terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A culpa é do livre arbítrio (!)

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Yasmin Brunet posa nua para Terry Richardson na revista francesa Purple Fashion Magazine.


Por Carol Barata

Educação vem de berço. Tudo bem, isso a gente já sabe. Mas e aí, a opção, vem da onde? Podem os pais, a sociedade, a novela das oito e os games serem todos culpados pelo que dá errado na educação, ou na falta da mesma, de um ser? Não. Não mesmo.

E aí vem a igreja católica, o bispo da Igreja da Santíssima Virgem Que Nunca Sentiu Tesão, os democratas, os republicanos, os maniqueístas todos apontarem causas e conseqüências para explicar, simplesmente explicar – só porque esses precisam de respostas para que não afundem em suas próprias dúvidas e incertezas – que filhos repetem a conduta de seus pais. Ah, que prato cheio seria cada um desses seres sufocados por suas amarras para Freud.

Não, meus queridos. Não somos macacos de zoológico para repetir o que é feito do lado oposto. Nós deixamos mensagens em grutas, contamos nossas histórias escrevendo em pedra e não porque nos ensinaram. Foi instinto. O instinto de sobrevivência, da perpetuação. Pais devem amar os filhos, educa-los, cria-los da melhor maneira possível, mas não porque isso é certo e sim, porque assim o sentem.

E se toda essa tarefa der “errado”? Se é porque eu vi meu pai fumar toda a minha vida, talvez seja esse o motivo d’eu nunca ter visto o cigarro como algo condenável e ter tornado-me fumante. E se hoje eu o vejo doente por causa disso, vou imediatamente parar de fumar e condena-lo por ter fumado a vida toda na minha presença? Não posso. Eu escolhi fumar.

Quando criança, fiz balé clássico e piano. Claro que nada disso foi opção minha. Eu nem sabia que tinha opção entre não praticar aquelas atividades ou ficar em casa vendo desenho animado na tv. Assim que soube, decidi parar. “Ah, mãe, não quero mais”. E simplesmente assim acabou o brilhante futuro de uma pianista – bailarina clássica.

Hoje não toco nem dó-ré-mi. Mas ficou o gosto pela boa música, ficou a apreciação pela arte, pela dança. Ou seja, o que aparentemente deu “errado” – as mensalidades do balé, as idas e vindas à aula de piano naquele casarão antigo, as apresentações, os concertos, os livros de exercício de partitura, as sapatilhas e os quilos de grampo para fazer um coque – a meu ver, deu certo. Eu tenho um feeling maravilhoso para música e amo mais ainda as que me permitem dançar livremente.

Vendo uma dessas revistas de fofoca-de-revisteiro-de-salão-de-beleza vi uma matéria sobre a polêmica foto da Melanie Griff fumando um cigarro com sua filha de 18 anos, que acabou de sair de uma clínica de reabilitação. Tinha que ser coisa de norte-americano mesmo.

Enquanto isso, dos lados de cá da América do Sul, a filha da Luiza Brunet , de 16 aninhos, faz um ensaio artístico (?) para uma edição francesa com os peitinhos e “países baixos” à mostra e não pára por aí. Quando questionada sobre a nudez de sua filha, a única madrinha de bateria de escola de samba que não sabe sambar, Luiza Brunet, diz que ela é modelo e que na idade dela sua genitália também já estava dando o ar de sua graça por aí.

Quer dizer, raciocina comigo se for possível: fumar não pode. Posar pelada pode. Fumar é condenável. Posar pelada é compreensível. Quem está agindo errado na criação? A que expõe sua filha ao fumo ou a que expõe sua filha ninfeta à mídia? Nenhuma delas, porra.

Duvido que a Brunetzinha tenha posado só porque a mãe o fez. Ta, tudo bem. Talvez o gosto por pouca roupa esteja no sangue. Da mesma forma, devemos parar para refletir um pouco sobre o que é realmente condenável. Melanie Griff paga as inúmeras incursões que sua filha faz, desde os 16 anos, em clínicas de desintoxicação. De repente, ela é uma péssima mãe porque fuma um cigarro com a filha. Tem algo que não sentido aí para mim.

Como não sou famosa, nem filho de pop star, minha história é diferente. Se eu tivesse repetido a ferro e fogo o que vi em meus pais, só para começar, nem escolheria ser publicitária, porque desde pequena eu sei que comunicação não dá dinheiro. Cresci vendo meu pai trabalhar que nem um cavalo como jornalista.

Eu teria me casado e tido filhos somente após o sagrado matrimônio. No entanto eis eu aqui, um mero ser que facilmente se entrega aos prazeres terrenos e que sempre gostou de comer o lanche antes da hora do recreio: aos 25 anos de idade com um primogênito de quatro anos.

Não fui capaz de repetir meus pais nos acertos, mas também não vou repeti-los nos erros. Pais são seres que se afogam em culpa em cada choro. “Onde foi que erramos?”, eles todos se questionam. Pais não erram. Eles simplesmente “são”, sabe? Eles podem tentar driblar suas personalidades para assim parecerem mais certos, mais exatos, mais seguros, mais auto-suficientes, mas simplesmente pais são... são humanos. Com seus erros inúmeros, com seu amor exagerado, com suas ausências e que um dia, inclusive, já foram filhos e cometeram também seus erros, suas renúncias ao que lhes foi imposto e assim por diante.

O amor é e sempre será regra quando a intenção é fazer dar certo. Tenho certeza que houve muitos erros cometidos por causa de muito amor. As únicas falhas que não tem perdão são aquelas que nos fazem cair no chão sem ter ninguém, mas ninguém mesmo, para te dar a mão e te ajudar a levar para cima. E isso, por experiência própria posso afirmar, que bons pais – aqueles que são bons mesmos: de caráter, de coração, de alma – não conseguem deixar de estender a mão a um filho.

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