sábado, 31 de maio de 2008

Um belo dia resolvi mudar

Por Anna Carla Ribeiro

* Dia 23 de julho de 2005, veraneio paraense. Belém do Pario, como todo e qualquer final de semana deste mês, é o mais perfeito cenário de uma cidade fantasma.

Domingo. Sempre tive uma raiva abundante do primeiro dia da semana! Que pra mim, aliás, é o último. Duvido que mais de 15% da população brasileira iniciem a semana domingo! E este é o motivo pelo qual as dietas, os trabalhos, e os demais afazeres quase sempre começam na segunda-feira. Desde criança domingo era sinônimo de calor e tédio. Era um dia em que não se podia fazer grandes estripulias pelo simples fato de que na segunda-feira a rotina voltaria ao normal. Tínhamos que passar a véspera sofrendo antecipadamente a chegada dos nossos compromissos. Pra completar, tive um inimigo no colégio com o sobrenome “Domingues”. O cara conseguia me irritar tanto quando aqueles dias repugnantes! O que futuramente resultou em um certo avesso aos derivamos: “Domingos”, “Domiguete” e assim vai...

De lá para cá, as coisas mudaram. A ressaca deixou os domingos da minha vida mais quentes e tediosos do que nunca! É o dia em que é preciso parar de pintar o sete na intensa boêmia belenense para se encher de engov e água de coco. Apesar dos pesares, deixei de odiar os domingos da minha vida e passei a enxergá-los como uma terça-feira, por exemplo: aquele dia que não fede e nem cheira; não vai, nem racha; não fode e nem sai de cima. Seria injusto continuar odiando os domingos. A vida me proporcionou alguns maravilhosos, que até pareciam sextas-feiras e sábados!

Pois bem, voltemos então ao contexto: calor, cidade deserta, domingo. Tudo para ser um dia monótono, sem graça. Onze da manhã, finalmente levantei da cama. Já tinha acordado umas quatro vezes, mas me deixei curtir um pouco mais a brisa no rosto e o macio do lençol enroscando meus pés.

Talvez tenha surgido daí a idéia de fazer um dia diferente.

Sozinha em casa, ou melhor, sozinha na cidade, era melhor arranjar uma companhia que nos últimos dias era ausente: a minha. Comecei a agradar-me pelos ouvidos: som no último volume, só as melhores músicas. Os vizinhos?! Ah, decidi ter um dia para pensar só em mim! Com certeza os poucos gatos pingados que se encontravam no meu prédio não reclamariam de um pouco de vozerio no meio de tanto silêncio.

Quando me vi, já estava cantando e dançando na frente do espelho. Fazia caras e bocas, inventava passos, imaginava situações para contracenar o momento. Ria das minhas próprias besteiras, falava sozinha, pulei na cama feito criança, gargalhei. O coração ficou enorme, a felicidade reinou. Não precisei de absolutamente nada além do que eu já tinha para me sentir verdadeiramente feliz.

Fui para o chuveiro, peguei todos os cremes, condicionadores e outros cosméticos da minha mãe. Os Beatles me faziam viajar por décadas nunca vividas, e me pegava berrando “yeah, yeah, yeah” no banheiro. O "banho de beleza" improvisado mexeu com meu ego, me senti poderosa. É impressionante como toda mulher esquece as crateras na bunda e as rodas de caminhão na barriga quando faz esse tipo de coisa!

Já eram quase 13h quando resolvi almoçar. Ah, a comida também tinha que ser diferente! Danem-se as calorias e as poucas posses que eu tenho até o final deste mês! Eu ia comer o que eu desejasse, e assim foi feito! Pedi uma boa macarronada por telefone, saboreei cada pedaço.

Depois resolvi sentar-me aqui, em frente a esse computador, para contar a mim mesma essa experiência. Foi inevitável refletir sobre alguns erros cometidos. Havia meses que eu sacrificava o meu presente para focalizar-me num futuro perfeito. Havia tempos em que eu procurava a felicidade longe de mim.

2 comentários:

Carol Barata disse...

Lembro de um belo dia que resolvi um texto enorme que estava no teu fotolog e por acaso, era esse o texto...

;)

Muito bom.

2 de junho de 2008 às 05:38
moara disse...

Um belo dia a gente tem que curtir a si mesmo..
Geralmente sabados e domingos são excelentes dias para isso.

muah!

2 de junho de 2008 às 14:27

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