domingo, 6 de abril de 2008

Assim caminha Luiza

Por Moara Brasil

Luiza se entregou ao o que der e vier. Já não cuidava mais do seu cabelo como antes, deixou ficar selvagem, mas ela ainda continuava muito bonita, morena e com uma estrutura física de causar inveja à qualquer mulher e despertar o anseio de qualquer homem, um corpo parecido com o da Juliana Paes, mulher como popularmente denominam de "gostosa".

Ela colocava um short jeans, uma regata pink e aquelas plataformas de sempre quando resolvia aparecer para o mundo. Gostava de tudo o que a não fizesse refletir muito, por isso sempre curtia aquelas mesmas batidas, que davam para ela energia e movimento. Queria curtir a velocidade desse mundo contemporâneo, e como era bom correr contra o vento. Ela apreciava e provava a vida com todo o gosto. E assim ia consumindo com toda a leveza, como se o mundo estivesse voltando para um tempo em que ela não tinha vivido ainda. Porque ela queria viver mais, e abraçar tudo o que ela julgava inalcançavel para os seus olhos ainda de menina.

Era simples, pura leveza. Puro cigarro malboro na boca e trident no bolso. E quem não a entendesse, mandava um simples "ora vai pra merda e não enche...". Mastigando sempre aqueles chicletes. Adotou essa personalidade nas relações familiares e assim seguiu numa linha progressiva. Toda aquela personalidade que ela havia construido até chegar aos seus 20 anos já não era mais a que todo o pai deseja de um filho, os primeiros goles de cevada fizeram Luiza não ser mais incubada. E os pais tentavam buscar erros, e sempre justificados. Mas não havia explicação, foi simples, foi assim, de repente como um acidente, imprevisível. Decisão de Luiza.

Mas a menina tornou-se frágil, e não compreendia o porquê de se entregar tão gratuitamente para o mundo. Gostava de viver o momento. E cada dia como o último, como o último dia do calendário da agenda. Mas ela não tinha agenda, quanto mais calendário.

E tudo tornou-se bens de consumo não-duráveis. E sua vida tornou-se um grande ciclo de novidades.
Era melhor cultivar os amigos do momento, e quando se enjoava, descartava-os e considerava-os ultrapassados para o que ela necessitava, a cada hora, a cada minuto. Jogava-os na lixeira, sem direito à reciclagem. Foi Jorge, alto e corpo de atleta. Foi João, magro e inteligente. Foi Luan, cheio de olheiras, meio bipolar e rodeado de entorpecentes.

E como era fácil para Luiza comprar felicidades. Ela comprava e esnobava aqueles míseros reais que depositavam todo todo o mês no seu cartão visa. Porque o mais interessante era comprar ilusões, pílulas anti-depressivas, e grandes doses de felicidades.

Luiza era sonhadora, quando falava dos seus planos para o futuro, seus olhos se enchiam de grandeza e ingenuidade. Mas era só ela deixar o copo quebrar, lá naquela casa em que se hospedava, e voltava para a pista. Voltava com outra plataforma, fechava os olhos, e sempre deixava os cacos de vidro no canto da cozinha. E os cacos cresceram de quantidade, e feriram todas as partes daquele corpo saudável. Ela não sentia mais dor, e o bacana era colecionar cicatrizes.

E os dias corriam mais rápidos, mas de um jeito lento. Todos observavam Luiza, todos falavam Luiza. A sua fisionomia estava intragável. E já não desejavam mais a sua companhia. Seu corpo diminiu grandes quilos, estava doente. Luiza estava anestesiada. E no meio da pista, ela rasgou toda a regata. Gritou para os rapazes, xingou para si mesmo, pegou a mochila e saiu andando por aí sem aquela leveza de sempre, mas pesada e determinada à sair daquele lugar, caminhando para uma direção não mais progressiva...que só Deus sabe para onde.

6 comentários:

Lucas disse...

Engraçado. Vemos um pouco de Luíza em um monte de gente, e por quê não, em nós mesmos.

É perigoso quando os cacos ficam em grande número, sem o nosso controle. O risco é exatamente se eles não causarem mais a dor que deveriam ...

Ser um lado Luíza nem é, de todo, a merda. A merda é viver exclusivamente uma "vida Luíza", pois a gente acaba esquecendo de coisas pequenas, simples, mas que tem um enorme valor. Acabamos deixando passar outros momentos que podem, de uma forma diferente, ser igualmente intensos. Acabamos deixando de nos relacionar com outras pessoas que têm muito a nos oferecer.

Melhor é limpar os nossos cacos. Ou então, ajudar a quem queremos bem a juntar seus cacos, mostrando que as coisas ainda valem a pena. Do contrário, o que poderia ser intenso acaba virando superficial e descartável.

Beijo na índia =)

7 de abril de 2008 às 09:11
moara disse...

é verdade, ela é um pouco de vários...uma mistura do que todos já viveram um pouco, essa vontade de vida sem saber para onde caminha.

=p

7 de abril de 2008 às 10:47
Carol Barata disse...

Intenso e ponto.
Parece um pouco com uma cria minha que está em processo de nascimento há semanas.... não consigo terminar! Quanto mais escrevo dessa história, mais quero escrever. Aguarde que lerás! Mas não virá para o Ohvários, hehehehe.
É muito grande, muito intenso e meio biográfico... Totalmente diferente dos demais textos que escrevi.
me aguarde.

saudades de ti, apache.

amo-te.

=o*

11 de abril de 2008 às 06:44
lora disse...

depois de saber da inspiração: HAHAHAHAHAHAHAH

você é demais artista

22 de abril de 2008 às 13:37
lora disse...

que texto intrigante, vou comentar antes que me contes a inspiração.

eu lembrei de gente que amo e gente que odeio leio isso. e achei tão lindo, forte, intenso.

boa essa...

:**

22 de abril de 2008 às 13:37
moara disse...

eu sou observadora Lora, observadora.


ahhahahhahahha!

26 de abril de 2008 às 22:19

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