quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Cafageria

Por Lunna


Eu já sabia. Quer dizer, tinha dúvidas até entrar naquela festa e te cumprimentar. Mas quando isso aconteceu, eu já sabia. Teus olhos me contaram absolutamente tudo o que eu queria saber. E me arrancaram o vestido pra longe do palco. E me comeram ali mesmo, porque mesmo que eu ache que nunca é comigo, dessa vez eu tinha certeza. Os goles de uísque, misturados com cerveja, só fizeram confirmar. E então paramos de nos esbarrar de propósito e ficar um do lado do outro sem falar nada. Foi fácil quebrar o gelo. Foi fácil porque tudo o que transborda em ambas as partes é a coisa mais simples do mundo.

Foram meia dúzia de besteiras no diálogo mais idiota e sem sentido que eu já tive. Mas eu gostei, e teus olhos subiram meu vestido e puxaram meu cabelo. Me tiraste pra dançar e não desgrudamos mais até o fim da noite, o início do dia, não sei bem. E discutimos a nossa relação, a nossa curta relação, como se fizéssemos piada. E éramos completamente errados, mas não conseguíamos disfarçar o deslumbre do nosso encontro. E eu me impressionava com a grandeza dos teus olhos, todas as vezes que eles tentavam passar a mão por debaixo da saia preta de cetim.

Nada de romantismo. E eu gostei disso. Foste o cara mais direto de todos, o mais cafajeste e o que menos me subestimou. Nada de princesinha, lindinha, bonequinha. Um verdadeiro cara de pau. E eu gostei de tudo isso, mesmo escondendo de ti com os meus piores palavrões (que, diga-se de passagem, eu também adorei). Me olhavas como quem olha com a cabeça debaixo, e não conseguias te desviar. E eu me senti a Sharon Stone em Instinto Selvagem, só que com calcinha. E tu não podias me tocar porque era errado. E mesmo assim me comeste a noite inteira com teus olhos de caminhoneiro tarado.

Entrei no carro me sentindo a última cerveja da grade. Da festa, da cidade, do mundo. Como me fazes bem me olhando desse jeito. Eu adorei. Adorei porque contigo eu sou safada. Porque eu me sinto a rainha do despudor e mais sexy que a boca da Angelina Jolie. Porque me achas tão doida, errada e imprudente que eu me sinto exatamente assim. E como é bom deixar de ser aquela menininha tão sensível e cheia de sonhos parecidos com os de todo o mundo. E mais maravilhoso ainda é chegar em casa rindo, com o ego nas estrelas e sem idealizações nem mesmo de uma ligação ou de um casamento. Nada, nada. Como é bom, meu Deus. Não sabes o quanto eu rezo para encontrar o amor da minha vida, o quanto eu me dedico a qualquer idiota que eu acredite ser o tal do amor, e o quanto já me fizeram mal por causa disso. Não sabes porque pra ti eu sou foda, muito foda, como me sussurraste baixinho. E contigo eu me sinto mesmo muito fodassa, fodona, fodérrima. Não sabes nem mesmo que eu odeio azeitona, que tem dias que eu trabalho mais de dez horas e que eu sinto muito frio domingo à noite, mesmo quando faz muito calor. E que eu fico mais bêbada com champagne do que com cerveja. E que eu me acho muito burra quando eu não consigo gravar as fotos do computador pro CD ou quando eu não consigo diferenciar o Corsa do Corola. E eu adoro. Nem preciso esconder isso de ti, porque teus olhos só conseguem me ver como uma loira gostosa, mesmo com a minha bunda mole e os meus flancos de Papai Noel. Também nem cogitas a possibilidade de eu ter te falado a verdade quando disse que nos últimos três meses eu só fiquei com dois caras. Tá bom, tá bom, foram três. Mas o último nem conta, porque foi só um beijo rápido. E tu achas que a minha listagem já chega ao trigésimo oitavo. E eu adoro. E teus olhos me comem como nenhum outro, e eu me casaria contigo se me prometesses esses olhares todos os dias da minha vida. Mas com a gente não existe nenhum pingo de filminho na manteiga. Contigo eu sou safada. E tu és o melhor cafajeste do mundo. E eu gostei.

2 comentários:

moara disse...

tão bom se sentir a safada.
adoro isso
=D

7 de fevereiro de 2008 às 18:51
Carol Barata disse...

Ah, se eles dessem esses olhares todos os dias eu até acreditaria na versão "vamos viver de cabana e amor" ...

12 de fevereiro de 2008 às 10:39

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