segunda-feira, 12 de maio de 2008

Paradoxal...

Por Vivi

Na verdade, essa não é a única figura de linguagem que eu vou precisar para descrever esse amor, palavra essa que uso como maneira de tentar definir o que eu nem sei até hoje, uma relação que não precisava nem de títulos, por nenhum caber e nem explicar o que há até hoje entre nós... Sinestesia seria bastante explicativa, pelo misto de coisas, sentimento cheio de sentidos, de todos eles... Eu bem me lembro, apesar de todas as amnésias alcoólicas que tivemos juntos, de cada exploração de sentidos que tivemos, começamos com tato, audição e olfato, afinal, se conhecer dentro de um reggae dançando, sentindo o aroma da pele do outro, onde cheiro de suor, cerveja e cigarro contrastavam com um perfume importado, as músicas embalando nossos corpos, os beijos que nem sei bem onde começaram e nem quando foi o último.

Quantas vezes entramos em seu carro para sair sem destino ouvindo apenas as nossas músicas? Podia ser Amy Winehouse ou Radiohead, coisa que já adorávamos separados e juntos serviu como nossas trilhas. Lembro da nossa cara de felicidade, embriagados não só pelo álcool, mas pela paixão que nos consumia...

O cheiro de cupuaçu no carro e mais algumas frutas, que você sempre explicava que era quando seu pai trazia do sítio. Olfato, sentido que você fez aflorar em mim... Sempre te dizia isso, “tu tens uma liga com cheiros...”, e assim passei a ficar, tanto que mesmo depois de separados, e num auge de mágoa que podia sentir por ti, foi assim que te cumprimentei num reflexo inconsciente quando te revi pela primeira vez, te cheirando. Lembra que antes dos nossos beijos sempre viam os cheiros? E o aroma de trident de melância que nos viciamos juntos... Ninguém pode ter esse hálito que não seja você, e sei que com certeza são dos meus beijos que você sente saudade quando sentes esse mesmo cheiro no ar.

E os gostos? De cerveja primeiramente, mas de tanta coisa também... Como era legal sair comprar milhões de guloseimas, voltar pra casa e comer uma por uma, e entre cada uma delas, um beijo pra registrarmos na boca um do outro esse gosto... E olha que não sou daquelas “descoladas” que comem de tudo, bem sabes disso... Mas, comi até pirarucu contigo, era de tudo, pizza de escarola, chocolate (daqueles bem pop, só pra te ver revoltado com a minha escolha), quiche, tortas, tudo... Com direito a receber na boca, de tão sutil que era... Café da manhã na cama... Pra enfatizar um bom dia que estava por vir...

O seu forte, a audição, quantas coisas conheci ao seu lado, jazz, lounge, soul, enfim, nem sei quantos gêneros classificar aqui... até hoje mostro toda cheia de mim algumas dessas descobertas, “Conheces Pedra Branca?”... Tantas foram as músicas com direito a tradução algumas vezes “Like a little old fashioned music box/With just one tune to play/My heart keeps singin' I love you/Twenty four hours a day”, até o que eu já conhecia foi complementado com você, como nas vezes que você com toda sua vontade de me irritar usava as músicas para me alfinetar “When i think of all the times/I´ve tried so hard to leave her”. Tudo era sempre composto por uma bela trilha, a nossa cara, super-ultra-mega-plus-depressivos... Ao ponto de se levantar da cama de madrugada, pegar uma carteira de mallboro light, (o nosso meio-termo entre meu carlton red, e seu mallboro vermelho) e se encostar na janela, ouvindo “I might be wrong” ou “ Morning bell”, sempre com comentários, “essa é do caralho”, “pode crer, lindinha”.

O meu forte, visão, coisa que desfrutamos muito bem, também. Minha memória fotográfica quase lotou o HD de tanta coisa que eu gravei... Das noites amanhecidas no bar do parque, das manhã dentro do carro, do reflexo do espelho de um quarto de motel, dos filmes, coisa que não pode ser lembrada antes das eternas sessões na fox à procura dos filmes “ já viu esse?”, “muito doido, né?”, “ o horror”... E nessa continuávamos durante hora e meia, ratificando o título de casal indecisão... “ escolhe...” “não, por mim tanto faz...”. Lembro tanto de tudo, das farras, dos olhares, do contraste, por isso mil vezes fiquei caladinha, viajando, era um momento de registrar tudo que estava acontecendo.

A pele, o tato é pra mim até hoje sem dúvida, o sentido de todos eles que mais nos aprisionou... Como já dizia Pixies, “We’re chained”, só de encostar meu braço no seu, minha perna na sua, nossas bocas, nosso colo, era como se todo o abismo que existisse entre nós fosse destruído em questões de segundos, juro que a nossa pele, nosso carinho, nosso sexo, segurou a gente durante a maior parte do tempo, vontade de estar abraçados, roçados, grudados um no outro, como se ali, não houvesse maldades, guerras, a úlcera do mundo. Não tinha uma única noite ao seu lado que meu corpo não pedisse o seu, e acredito totalmente na recíproca, sei de tudo que há de recíproco entre nós. O peso que cada sentimento tem no seu lugar.

