quarta-feira, 2 de julho de 2008
Três por quatro
Por Sofia Brunetta
Havia tempo que ela não experimentava a companhia das amigas. Estas, leais a ela qualquer que seja seu estado civil , físico ou emocional. Todas estavam diferentes: cabelos, maquiagem, e ela quase poderia prever as tristezas de cada uma, ali, disfarçadas embaixo das muitas camadas de rímel .O mesmo que a anos ela experimentou, gostou, indicou. Contou as pressas, entre uma piada e uma espiadinha no cardápio do bar vagabundo que escolheram para este momento tão íntimo. Único. Não houve lágrimas. Um ponto final com tudo dito, sem rancor, sem remorso. O tempo passou para eles e as amigas eram o bem vindo e necessário alento. À moda delas: Nada de choro, promessas, mentiras, carinhos e ombro amigo. Elas são vivas, vividas demais pra isso.
-Vamos para a praia? Quê?! Vamos!!!
Uma sucessão de imprevistos que não duraram mais que uma hora e meia, o suficiente para ela saber que estava entre amigas. Estavam todas ali, cantando freneticamente, falando palavrão. O carro lotado: três passageiras emocionantes e emocionadas com o acaso, a vida que elas estavam deixando pra trás, a paisagem mudando. Lembraram das outras, tão longe, tão presentes nas lembranças engraçadas de viagens, dos finais de semana sem nenhum dinheiro e cheios de risadas. A faculdade, quanto tanto tempo... sobraram tão poucos amigos na cidade. Os muitos amores e suas particularidades. O passado, a vida no colégio, cabelos, a estrada. Ignoraram os dias, meses em que não conversavam como antes. Foi como ontem.
- Vamos ouvir o quê?
-Quebra –mola? O que é isso? Ops, desculpa!
-Pequeno...Gigante...Nada demais... Tudo!!!!
-A quantos quilômetros?
-Aonde a gente vira?
-Sabes trocar pneus?
-Estou cheia de pneus.
-Não Grita amiga!
-Meus Deus! Lembra desta música?
Compraram o suficiente: gelico e gasolina. Para o tanque, que fique claro.
Fotos recentes. Há três anos o álbum antigo anunciava que a vida correu antes que ela pudesse falar de seu amor incondicional. Quantas farras teria perdido?”Estás com sono amiga?” Não queria dormir. Perder mais uma vez a cumplicidade. As novidades, o desfecho das histórias que deixou de ouvir. Passaria a vida inteira ali, na estrada sem fim, dos sonhos que ela compartilha a tantos anos com elas. Com as outras. Diferentes. Iguais.
Durante toda a viagem, percebeu que nunca teve jeito com as palavras, apesar de ganhar a vida falando bem da empresa para os outros. Tentou ficar bêbada e chorar. Angústia presa na garganta, desde que ela deixou pra trás a vida que construíra com tanta dificuldade.Tentou uma vez mais. Novo gole.Maracujá, graviola,cajá...fica bem com cupuaçu? O chefe. O ex. De que tamanho estará o Fernandinho?O novo pretendente um tanto displicente. O sol, a pele ruim, a gordura localizada, a Vodka quente. R$3,00?Cerpa Gold? A inflação, a Dona Ruth, coitada, as plásticas da Dona Marisa, a situação do país, os primos que partiram sem avisar. A reprise de Pantanal. Os quebra-molas. A idade chegando. O vôo dali a poucas horas. O cansaço, cheiro de aeroporto, barrinhas de cereal.... O retorno à rotina.
Uma lágrima à beira do mar. Sentiu-se despida. Havia o sol, o mar, a música de qualidade duvidosa cantada com a mesma alegria por solistas- vocalistas amalucados.Vazio? Elas ali. Tão amigas. Tantos anos. Tanta vida para trás. Os muitos momentos que elas ainda viverão: caminhos cheios de curvas perigosas, tortuosos. Fotos, risadas, mãos dadas.
Do espelho, o dia ficando vermelho... Novo álbum. Para a tristeza uma três por quatro sisuda, documentando os erros a corrigir... E a estrada, tão longa, parecia marcar novo encontro logo ali em frente.
Vamos amigas?
7 comentários:
e a gente pega o rumo por aí, e volta depois de alguns anos...
2 de julho de 2008 às 14:47=]]
essa estrada... vamos de novo?
2 de julho de 2008 às 14:47Que descrição linda de tudo que nós somos.
3 de julho de 2008 às 06:06Obrigada.
Mneinas, quem fez este layout? Tá uma gracinha, quero faezer um quadro lá pra casa!!!!Me manda!
3 de julho de 2008 às 13:57credo cara, eu me espanto com os avatars desse wordpress...a carinha do teu Sofia é bizarra!
3 de julho de 2008 às 18:25foi eeeeeeeeeeeeeeeu!
3 de julho de 2008 às 18:25Bem infantil né!
Ai...
7 de julho de 2008 às 05:17repito incansavelmente: puta-merda-que-saudade!
ainda ontem vi as fotos desse final de semana na praia de vcs. lindo, lindo, lindo...
o tempo está passando rápido demais, o Fernando tá enorme, os amores mais vão do que vem (e ainda bem que é assim) e nós continuamos aqui. Firmes e fortes, mesmo com a distância e fraquezas momentâneas. vcs são outros 500. amo por demais.
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