sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O sabor de perder na vida

Por Moara Brasil

Durante muito tempo ela não sabia o significado das perdas. Já tinha passado da fase da adolescência, e já se encontrava com responsabilidades e decisões que já não faziam parte daquela vida de "menininha". Xingava a todos quando ela sofria, odiava o destino quando ele não a obedecia, ela queria tudo e todos dentro daquele umbigo.


Aos poucos foi caindo a ficha. E antes aquela frase que ela achava uma babaquice "Há males que vem para o bem", ela começou a entendê-la como uma sabedoria realmente divina. Desde quando ela saiu daquele emprego medíocre, com salário medíocre, que a sugava o dia inteiro, ela aprendeu a observar o seu grande patrimônio, a sua família.


No quarto ela chorava como uma criança, mas refletia como uma adulta. Ela estava diferente, não se reconhecia. Não era amiga dos irmãos, não sabia nem a cor predileta deles, não reconhecia o cheiro do perfume. Do seu pai ela só conhecia os erros, os vícios, e que ele gostava de uma cerveja. A mãe, ela também estava afastada, já não eram amigas, a família não existia.


Nesses últimos anos ela foi imediatista, queria saber só de ganhar o seu dinheiro, mesmo que fossem míseros trocados para gastá-los em bebidas e festas em todos os finais de semana do ano.


Quando ela perdeu a boemia, ela percebeu que a sua vida poderia ter mais cores e outros sabores. Ela sentiu o doce de passar uma noite assistindo à um filme no seu lar, ela aprendeu a curtir a noite com o seu irmão sem se embriagar, se informou mais sobre o mundo, e resolveu visitar a sua velha vovó nos almoços de domingo. Quando ela perdeu o seu felinino predileto, ela prometeu cuidar do resto como filhos, para espantar boa parte daquele egoísmo de adolescente.


Quando levaram para um lugar distante todos aqueles bens imateriais, escritos em anos (textos, poesias, prosas etc), ela viu que o papel ainda é o meio mais eficaz para guardar a sua vida, e não quis mais depender de computadores, comprou um caderno de anotações. E resolveu escrever coisas melhores, registrar a vida através do grafite.


E a dor daquele amor... depois de um tempo aprendeu que aquele sofrimento foi necessário, pois só assim ela aprenderia a amar a si mesmo, como hoje, e ficar bem preparada para outros que estariam por vir, sem obsessão e vícios.


E assim ela foi levando a vida, como disse a mãe Maria, das cartas de tarot. "Passarás por isso, sofrerás aquilo, e só entenderás quando a tempestada já tiver passado". Uma vez ou outra ela se tocava do que a velha previu para a vida dela.


Hoje ela entende o porquê daqueles mudanças, daqueles tropeços, daquelas escolhas e frustrações. Se ela perde, era para ganhar coisa melhor depois. Era melhor pensar assim do que o contrário, e seguiu essa filosofia. Não tem mais aquela angústia e desespero, pois sabe que dias melhores sempre virão. É para compreender justamente o que ela é hoje e no que ela vem se transformando para o amanhã. Pode até parecer lições de livros de "auto-ajuda" baratos. Mas isso será a virtude que ela vai levar pra sempre no caderninho de anotações.

1 comentários:

Jorge disse...

Descobrir que se tem uma familia, e que com ela pode-se aprender grandes virtudes é uma coisa que todos nós deviamos ter.

abraços!

28 de agosto de 2008 às 19:09

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