E mesmo com tudo isso, não conseguimos... Apesar de tudo que há de mais comum e admirável entre nós, nossa falta de força, de paciência, de disponibilidade nos deixou assim... Misturando mais uma vez os sentidos... Saudade amarga. Lágrimas salgadas. Doces lembranças... Sinestesia.

10 comentários:

moara disse...

amei o texto de verdade.

x]

12 de maio de 2008 às 15:53
Anna Carla Ribeiro disse...

É engraçado... Tem certas pessoas que passam pela nossa vida e tinham tudo pra dar certo.. Mas, por ironia do destino ou alguma piadinha de Murphy, acabam dando muito errado.

Fiquei tocada com o texto. =~]

12 de maio de 2008 às 17:33
Daniele disse...

ÉÉÉÉgua Vivi!
Não conhecia esse seu lado ecritora..

Fiquei realmente muito emocionada com esse seu texto... sempre procurei colocar em uma folha a sintonia sentida outrora pela pessoa que estivesse ao meu lado, mas nunca consegui. Por quê?! Por não amar o suficiente?! Ou simplesmente por não ter o dom da escrita como algumas pessoas o tem?!
Lendo esse texto chego a conclusão que amei sim... com muita intensidade e que até algumas vezes consegui transpor em letras escritas o que eu sentia por alguém que me era especial, mas por ora, refletindo em cima de suas palavras, penso em um dia conseguir atingir a maestria de escrever ao mesmo tempo tão belamente e tão espotaneamente como você fez... não somente neste texto, mas também nos outros que tive a oportunidade de ler neste site!

Parabéns pelo texto e boa sorte em sua jornada!
Beijao

12 de maio de 2008 às 18:38
Carol Barata disse...

tô sentindo que essa "convidada" já é de casa.

Esse texto tá bem o teu "tipinho", como diria a Mayra: dramática e intensa.

E quanto a esse amor, talvez só não seja a hora dele agora. Pode ser depois ou pode não ser Isso só o tempo vai poder dizer a ambos. Só não sofre com a pausa dele, tá?

Te amo.

"Xodades, miguxa (L)" => É sempre bom botar entre parenteses porque vai que pensam que agora eu escrevo em miguxês... aff...


=o*

13 de maio de 2008 às 05:29
Lucas disse...

Como sou um cara pessimista, então lá vai:

A gente nunca pode começar relação pressupondo que vai dar errado. MAs o ruim dessa coisa de um ser o complemento do outro, de gostos parecidos, tem um lado traiçoeiro:
Antes, a gente fazia determinadas coisas (como a 'voltinha de carro', tomando uma cerveja e escutando a tua música) que, mesmo sendo ordinárias, eram prazeirosas pra gente.

Vem a companhia perfeita, que gostava disso tanto quanto.

Não dá certo. Daí pra frente, fazer o mesmo de antes se torna um martírio, porque tudo aquilo que, antes, era comum, agora, nos faz remeter à pessoa que se foi. Não sei pra vocês, mas pra mim, isso é muito palha.

Me vieram, por analogia, umas lembranças aqui na minha cabeça, que nos tempos atuais, eu estou tentando, ao máximo, deixar de lado. Não pra esquecer, não é isso. Mas pra poder, lá da frente, lidar com essas lembranças de uma fomra bacana, sem me deixar pra baixo. E pra mim, isso não tem remédio. Ou até tem: o tempo.

Mais uma pérola Viviniana !
Beijo.

PS. Fui dizer que gostava dos teus textos, e o povo escutou outra coisa. Mereeeanda.

13 de maio de 2008 às 05:51
Vivi disse...

eu sou daquelas convidadas, que chegam na casa, abre a geladeira, deita no sofá e tem escove de dente no banheiro.

que bom, estou adorando essa terapia... quando eu já estiver enjoando vcs, me avisem...

13 de maio de 2008 às 05:53
Vivi disse...

eu sou daquelas convidadas, que chegam na casa, abrem a geladeira, deitam no sofá e têm escova de dente no banheiro.

que bom, estou adorando essa terapia… quando eu já estiver enjoando vcs, me avisem…

amo vcs

13 de maio de 2008 às 06:07
moara disse...

que enjoando o que rapa!

=]]]

13 de maio de 2008 às 19:08
Carol Barata disse...

Eu gosto é disso, de convidada enxerida e espaçosa. Vc já tomou conta do meu coração, da minha admiração... agora, és parte do noss blog. Quer casar comigo? (L)

HauHAuhAHuAHuAHuahuahuahuha

14 de maio de 2008 às 12:40
Vivi disse...

eu quero....
adoro as vantagens desse mundo contemporâneo...

=*

17 de maio de 2008 às 06:56

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