segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Vinte e poucas coisas sobre os vinte e poucos anos

Por Sofia Brunetta
(arquivo de guerreiras)Quinta-feira, Março 30, 2006

Li o texto de uma grande amiga, guerreira e integrante desse blog, Moara Brasil, que no auge de seus vinte e poucos anos, descreveu um pouco das características comuns a maioria de nós. E me tocou tão profundamente que desencavei ? Vinte e poucos anos? Na voz do Belchior (que é de longe a melhor versão dessa música) e me entreguei aos meus devaneios aqui publicados. Em horário de expediente. Um pequeno delito.Típico dos meus vinte e poucos anos.

Aos vinte e poucos anos estamos mais bonitas que aos quinze. Nossos cabelos parecem mais interessantes, e o figurino também (pelo menos até chegarmos aos trinta e nos apavorarmos olhando as fotos).

Aos vinte e poucos, nossas amizades são mais verdadeiras e sólidas. Você encontra afinal, o que passou a adolescência inteira procurando: sua tribo, sua cara, as pessoas que lhe aceitam ou convivem melhor com seus erros. Erra-se bastante aos vinte(e pela vida inteira), mas as intenções são menos auto-destrutivas e resultam em alguma atitude: você muda de religião, de time, de opção sexual. Faz um ménage a trois. Suas emoções são mais claras: você ama ou tolera sua família, seus vizinhos, a natureza, animais e os homens. Você se sente mais estruturada pra enfrentá-los. Aos quinze você mal conseguia emitir uma palavra interessante quando o objeto do seu desejo se aproximava. Agora você emite sons, impressiona (para o mal ou para o bem, leia-se), seduz, observa e se deixa observar com mais desenvoltura. E Sofre. Mas não parece mais que a caixa de chocolate e aquelas fotos dos momentos felizes são seu refúgio perfeito.

Aos vinte você vai a luta. Você cresce, estuda, trabalha, paga contas. Sonha com um futuro que não é mais tão distante assim. Os sonhos continuam no mesmo lugar, mas dão lugar a muitos aspectos da realidade que aos vinte, você aprende a experimentar. Mastigar. Estranhar. Deglutir ou Degustar.

Aos quinze você exagera. Todos os hormônios falam por você. Seu corpo muda.
Aos vinte você goza de momentos de exagero. De estupor absoluto. Depois você se penteia, sobe no salto e recobra a sensatez. Até o próximo sobressalto. Ou a próxima menstruação. Com seu corpo, que exercia um poder de Hierarquia Absoluta em torno do seu humor, você aprende a ser mais tolerante. Democrática. Você enxerga a beleza das formas. Do formato. Do cheiro. Do gosto. Se despe de mitos em torno dele. E na frente de quem você escolher também.

Aos vinte você bebe muito. Mas muito menos que há uns anos atrás, quando bebida era um gole do proibido. Quando você bebia seus tabus, as verdades que ensinaram pra você, os medos, o insano. E vomitava depois. Se você fuma, aos vinte já o faz com uma certa consciência, o que o torna menos ridículo, porque aos vinte a empolgação de outrora virou vício.

Aos vinte você experimentou uma porção de substâncias ilícitas. Você já sabe qual é a sua. Já recebeu todos os conselhos, puxões de orelha, panfletos. Na adolescência você faz furos. Se pinta. Tatua sua banda preferida. Aos vinte você faz outros, repinta, apaga, transforma. Tapa os buracos no corpo e na alma.

Ao vinte as coisas deixam de ser para sempre. As pessoas do dia a dia são passageiras. Involuntariamente. Você vai ver as pessoas fazerem aniversários cada vez mais caseiros. Com música ambiente. Você, que sempre defendeu a liberdade e o sexo com atitude, vai se emocionar no casamento dos seus amigos. Desejar parabéns pela gravidez ou nascimento do filho (talvez o segundo até) daquela sua colega de faculdade.

Você vai aprender que os colegas de trabalho, seu chefe, os vizinhos, o guardador de carros, não são pessoas do mal, nem do bem, portanto não estarão preocupados com seu sofrimento e suas angústias. Assim como você nem sempre é solícito.Você aprenderá a dividir o mesmo metro quadrado com pessoas que parecem odiar (e odeiam) você. Vai comer churrasco frio de confraternização e sorrir.

Aos vinte as baladas ganham outro sentido. Gelo seco faz seu olho arder. Música de boate não diverte depois de um dia inteiro de problemas, de resolvê-los do alto de seu salto agulha. Voz e violão, ou simplesmente seu travesseiro viram diversão.

Mas você tem apenas vinte e poucos anos, sua natureza não é tão velha assim, então você recebe um daqueles telefonemas mal intencionados, encara o mesmo salto e volta a luta, imaginando que os trinta estão distantes.
Mas isso será assunto interessante pra nós de vinte e poucos, daqui a uns poucos anos.

Até lá.

4 comentários:

Carol Barata disse...

É.
É somente o que posso dizer. Que simplesmente
É
assim
E que dói hoje, em mim, pensar que estou mais para os 30 do que para os 20.
Nada de sofrimentos pela idade. Meu renew advanced ainda funciona nas minhas olheiras profundas com pitadas de marcas de idade.
mas dói, muito mais, por não poder mais ter como trunfo isso: os meus vinte e poucos anos que durante alguns anos, foram nossos.
Todos nossos.
os nossos 20 e poucos anos e alguns anos de descobertas e viagens homéricas-psicodélicas-paupérimas pelas descobertas que queríamos ou não.
Amei, Sol. Mas amei mesmo teu texto.
Então, até lá.
amo-te.

12 de fevereiro de 2008 às 10:01
moara disse...

eu realmente gosto muito desse texto.

12 de fevereiro de 2008 às 11:21
monique disse...

mto bacanaaa

esse textoooo


ameiiiiiiiii


bzuuu=]

26 de março de 2008 às 11:39
Amanda disse...

Simplesmente maravilhoso texto..perfeitooooooo

15 de abril de 2008 às 11:28

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