quinta-feira, 22 de maio de 2008

O desencontro de um Amor à francesa

Por Moara Brasil
Dedicado ao querido David C.

Charpentier acordou belo ao meu lado, com toda a beleza francesa que uma mulher deseja de um homem. Aquele cabelo tipo moicano, porém, meio diferente desses moicanos que enxergamos por aí, um moicano francês, num rapaz branquelo, de 28 anos. Charpentier acordou e me fez sorrir, mesmo com aquela cueca boxer verde e amarela, que eu até achei bonitinha, coisa de gringo, sabe.

Não sei, acho que era a bunda, uma graça. Ou era o cabelo mesmo? Ou por ele ser formado pela Escola de Belas Artes de Paris? Um artista completo e bom de cama, eles sempre têm uma coisa a mais. Gringo, cérebro e charme. Nossa! Eu admirava cada parte do corpo dele, como uma adolescente apaixonada. E eu tinha acabado de sair de uma relação desgastante, Charpentier apareceu em boa hora, como um anjo, que por ser piegas, caiu do céu. E não deixou eu sofrer mais que uma semana pelo outro, até consegui esquecer aquele meus outros dias tristes.

Pensei, ao acordar do lado daquele homem, que seria o último dia em que nos veríamos, o ultimo dia do nosso mês extremamente intenso e apimentado. Nessa hora, contive minha vontade demente de chorar, guardei de baixo da almofada… Eu não precisaria chorar por causa disso. Sou forte, ora. Tive a idéia de seqüestrá-lo eternamente para a minha vida, pois nunca tinha vivido algo tão recíproco e verdadeiro. E nem falávamos a mesma língua, ele se esforçava num portunhol, e eu num portuglês. Juntando tudo em gestos e mímicas. Charpentier amava até o meu jeito desastrado, de colocar a calcinha do avesso. "Você, menina boba, você".

Planejei. E se eu prendesse-o na cama com as cordas da minha rede? Ele perderia aquele vôo para Macapá- Cayena, e de Cayena-Paris. Bem, eu sei que isso o faria ficar um pouco puto comigo. Mas pelo menos teria mais uns dias ao lado do francês, porém, eu já havia adiado bastante a viagem dele anteriormente, e não havia como adiar mais. Ele já tinha adiado, só para ficar comigo, mais uns dias para quem ia ficar só um mês.

Conheci o Charpentier numa festa, num trapiche da cidade. Naquele dia não queria sair do meu quarto, mas minhas amigas insistiram. Falaram que eu não deveria me entregar àquela paixão fracassada. Mas logo show de reggae? Vocês sabem que eu já não gosto muito de reggae, e ainda mais quando estou assim, triste. Parecia que eu ia morrer de tanta desilusão amorosa. Mordi a língua, e hoje até sou devota do reggae.

Só que eu fui, e conheci o francês. Naquele mesmo dia ele foi para a minha casa e lá se hospedou um mês e mais uns dias. Minha família o amou, meus irmãos mais ainda. Meus amigos, também. Ele era o verdadeiro homem que faltava para a minha vida, um relacionamento definitivamente saudável, mas Charpentier já ia embora, em breve, eu sabia. E procurava não lembrar muito disso.

Acordamos um do lado do outro, nos olhamos, sorrimos. Aquele último sorriso, um sorriso feliz demais por um encontro de almas gêmeas, nesse fim de mundo maravilhoso, que é Belém. Levantei, como uma mulher forte, e cantei: “Você me faz ter medo da minha condição, você me trás segredos, e eu não te entendo mais”, Mombojó foi trilha sonora. Tomei meu banho, e voltei ao quarto, ele estava colocando as milhões de redes que havia comprado na feira do Ver-o-peso, numa mochila enorme. Ri um pouco do momento, isso era engraçado, para que tantas redes? Poderia não significar nada para mim, mas era só o que ele estava levando de lembranças daqui. E ainda comprou uma rede que faltava, uma azul e branca ( bem Papão) que ele tanto queria, arrumamos as trouxas, e fomos com o meu irmão no ver-o-peso. Achamos a tal rede, e seguimos ao aeroporto.

Eu estava no banco de trás, e ele na frente, pediu desculpas ao meu irmão e pulou para o meu lado. Os últimos momentos de abraços, de brincadeiras, de milhões de beijos em todo o rosto. E eu trancando a dor daquele dia especial de agosto.

Aeroporto, aquela fila, ele já estava um pouco atrasado, pegou a câmera dele, de filmar e repetiu “estou mutcho triste que la máquina fotográfica minha foi roubada, nossas fotos, suas fotos, lembranças de você, estou triste”. E fez a ultima filmagem de nós dois, sorrindo no aeroporto, brincando um com a cara do outro. Só restaram algumas cenas. E foi rápido, me deu um beijo, nada muito romântico. A comissária de bordo apressava. No entanto, ele me acenou lá do corredor, que vai para o avião, e mandou aquele beijo, que eu já sabia ser o último… Mas não o último beijo de amor. Depois, não me contive, e chorei no carro, e o choro foi pior que qualquer outra dor por alguma relação que eu já tive. O choro por algo que poderia ter dado certo, mas o destino nos abandonou naquela dia especial de agosto, e eu, fiquei com uma pequena esperança que o amor pode existir outras vezes.

Vídeo gravado no Pará e no Maranhão, feito por Charpentier.




3 comentários:

Carol Barata disse...

Amiga, lindo, lindo, lindo texto.

os amores quase perfeitos =/

tchamo!

23 de maio de 2008 às 04:28
lora disse...

égua, saudade do david :(

me agradeça, se não fosse eu te obrigar a ir pro show e busca-lo no meio da multidão, nada disso teria ocorrido. hahahahahaha

oi, meu nome é destemencia:D:D

pupunha?

:*

23 de maio de 2008 às 07:21
Lucas disse...

Só posso adjetivar esse texto com essa palavra, apesar de achá-la meio gay: "TOCANTE"

É desapontador, entristecedor, ou sei-lá-o-que-OR saber que aquele tipo de pessoa o qual tanto procuramos, quando achamos e conseguimos, com ela, viver tanta coisa boa, que tudo isso tem término definido, e o pior, definito por fatores que fogem à nossa vontade. =/

Foi escroto !

Beijo.

26 de maio de 2008 às 09:59

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