigante magro vai parecer um poste

ehhe...concordo plenamente.

8 de setembro de 2008 às 09:52
vivi disse...

Amiga, que peninha de ti, ops, da joana!

tenho outras experiencias escrotas com a greja catolica, vou ja escrever tb, heheh

8 de setembro de 2008 às 11:33
moara disse...

De mim e da Joana, heheheh.

8 de setembro de 2008 às 17:50
carolinabarata disse...

Ela nunca ouviu falar de biotônico Fontoura? E Emulsão Scott sabor morango?

¬¬

Tão sem sensibilidade...

HUAhUAuahUHuAH

18 de setembro de 2008 às 07:38
moara disse...

ela tomava sustagem? no?
huaehuaehae

19 de setembro de 2008 às 11:06

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