quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Despedida à May, por Carol Barata

“Poetas e loucos aos poucos
Cantores do porvir
E mágicos das frases
Endiabradas sem mel
Trago boas novas
Bobagens num papel
Balões incendiados
Coisas que caem do céu
Sem mais nem porquê

Queria um dia no mundo
Poder te mostrar o meu
Talento pra loucura
Procurar longe do peito
Eu sempre fui perfeito
Pra fazer discursos longos
Fazer discursos longos
Sobre o que não fazer
Que é que eu vou fazer?

Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva - viva!

Direi milhares de metáforas rimadas
E farei
Das tripas coração
Do medo, minha oração
Pra não sei que Deus "H"
Da hora da partida
Na hora da partida
A tiros de vamos pra vida
Então, vamos pra vida

Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva - viva!”

[ Boas NOvas, Cazuza ]

Imediatamente, quando li o teu e mail dizendo sobre tua partida, lembrei-me dessa música. Lembrei de ti, claro. Dos teus cachos absurdos e da gente rindo absurdamente. Lembro de ti, sempre, como uma louca sã. Ah, como pode? É, mas pode. Pode e sempre vai poder.

Vai longe, passarinha. Voa, voa, voa e faz o caminho de volta para trazer boas novas ao povo. Faz sempre do teu medo, a tua oração. Mostra pro mundo todo teu talento para loucura.

E uso do Cazuza. Abuso dele agora. Por que diabos lembrei exatamente dessa música?! Parafraseio novamente: há coisas que caem do céu sem mais nem por quê. Assim foi contigo, caíste bem aqui na minha mão. Usei-te para fins malignos, manipulei tua vontade, adaptei tua amizade a mim, mexi na tua receita, nas tuas roupas e até te convenci do que nem eu mesma acreditava.

O pior é que mesmo mexida e remexida, eu sempre te ouvia mais do que a mim. Eu torcia a boca pra yoga e para o teu papo zen... só para implicar. Só para desarrumar tuas idéias, teus conceitos. Porque assim eu era, eu bagunçava.
Bem, a verdade é que no meio da minha bagunça que de tão emaranhada envolvia todos a meu redor, tu me achaste ali, tu me lias e me traduzias. Tu ofereceste tua mão, tua cama, tua casa e mais uma vez aquela comida que nem sequer descia na minha garganta tão seca depois de uma noite interminável.

Ali, tu me ouviste rouca e me deste colo. Ali, te mostraste mais amiga que nunca, que antes, que sempre, que outras, até que tu mesma. Mais minha amiga. Minha amiga M.

Não receio por ti. Receio pelo mundo que ainda não está pronto para te tragar pra dentro. Se fizer, vai te cuspir imediatamente, porque és muito. É muita informação numa pessoa só. É muita libertinagem, desprendimento, inteligência, beleza, maternidade, caráter. E vem tudo em litros e em toneladas.

Eu tenho é pena desse mundo que te recebe. Rá, rá, rá. Mal sabem eles e deve ser por isso que planejam te receber sorrindo. Eles não sabem do quão sedutora és capaz de ser, do quão envolvente são as tuas conversas, do quão interessantes e pertinentes são as tuas idéias. Perdoa, Senhor, porque eles não sabem, não...
Se soubessem, não ousariam te receber. Se soubessem, não ousariam te conhecer. Se soubessem, teriam medo de questionarem-se, de descobrirem-se, de ousarem.
Well, well, well... Eles não sabem, né? Então vai lá. Eu tenho é pena desse mundo pudico que vai te receber, mas vai lá, vai. Vai voando que depois de ti, eles não serão mais eles.

(...)

Boa viagem, minha amiga. Boa alvorada, passarinha. Aproveita tudo e de tudo. Prova e aprova o lugar. Vive, como sempre, intensamente. Respira fundo e solta o ar devagar. Dá o primeiro passo com o pé direito. Não esquece de escovar os dentes antes de dormir. Usa camisinha. Transa muito. Transa tudo. Transa com o mundo. Seja transada. Guarda teu dinheiro, economiza. O resto vai ser só conseqüência.

Amo-te e me poupa de lágrimas, predileta!

1 comentários:

moara disse...

estreando com bom gosto.
amei o texto.

24 de janeiro de 2008 às 06:22

Postar um comentário

 

©2009ohvarios | by TNB