quinta-feira, 19 de junho de 2008

A Menina PB



Por Moa

A Menina PB contou algumas moedas do seu bolso, e comprou uma cerveja. Ela não queria mais tomar cerveja, a cevada não funcionava bem no seu organismo, nunca funcionou, e ela insistia sempre nos goles e bebedeiras. Ela olhou para aquele pub apertado e feio, e acompanhada de umas vinte pessoas, se sentia tão só que quase a solidão a engole como um monstro de filme de terror. E mesmo com os olhos fechados, naquele lugar que já foi um dia elegante, e com uma energia boa, tentou sentir a música e acreditar que existe um mundo novo em que não se aprende em nenhum livro, é só ter coragem, se libertar, viver e amar, como aquela letra legal, que ela nunca mais ouviu.

Mas a menina de repente se toca, que ainda não é aquilo. Lembra da casa que não é dela, é alugada e a mãe dela que paga. Lembra que mais uma vez está gastando o seu dinheiro, o dinheiro que ela não tem, em diversões momentâneas. É o remédio dela, que faz esquecer a sua condição de ser muitas vezes covarde. Ela sente uma vontade de chorar de raiva, de arrepender-se de algumas coisas. De tantas besteiras que já fez, e podia não ter pensado em começar. Ela se pergunta “e seu eu não tivesse feito aquilo?”. Pouco interessa, ela nunca iria saber, de repente, as coisas poderiam ter ficado melhores, ou de repente, poderiam estar piores.

A Menina do vestido PB olha ao seu redor, vê um casal lindo e feliz. São tão lindos de dar inveja, pois além de beleza física existe a beleza humana, que eles têm de sobra. Em seguida, ela olha para os rapazes, aqueles mesmos de uns anos atrás, todos estão se tornando homens, sem saber disso, eles procuram se esquecer, cantando, dançando. Mesmo que a barba insista em aparecer. Vê aqueles moços que andavam de skate com ela há uns 10 anos, lá em Icoaraci, e percebe que eles mudaram pouca coisa, mas continuam firme nos seus ideais, nunca desistiram. Ela tenta achar alguém que prenda a sua vontade de apenas admirar, paquerar. E até enxerga um rapaz de rosto fino, de óculos, quem será aquele moço? Não interessa, não vai acontecer nada mesmo...

Ela lembra o quanto deixou de fazer muitas coisas na vida, desde abandonar o orgulho que sempre teve, desde dizer “desculpa” para quem merecia ouvir, ou lutar por tudo o que ela sempre quis – aquela paixão que ela desistiu no meio do caminho – e de não enxergar os próprios erros, manias e vícios. Ela não era assim, a menina de preto e branco sempre foi atenciosa, determinada, disciplinada, sonhadora...

E o que a Menina PB se tornara? Uma garota que está no limiar da loucura, de desistir de seus próprios sonhos. Mas Deus quis que as coisas fossem assim, difíceis de alcançar. E disse que ela ia sofrer se em algum momento a cabeça dela pensasse em desistir de tudo e recomeçar de novo do zero, que ia doer como engolir cacos de vidro. Que é para ela aprender que na vida se perde muitas coisas, para depois beijar tudo que se ganha. E a menina tenta todos os dias, na casa, no quarto ou naquele pub qualquer, conviver com isso, mesmo que dias melhores ainda estejam bem distantes.

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