quinta-feira, 19 de junho de 2008

Dois anos e dois meses

Por Lunna

Eles conversavam e riam na volta para a casa. O tempo tinha passado e apagado qualquer vestígio do que foi um dia aquecido pelo fogo e pela loucura que tinham quando se juntavam. Fazia dois meses. Dois meses que ela se fechou pro mundo, se guardou pra ela e esqueceu até como era um simples aperto de mão. Andava de saco cheio. Da vida, das pessoas ao redor, dos acontecimentos que não aconteciam nunca.

Mas eles se encontraram, era ele, aquele cara que há dois anos lhe provocara tantos arrepios e noites mal dormidas. Hoje? Eram amigos, bons e velhos amigos, daqueles pra vida toda. E eles riam no carro, bêbados e leves como uma pipa.

Na despedida, o beijo. Um beijo esperado e desesperado, não de quem ama, mas de quem passou dois meses trancafiada no próprio mundinho, aprisionada pela própria vida sem graça e sem o menor sentido. Ela precisava sair e voar, nem que fosse para quebrar as asas novamente.

E voaram, como nos velhos tempos, dois meses e dois anos depois. Confundiram pernas, braços e roçaram os pés um no outro, costume antigo. Puderam ver novamente os seus corpos e as mudanças que neles tinham. Chegaram juntos ao céu e padeceram do mesmo pecado. “Existem coisas que nem o tempo consegue apagar”, ele sussurrou ao pé do ouvido dela.

Mentira. Ela não concordava. O tempo conseguiu mitigar. Os meses passados sopraram todo aquele frio na barriga gostoso, aquela coisa de pele que na verdade não era bem coisa de pele, era paixão. Pura e pesada. E gostosa. Tudo ali tinha se transformado, ela tinha entrado em mutação e já não se importava coisíssima nenhuma com aquela cama fria, que antes lhe parecia tão quente. Ela não conseguia mais sentir. Nada. Absolutamente nada.

Vestiu-se e foi embora. Sorriu com a ironia de quem gostou de terminar um livro, mas sentiu saudade de continuar lendo a história. Tinha acabado. Ela talvez já soubesse, mas precisava confirmar. Antes de fechar a porta, deu nele um último e demorado beijo. Andou até o carro.

Era hora de voar em outra direção.

2 comentários:

Carol Barata para Lucas Viril disse...

Não tem nada melhor que um adeus assim...
Voar em outra direção mesmo sem saber a qual. Já senti isso.

Adorei o texto.

:)

19 de junho de 2008 às 12:15
moara disse...

é melhor terminar de ler o livro do que acumular na prateleira aqueles montes que a gente só lê pela metade.

=]

19 de junho de 2008 às 12:51

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