sexta-feira, 30 de maio de 2008

Bárbara

Pela convidada Becky Braga
* Para ler ouvindo Bárbaro Soneto, de Patrícia Bastos.


Ela parou e procurou por uma mesa vazia. Sentou numa que ficava de costas para porta. Não queria ver quando ele chegasse.O garçom veio até ela e entregou-lhe o cardápio. Ela recusou e pediu uma vodca com gelo e tônica.

Acendeu um cigarro. Usava o isqueiro que ele havia dado a ela há alguns dias. Estava ansiosa e pensou que devia ter aceitado quando ele ofereceu carona. Estava detestando ter chegado primeiro e precisar esperar.

O garçom a serviu e ela deu um gole longo. Sentiu o estômago arder. Não era muito de beber.

Sentiu uma mão tocar-lhe o ombro. Fechou os olhos por uns segundos breves, arrepiava-se só de senti-lo por perto.

Ele sentou-se à sua frente e olhou-a com ternura. Tocou-lhe levemente o rosto e num gesto delicado tirou-lhe o cabelo do rosto.

Deram-se as mãos e ficaram a acariciar-se. Falaram sobre como tinha sido o dia, contas de banco, problemas com o computador e outras coisas sem muita importância.

Ele olhou pra ela por um longo tempo sem falar nada, quase violando sua curiosidade com os olhos ávidos, olhos que quase queriam falar.

"Eu senti a sua falta", disse enfim baixando os olhos.

Foi a primeira vez que ela se sentiu calma desde o momento que chegou. Pediram mais bebida e alguma coisa pra comer. Mas sabiam que não estavam ali pra isso. Tudo fazia parte do ritual de tentar iniciar a derradeira conversa.

A conversa sobre aquela relação mal resolvida que não acabava, que não deixava que ela se permitisse viver outras coisas mesmo quando ele tinha uma relação sólida e ela era a outra.

-Eu não posso continuar te vendo. Eu não possso ser desonesto com ela, nem com você. Eu a amo e não vou deixá-la. Você é tudo que eu sempre quis mas é como se tivesse chegado na hora errada. Eu não posso mais, não posso te ver assim... Não posso. Eu não vou te procurar nem quero que me procures.

Ela contempla os olhos úmidos dele com alguma serenidade, sente as mãos frias, trêmulas. Enxuga sua única lágrima e levanta com calma. Ele até tenta impedir mas ela repele.

Chega perto dele, abaixa-se e beija-lhe ternamente o rosto. Ele cerra os olhos, sente o cheiro dela.

Dissimuladamente ela passa a mão no garfo em cima da mesa e crava-lhe na mão esquerda.

O grito dele é mudo e seco.

Sai andando com calma, as pessoas ao redor estão assustadas com a cena. A mão sangra muito. Ela carrega um ar de satisfação.

Ele levanta, agarra-a pelo braço, beija-lhe a boca, a mão que sangra no sexo dela. Um beijo sôfrego, ela agarrada aos cabelos escuros dele, respirando difícil, o choro na garganta.

Sai de lá com as marcas de sangue na saia e ele, aturdido, senta incrédulo. Chora de dor. Mas o que dói, ele sabe, não é a mão.

2 comentários:

moara disse...

quem é já?
hehehe.
=]

gostei.

2 de junho de 2008 às 14:26
Becky disse...

Olá.
Blog aberto pra visitação.
Abraços.

2 de junho de 2008 às 18:03

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