quinta-feira, 8 de maio de 2008

Vida aos ex-namorados

Por Anna Carla Ribeiro

Tem certas coincidências que de tão fora da probabilidade parece que estavam no roteiro da história da minha vida, bem naquela parte que o filme precisa de um “up” pra chocar o espectador. De tão fora do lugar-comum, também parecem coisas do divino, dos cosmos, de todo o universo conspirando para fatos que não irão mudar em nada os rumos da história. Mas sem dúvida tornaram esta semana mais feliz.

Existem ainda certos momentos que combinam perfeitamente com esses fatos. Talvez pelos ventos de uma nova crise de TPM se aproximando, esta semana eu me senti sem a menor das graças. Estava naquela situação em que não me sentia tão bem assim, me olhava no espelho e constatava mais defeitos que qualidades, um pouco cansada, um pouco de saco cheio, um pouco me achando menos.

Isso é engraçado. Tem horas que estou nas nuvens e penso: “Caralho, eu sou fodassa! Tenho amigos fodassos, família fodassa, emprego fodasso. Vou almoçar naquele restaurante fodasso, com a minha calça preta nova fodassa, brindar à minha vida fodassa com meus primos fodassos”. Aí, de repente, a coisa inverte. “Lá vou eu com este cabelo de merda, ouvindo música nesta caixa de som estourada de merda, praquela entrevista chata de merda. Que merda! Pisei na merda”. Mais ou menos assim.

Vamos aos fatos. Estava eu, sem o menor sal, tentando dormir numa triste tarde de segunda-feira. Toca o celular. Número confidencial. “Deve ser do trabalho, alguma bronca de merda, porcaria”. Até tentaria explicar a minha reação se eu tivesse tido alguma. Era meu ex-namorado, o primeiro, o cara que me ensinou a namorar, que me aturou por dois longos anos e meio, quando eu ainda achava que namorar dois anos era tempo pra caramba. Eu era novinha, tinha acabado de fazer 17 anos. Fazia convênio e usava múltiplas pulseiras coloridas no braço. Fazia três anos que eu nem sequer tinha notícias dele.

Tem certas considerações que as pessoas nos dão que de tanta proporção duvidamos se merecemos. Disse que eu fui a primeira pessoa que ele ligou neste momento, um dos mais importantes da vida dele. Sabia o meu número celular de cor, depois de tanto tempo, e eu nem sequer lembrava que esse número era tão antigo assim. Terminamos brigados, passei um bom tempo querendo matar ele enforcado. Mas passou. Ele ligou pra saber de mim, se eu já tinha me formado, se estava trabalhando, feliz, como é que tava a minha mãe e o irmão. Riu das minhas respostas, agradeceu as minhas preocupações e disse que torcia muito por mim. Me deu vontade de chorar e de contar a ele que estava me sentindo tão mal. Fiquei calada. Ele disse novamente que torcia por mim, que eu era especial, um beijo e tchau.

Passaram-se alguns dias e eis que outro ex-namorado, também de longa data, só que bem mais recente, resolve me ligar. Não fiquei tão espantada assim porque temos uma relação amigável, nos falamos numa boa, nos emprestamos livros e de vez em quando eu preciso ligar pra ele pra perguntar qual é a senha do meu cartão de crédito. Ligou porque lembrou de uma antiga piada minha. Também queria me fazer inveja porque estava vendo o pôr-do-sol, que eu tanto gosto de apreciar, na beira do rio. Falou que tinham fatos que sempre faziam ele se lembrar de mim, coisas boas. Aproveitei para fazer uma nova roupagem da velha piada e então desligamos.

Agora estou aqui, com os pensamentos soltos, refletindo em como as coisas são. Ex-namorados sempre assustam. Eu sempre os preferi aleijados, mortos ou, no mínimo, plantando batatas no interior do Acre. Na época eles me pareciam enormes, monstros soltos pelas cidades que de tão perversos conseguiam me assassinar de mágoas só com um olhar. Eles me fizeram morrer várias vezes. Algumas de ódio, outras de lágrimas. Os dois já me afogaram em minhas próprias lágrimas. Já tive vontade de depilar todos os pêlos de ambos com cera fria – até mesmo os cabelos.

O que me deixou feliz foi saber que mesmo depois de tanta decepção, mágoa, brigas, e todas aquelas coisas angustiantes de um término de relacionamento longo, só ficaram as coisas boas. Eles, mesmo sem terem a menor idéia do que se passa no meu dia-a-dia, me deram a prova de que eu não sou tão mal assim. Posso ter errado, ter feito barraco, chorado demais, enchido o saco além do limite, mas eles me enxergam como algo positivo. Torcem por mim e me lembram com os dentes à mostra.

2 comentários:

Carol Barata disse...

Bem, eu sinceramente os prefiro bem... bem longe, como diria a Sofia. E a idéia de depilar os pêlos com cera fria cabe bem direitinho com meu sentimento por eles... (L)


hahahahahah

9 de maio de 2008 às 04:32
Vivi disse...

Eu como uma boa protagonista de novela mexicana, quase chorei agora, é foda né? Mas pelo menos eles ligaram no momento que até te fez bem.. já pensou se o objetivo das ligações fossem outros? Te xingar porque descobriram um chifre, cobrar uma grana que tava esquecida hehehe, é neguinha, bons ex.. se bem que bom ex, é ex longe né?

enfim.. =*

9 de maio de 2008 às 10:20

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