terça-feira, 15 de abril de 2008

Ronalda

Por Sofia Brunetta

Ronalda é uma pessoa incomum. Personalidade de estrela, conhecida no conjunto. Um monte de gente acena para ela. Do alto de seu 1,56 ou 1,57, ela mantém o passo.
Vê o mundo a seu redor como uma grande oportunidade de encontrar um novo amor ou a patroa de seus sonhos. Sempre foi doméstica. Doméstica mesmo, que nunca viu alguém ser “secretária do lar” ou um destes termos modernos que não enchem o prato.
Todo dia ela acorda cedo e faz a sua caminhada: short de lycra, camisa do candidato, ela tem pressa de deixar as pernas firmes e ser feliz. Nesta hora é madame, senhora do seu destino, escolhe o seu caminho. A parada. 217,678. O 715 é sempre melhor pra arranjar namorado. Nunca pega o 456, seu ex e atual desafeto é o cobrador.
Arrependimentos? Só por ter tatuado o nome do pai de seu quarto filho no braço. ”Que nem a atriz.” Passada a febre de paixão, “Infeliz” seria mais apropriado.
Teimosa, ela decide por conta própria a arrumação de cada casa. Conta o caso. Ouve atenta. Arruma a bagunça, não limpa debaixo da geladeira. Dá azar. Estica o lençol com precisão matemática. Reclama de cambraia. Cobra a mais da patroa desavisada. “Pelo mau gosto!” Gosta de cetim de seda. Lembra da avó costurando o vestido de missa. Sua religião é pagar as contas. O Padre que reza o sermão é o que paga a melhor diária.
Ela é cientista. Sua alquimia deixa branco até a gola do patrão. Não existe batom que perdure. Rende um agrado, pelo bem das unhas, claro.
Quando sai à tardinha, já deixou a janta pronta. Cozinhou o que de melhor tinha. Ninguém deve guardar na despensa, não sabe se vai acordar vivo. Ela vive. Aumenta o volume, capricha no batom de uva. Folheia o catálogo da vizinha. Soutien, chinela, material de manicure. Boa idéia de novo negócio para os dias vagos. Cheios de planos.
Um dia ela vai ser rica. Dormir em lençol de cetim. Comprar uma sombrinha maior: “-Coisa de pobre, não de madame, né? Coloca aí: Uma sombrinha maior... e uns “homão” pra pisar encima e não molhar os pé.”

1 comentários:

moara disse...

eu conheço uma igual
e elas sempre são mais felizes.

15 de abril de 2008 às 13:42

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